Herbário

Cacau

Alimento dos deuses

  • Na cultura Maia (América Central) e Asteca (México), o cacau era considerado um alimento divino para o corpo, a mente a a alma. Ele seria capaz de nutrir todos os sentidos e nos conectar com o poder do nosso coração.
  • Seu nome científico Theobroma cacao significa “alimento dos deuses”. A árvore do cacau pertence a Família Malvaceae e começou a ser cultivada no norte da América do Sul entre 10 e 15 mil anos atrás. A planta se desenvolve bem em florestas equatoriais.
  • Tem plantações de cacau na África Ocidental – onde estão os países que mais fornecem sementes para o mundo: Costa do Marfim e Gana -, na Indonésia, no Equador, na Colômbia e também aqui no Brasil, onde se concentram no sul da Bahia. No romance Gabriela, de Jorge Amado, ficou claro que a economia de Ilhéus, no sul da Bahia, gira em torno da produção de cacau.
  • Ele é usado no preparo de diversas bebidas e medicinas sagradas que são usadas em datas comemorativas, rituais de passagem, celebrações de estações e casamentos.
  • Os espanhóis levaram ele para a Europa onde foi misturado ao leite e ao açúcar, dando origem ao chocolate como conhecemos hoje.
  • Segundo lendas, o cacau tem o poder de descalcificar a glândula pineal, ativar nosso terceiro olho, elevar a nossa frequência e sincronizar nosso espírito na energia do amor.
  • Ele é considerado um alimento afrodisíaco pois contém diversas substâncias (como feniletilamina, teobromina, cafeína e serotonina) que agem no nosso corpo estimulando sensações de bem-estar, amor, alegria e prazer, além de dar energia e força.
Poupa de cacau

História

I) Povos pré-colombianos

  • As sementes eram tão importantes para os nativos da América Central que eram usadas não apenas para alimentação, mas também como elemento de troca e em cultos religiosos.
  • Os primeiros registros de bebidas achocolatadas mais conhecidas e mais intensamente estudadas é das sociedades no sul do México e na América Central, como os povos olmecas e os maias. No entanto, existem evidências que indicam cultivo anterior a esse período. 
  • Desde a sua domesticação, o cacau é usado como bebida e, depois, como ingrediente para alimentos. Durante a civilização maia, era cultivado e, a partir de suas sementes, era feita uma bebida amarga chamada xocoatl, geralmente temperada com baunilha, mel, pimenta e algumas flores. O xocoatl, acreditava-se, combatia o cansaço, além de ser afrodisíaco.
  • A palavra chocolate provém do castelhano chocolate, que por sua vez foi originado a partir de línguas indígenas mesoamericanas. Contudo, sua origem não é completamente esclarecida, existindo versões diferentes para tal. Segundo a primeira, o termo derivaria de chocola’j (ou  chokola’j), que significa “beber chocolate juntos”. Alguns dicionários afirmam que a palavra vem da língua náuatle, a língua dos astecas, no caso, xocolātl (/ʃo.ko.laːtɬ/), que, por sua vez, é resultado na fusão de xococ “amargo” + atl “água”.
  • Na época asteca, o xocóatl era conhecido, como muitos termos mexicanos, na forma de uma metáfora: yollotl, eztli – “coração e sangue”. Na verdade, há alguma semelhança no formato entre um coração e uma vagem de cacau, pois os astecas contêm líquidos preciosos, e a vagem de cacau às vezes era usada simbolicamente pelos mexicanos para representar o coração humano sacrificado. 
  • O ‘x’ em xocóatl é pronunciado como um ‘sh’ inglês, e o acento deve estar no ‘o’ do meio. No entanto, xocóatl – que significa “água amarga” – não era realmente o nome asteca para sua bebida de chocolate tão especial. A palavra original em náhuatl era cacáhuatl , uma combinação de cacahua (origem da nossa palavra cacau ou cacau) e atl (água ou líquido). xocóatl é uma explicação plausível para a origem primeiro da palavra espanhola chocolate e posteriormente da nossa palavra ‘chocolate’, mas é apenas uma teoria. 
  • Outra é que os espanhóis pegaram a palavra maia chocol (que significa quente) e combinaram-na com o náhuatl atl – novamente bastante possível, já que os europeus tiveram contato com a bebida pela primeira vez através dos maias, antes de conhecerem os astecas. Mas por que combinariam palavras de duas línguas diferentes? Uma teoria é que eles poderiam evitar usar uma palavra que comece com caca (que significa cocô em espanhol).
Kakaw (‘cacau’) escrito na língua maia. A palavra foi escrita de diversas outras maneiras nos antigos textos maias.
Muitas palavras inglesas sobre comida que usamos todos os dias na linguagem comum são derivadas do vocabulário asteca/mexica. Por exemplo, chocolate, tomate, pimenta e abacate vieram do Náhuatl via espanhol.
  • Alguns dos vestígios mais antigos de uma plantação de cacau foram datados de 1100 a 1 400 AEC, tendo sido encontrados em Puerto Escondido, localidade do Departamento de Cortés, em Honduras. Pelo tipo de recipientes encontrados e pela análise de seu conteúdo, concluiu-se que eram usados para produzir uma bebida alcoólica pela fermentação dos açúcares contidos na polpa que envolve os grãos, bebida essa que continua a ser feita até hoje em partes da América Latina. 
  • Resíduos de chocolate encontrados numa peça de cerâmica maia de Río Azul, na Guatemala, sugerem que já era utilizado como bebida por volta do ano 400 EC. Documentos maias e astecas relatam que o chocolate era usado tanto para fins cerimoniais como no cotidiano, sendo, no entanto, consumido apenas pela elite. Pelo seu valor e poder de intoxicar a bebida achocolatada não era consumida pelas pessoas comuns nem pelos pobres da sociedade asteca. Na verdade, se um plebeu bebesse chocolate, ele seria executado! Era conhecido por ser supernutritivo (era considerado “frio” e “pesado” de acordo com os antigos conceitos mesoamericanos) e era fornecido aos guerreiros para lhes dar energia para as suas campanhas de campo.
  • Segundo o filólogo mexicano Ignacio Davila Garibi, os espanhóis criaram a palavra usando o termo Maia chocol juntado com o termo asteca atl, que significariam chocol (quente) com o atl (água). Esta última versão é reforçada pelo fato de que, no final do século XVI, a bebida começou a ser conhecida na Europa, mas não com o nome cacau (que era a palavra de origem maia, mas adotado também por Astecas e outros povos mexicanos), mas como chocolate, aparentemente um neologismo cunhado pelos espanhóis a partir dos termos maia e asteca que seria traduzido, literalmente, como água quente.
  • Segundo o site do Museu Field, em Chicago, que tem uma exibição que conta a história do chocolate, nas culturas maia e asteca a semente do cacau era oferecida aos deuses e as bebidas com chocolate eram servidas em cerimônias sagradas.
  • O professor de nutrição da Universidade da Califórnia e co-autor de “Chocolate: History, Culture, and Heritage”, Luis Grivetti, explica que achados arqueológicos indicam que os maias enterravam jarros de chocolate com os mortos. “O chocolate tinha um significado medicinal, social, e religioso para eles.”
  • Os Maias usavam os grãos como moeda. Dez favas valiam um coelho e por 100 favas de primeira qualidade adquiria-se um escravo. Durante o Império asteca (1325 a 1521 AEC), sementes de cacau eram uma forma importante de divisas e meio de pagamento de tributos. Um dos principais objetivos da expansão imperial dos Astecas na direção sudeste, durante o século XV, havia sido o de controlar as regiões produtoras de cacau no Istmo de Tehuantepec e no litoral sul da Guatemala.
  • Diz um cronista quinhentista que os armazéns de Montezuma II, em Tenochtitlán, continham mais de 40 mil cargas de amêndoas de cacau, algo estimado em torno de 1 200 toneladas. Grande parte desse tesouro destinava-se a pagar o soldo dos guerreiros e também alimentá-los: Bernal Diaz, o soldado de Cortés e narrador da conquista, informou que somente a guarda do palácio consumia diariamente mais de 2 000 taças da bebida. Seu uso como meio de pagamento continuou até ao século XX, pois em algumas partes da América Central, o cacau ainda era usado como dinheiro.
Castanhas de cacau e barra de chocolate.
  • No Brasil, o cacau também era considerado pelos índios tupis e guaranis como remédio e estimulante. Quem explica é o especialista Timothy Walker, professor de História da Universidade Dartmouth de Massachusetts. Segundo ele, os colonos portugueses e os missionários jesuítas foram os primeiros a cultivarem os cacaueiros. “Nos séculos XIX e XX, Ilheus, na Bahia, se tornou o centro de produção de cacau do mundo. No entanto, não havia muito comércio para o produto no Brasil”, contou o professor.

II) Povos colonizadores

  • As primeiras referências ao cacaueiro e a seus frutos foram encontradas nos relatos dos colonizadores que seguiram Cristóvão Colombo. Foi no golfo de Honduras que Cristóvão Colombo, em sua quarta viagem (1502), abordou algumas grandes canoas maias carregadas de panos de algodão, armas, utensílios de cobre e amêndoas de cacau que, segundo o navegador, “eles pareciam ter em grande apreço“. Contudo, somente com a conquista do império Asteca por Hernán Cortés em 1519 que os espanhóis descobriram sua utilização e logo depois o levaram para a Espanha.
  • Os indígenas o tomavam na forma de uma bebida fria, sem nenhum adoçante e, naturalmente, sem leite, o que a tornava desagradável ao paladar europeu, que a consideravam muito amarga. A adição de açúcar de cana, canela e anis a fizeram mais apetecível e ela passou a integrar a dieta criolla  tornando-se cada vez mais apreciada. “A bebida quente foi inventada pelos espanhóis e tomou o nome de chocolate em diversas línguas européias”, escreve Henrique Carneiro, doutor em história social pela USP, no livro “Pequena enciclopédia da história das drogas e bebidas”.
  • O primeiro carregamento comercial ocorreu em 1585 a partir de Veracruz para Sevilha. Por quase 100 anos, o preparo da bebida permaneceu como um segredo espanhol, e apenas a aristocracia local tinha acesso ao caro produto, até que foi finalmente introduzido na Itália em 1606 e, a partir daí, na França.
  • Durante o século XVII o chocolate, consumido inicialmente apenas como bebida, passou a ser usado também em forma de doces. Tornou-se uma iguaria apreciada pela nobreza europeia. Na Inglaterra, a primeira chocolataria foi inaugurada em Londres, em 1657. As “casas de chocolate” britânicas eram idênticas às já florescentes “casas de café”. Essas casas eram, muitas vezes, cena de jogos, intrigas políticas e distração, tanto que uma casa de chocolate (a White’s) foi um dos cenário da série de pinturas “Rake’s Progress” de Hogarth.
  • Logo a bebida se tornaria popular e as “casas de chocolate” se espalharam por toda a Europa. Nos séculos XVII e XVIII o chocolate foi considerado tanto um alimento como um auxiliar da digestão. Por longo período, os espanhóis cultivaram cacau na América Central usando pessoas africanas escravizadas.
Casa de Chocolate britânica.
  • Para melhor conservação durante o transporte marítimo, foi adotada uma forma de preparo que já era conhecida dos guerreiros astecas durante suas longas marchas: o pó era prensado em forma de biscoitos ou tabletes, que no momento do consumo eram derretidos em água (no caso dos espanhóis, quente e adoçada). Mesmo assim, os espanhóis presentes no México levaram algum tempo para se acostumar à bebida de cacau. Cortés teve que impor-lhes seu uso, pois, como escreveu ao imperador Carlos V, “uma taça da preciosa bebida permitia aos homens caminhar um dia inteiro sem necessidade de outros alimentos“.
  • Com o passar do tempo a demanda cresceu e já não era mais suficiente a produção do México. Ainda no século XVII, os exportadores espanhóis passaram a introduzir sementes na região de Guayaquil, no Equador, e principalmente na Venezuela. Aí, com a farta mão-de-obra escravizada, foi desenvolvido cacau de Caracas, reconhecido por sua qualidade, que era exportado oficialmente pela Compañía Guipuzcoana. Paralelamente a este comércio oficial, o contrabando holandês era fonte de divisas para o porto de Amsterdã. A receita também se reproduzia nas ilhas do Caribe, em Trinidad e São Domingos. Além desses estava começando a ser produzido também pelos portugueses no Pará, com exportações para Hamburgo.
Casa de chocolate britânicas eram lugares para a aristocracia.
  • Com o aumento do consumo e pelo grande valor do produto, logo a França, Inglaterra e Holanda estavam cultivando cacau nas suas colônias caribenhas e depois em outros lugares do mundo. Com o aumento da produção os preços caíram e a bebida tornou-se ainda mais popular. A produção inglesa se iniciou após a tomada da Jamaica em 1655, tendo o cacau passado a chegar regularmente e a um custo menor aos cafés londrinos. Quatro anos depois um jornal da cidade publicava a propaganda de um comerciante: “O chocolate, uma excelente bebida das Índias Ocidentais vendida em Queen’s – Headelley… é muito apreciado por suas excelentes qualidades. Ele cura e protege o corpo contra muitas doenças, como se lê no livro que também está à venda”. 
  • No mesmo ano de 1659, Luís XIV concedeu a David Chaliou, oficial da marinha, o privilégio de “fabricar e vender, por 19 anos, uma composição que se chamava chocolate“. Nascia, assim, a primeira fábrica francesa de chocolate. 
  • Além de ser caro, o chocolate também foi indicado por médicos como remédio para algumas enfermidades. Há até quem diga que algumas doenças do cardeal Richelieu foram ‘curadas’ com chocolate. Em 1689, o médico Hans Sloane desenvolveu na Jamaica uma bebida à base de leite com chocolate que foi inicialmente usada por boticários. Posteriormente, em 1897, a formulação foi vendida aos irmãos Cadbury.
  • Segundo o professor Grivetti, por ser remédio e comida, o chocolate colocou a Igreja Católica em uma situação difícil quanto ao jejum eclesiástico. “Sendo usado tanto para curar quanto como alimento, o chocolate gerou controvérsias sobre a possibilidade de ser ingerido durante o jejum. A resposta dependia se a pessoa consumiu ou não algo junto com o chocolate. De qualquer maneira, os padres eram proibidos de beber chocolate antes da missa. Também há muitos documentos da época da inquisição que citam o chocolate.”
  • Como tanto o cacau quanto o açúcar eram importados – e caros -, apenas as pessoas ricas podiam comprar o chocolate. Assim, a bebida se tornou símbolo de status pela elite de toda a Europa. No começo do século XVIII, o chocolate se tornou artigo de moda e a árvore de cacau virou nome de praças e locais públicos.
Semente do cacau.
  • No século XVIII, a expansão da burguesia e do comércio colonial fizeram crescer ainda mais o consumo na Europa, ao lado do chá e do café, alcançando setores cada vez mais amplos da classe média. Em 1772, só em Madri havia 150 moedores de cacau, organizados em corporações inclusive para se defender da concorrência desleal daqueles que o misturavam com amêndoas, pinhões e bolotas.
  • Até então o cacau ainda era moído manualmente, à maneira dos astecas, mas no mesmo ano de 1772, na colônia americana de Massachusetts, surgiu o primeiro moinho hidráulico, do qual o cacau saia em forma de tortas. 
  • Em 1765 surge a primeira fábrica de chocolate nos Estados Unidos, a companhia Baker’s. Assim nascia uma indústria chocolateira, com os processos mecânicos substituindo os métodos artesanais. Em 1778, o francês Doret desenvolvia uma máquina para moer, misturar e aglomerar a massa de cacau.
  • Em meados do século XVII, devido ao desastre demográfico e à estagnação econômica, a Nova Espanha havia decaído como principal região produtora. As planícies litorâneas do Equador, da Venezuela e das Antilhas tomaram o seu lugar, ao lado da Amazônia Portuguesa. 
  • Durante o século XVIII o cacau era o principal produto exportado pela Amazônia portuguesa: durante a administração jesuítica embarcavam-se anualmente para Portugal 80 000 arrobas (1 200 toneladas), “fora o muito que se gasta na terra e muito mais o que se perdeu por não haver já navios para ele“.
  • Nos anos seguintes esse volume caiu pela metade, mesmo assim, entre 1756 e 1777, ainda era responsável por 61% do valor dos embarques da Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, em Belém.
Logo da primeira fábrica de chocolate nos Estados Unidos da América.
  • Na primeira metade do século XIX, os portugueses, que já haviam levado o cacau para o Brasil, que se tornou o maior produtor nos primeiros anos do século XX, o levaram também para a Guiné, de onde ele iria difundir-se para outras colônias europeias da África Ocidental e mais tarde para o Sudeste asiático e para a Oceania. No final do século XX as maiores regiões produtoras estavam na África Ocidental.
  • Também ao longo dos séculos XIX e XX, o chocolate atingiu elevados níveis de qualidade em função dos diversos aprimoramentos realizados. Paralelamente à elevação da qualidade, os preços caíram atingindo setores maiores da população. Desse modo, o seu consumo cresceu de forma acelerada. Em 1850, por exemplo, foram importadas 1 400 tonelada de cacau pela Inglaterra, na virada do século essas importações multiplicaram-se por nove. 
  • A partir da segunda metade do século XIX surgiram os primeiros “empresários do cacau”. Entre esses destacaram-se membros das famílias Hershey, Caldbury, Fry, Rowntree, Cailler, Suchard, Peter, Nestlé, Lindt e Toble.
  • Em 1819, era construída em Paris pelo químico francês Pierre Pelletier a primeira fábrica que utilizava o vapor no seu processo de fabricação. No mesmo ano, François-Louis Cailler fundava em Vevey a primeira fábrica suíça de chocolate. Em 1831, Charles-Amédée Kohler estabelecia outra fábrica em Lausanne, também na Suíça.
  • Em 1828 o chocolateiro holandês Coenraad J. van Houten patenteou um método de retirada da gordura das sementes torradas. Com a sua máquina, uma prensa hidráulica, Van Houten conseguiu fabricar o cacau em pó. Depois, tratou esse pó com sais, como carbonatos de potássio ou de sódio, para facilitar sua mistura na água. O produto final tinha uma cor escura e um gosto suave. O cacau em pó tornou possível a fabricação do chocolate sólido.
  • Em 1849, o inglês Joseph Fry produziu a primeira barra de chocolate comestível. Nesse mesmo período foram desenvolvidos vários processos que contribuíram para criar o chocolate como é conhecido atualmente.
  • Em 1879, Daniel Peter, chocolateiro suíço, teve a ideia de usar leite condensado, inventado pelo químico Henri Nestlé em 1867, para fazer o chocolate ao leite. Nesse mesmo ano Rodolphe Lindt inventou um processo para melhorar a qualidade dos bombons de chocolate.
  • Em 1913 foi publicada pela Baker’s Company a primeira receita de “tabletes de baunilha”, um doce feito com manteiga de cacau, açúcar, leite e baunilha, depois batizada de “chocolate branco” que não leva cacau na fórmula, apenas a gordura tirada da semente. 
  • Durante as grandes guerras mundiais o poder energético e antidepressivo do chocolate é reconhecido pelo exército dos Estados Unidos e começa a fazer parte da “ração D” levada pelos soldados. Nos EUA, Forrest Mars lança o M&M’s em 1941, pastilhas de chocolate recobertas com uma camada de açúcar colorido. Ele tinha visto soldados espanhóis comerem algo parecido durante a Guerra Civil Espanhola. Atualmente a Mars é a maior compradora de cacau do mundo.
  • Nos últimos anos as grandes empresas têm passado por um processo de compras fusões e aquisições, o que tem impulsionado uma transformação na indústria dos doces. Após do negócio entre a Mars e a Wrigley, ocorreram outras 24 fusões de empresas menores. Além disso, a americana Hershey’s e a inglesa Cadbury, duas das maiores do mundo, também negociam os termos de uma fusão da qual sairiam com 15% do mercado e o primeiro lugar no ranking mundial. Juntas, a Mars e a Wrigley ficaram com 14,4%.
Forrest Mars lança o M&M’s em 1941, pastilhas de chocolate recobertas com uma camada de açúcar colorido no auge das guerras mundiais.

II) Povos pós-modernos

  • Apesar de ter sua origem no continente americano, a produção e o consumo de chocolate no Brasil foi introduzido pela colonização dos europeus que já haviam aprimorado suas formas de produção e consumo. A cultura cacaueira foi introduzida no Brasil no século XVII pelos portugueses, sendo um importante produto da Amazônia Portuguesa.
  • A partir do Brasil levaram-na também a Guiné, de onde ele iria-se difundir para outras colônias europeias da África Ocidental e mais tarde para o Sudeste asiático e para a Oceania. 
  • A produção do cacau nos séculos XVI e XVII era feita em plantations (que usavam trabalho escravo) em colônias tropicais. A partir de 1700, novas tecnologias permitiram a produção mais rápida do chocolate e, depois, do chocolate sólido. Dessa forma, o chocolate feito a mão deu lugar ao industrializado: mais acessível e com sabor diferente.
  • O cultivo brasileiro em larga escala teve início no século XIX, na região de Ilhéus, no sul da Bahia. As condições climáticas adequadas fizeram com que o país liderasse a produção mundial de cacau no período entre 1905 e 1910. 
  • Em 1993 a produção mundial de cacau in natura era de 2,5 milhões de toneladas (duas mil vezes maior que o tesouro de Montezuma), procedentes em 75% de cinco países: Costa do Marfim (840 000 toneladas), Brasil (300 000), Indonésia (280 000), Gana (240 000) e Malásia (195 000 toneladas) . 
  • Na safra internacional de 2000/2001 em função da existência de pragas nas cultura, especialmente a vassoura-de-bruxa o Brasil passou a ocupar o 5º lugar, com uma produção de 150 000 toneladas.
  • Carneiro escreve em seu livro que “atualmente, mais da metade da produção mundial de cacau vem da África ocidental, especialmente da Costa do Marfim, o maior produtor mundial, seguido de Gana e do Brasil”.
Produção de cacau no mundo.
Produção de cacau no Brasil.
  • Somente a partir da segunda metade do século XIX algumas fábricas foram instaladas no Brasil. Em Porto Alegre os irmãos imigrantes alemães Franz e Max Neugebauer, juntamente com o sócio Fritz Gerhardt, fundaram a empresa Neugebauer Irmãos & Gerhardt em 1891, a qual é a mais antiga fábrica brasileira de chocolate.
  • Em 2008, a Nestlé, a Mondelēz International (antiga Kraft que também possui a Lacta) e a Garoto detinham 90% do mercado brasileiro, enquanto a Mars conta com 3% e o restante do mercado é tomado por centenas de companhias regionais. A Mondelēz é a segunda maior fabricante de chocolates do Brasil, com 35,8% das vendas em 2009, segundo a Nielsen, atrás apenas da Nestlé e de sua controlada, a Garoto, que têm 22,5% e 22% do mercado, respectivamente. 
  • A Nestlé anunciou a compra da Garoto em fevereiro de 2002, em negócio, na ocasião, de cerca de R$ 566 milhões que combinava a segunda e a terceira maiores fabricantes de chocolate do Brasil. Apenas em 2023, mais de 20 anos depois, o Tribunal do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou a proposta de acordo da Nestlé para compra da brasileira Chocolates Garoto, abrindo caminho para fim de processos do grupo suíço que teve a transação barrada inicialmente pelo órgão de defesa da concorrência em 2004.
  • Além dessas existem outras marcas, são 21 redes que trabalham com chocolate e buscam expansão através de franchising. Atualmente o Brasil é o quarto produtor mundial de chocolate. 
  • Um teste realizado pela PRO Teste, em novembro de 2010, com algumas marcas brasileiras de chocolate ao leite revela que o chocolate produzido no Brasil possui boa higiene e qualidade nutricional, além de bom sabor. No entanto, a organização reivindica das autoridades que regras mais claras sejam definidas para garantir a qualidade e a identidade dos chocolates, tendo em conta a quantidade elevada de sacarose detectada.
Mondeléz International é dona de diversas marcas, incluindo a Lacta.
Três principais marcas no Brasil, que a partir de 2023 com a compra da Garoto pela Nestlé, diminui ainda mais a concorrência.

Preparo do chocolate

I) Tipos de cacau

  • Criollo – Quando os espanhóis chegaram ao Império Asteca, o cacau que encontraram foi essa variedade nobre, de aroma extremamente refinado, responsável por alguns dos melhores chocolates do planeta. O chocolate criollo, por outro lado, é bem frágil. Muito suscetível a doenças, rende colheres pequenas e tem um cultivo mais complicado. Por isso, é  coisa rara – e cara -, o chocolate feito com ele vira iguaria gastronômica.
  • Forasteiro – No que os europeus se apaixonaram por chocolate e decidiram levar os cacaueiros a sério, perderam a paciência com a delicadeza do criollo. Preferiram, então, o forasteiro, uma variedade mais resistente e produtiva – que hoje é plantada principalmente na África e responde por cerca de 80% das sementes do mundo. Mas que fica distante dos sabores mais sofisticados do seu concorrente nobre.
  • Trinitário – É a tentativa da engenharia agrícola de combinar as melhores características do criollo e do forasteiro: um aroma mais sofisticado numa planta resistente e fácil de se cultivar. No Brasil, é a aposta para expansão dessa lavoura, já que apresenta resistência contra a praga vassoura-de-bruxa, que deu um duro golpe na produção brasileira de cacau nos anos 1990.
Diferentes formas do chocolate.

II) Etapas de produção

  • No Brasil, seu cultivo comercial teve início em 1679. O cacaueiro adaptou-se bem ao clima e solo do sul da Bahia, região que aposta hoje no cultivo do cacau fino e do cacau orgânico.
  • Na colheita, são selecionados somente os frutos maduros, que são deixados no chão. No cacau verde, as sementes têm preço menor e menos açúcar, o que compromete a fermentação. Em pontos altos do cacaueiro, a colheita é feita com uma pequena foice afiada, presa na ponta de uma vara. Em seguida são pegos manualmente e organizados em lotes para a quebra; frutos que porventura estejam “danificados” ou “bicados” são desertados.
  • Na quebra, a coloração da polpa é mais uma indicação do “ponto” do fruto – verde, maduro, passado ou oxidado. Cada cacau tem de 20 a 50 sementes – a parte do fruto que vai virar chocolate. É preciso ter muito cuidado para não furar nenhuma na hora de abrir. Se uma delas for cortada, já era: começa a fermentar antes da hora e estraga as outras. 
  • Por fim, temos a fermentação e a secagem. Ambos os processos precisam ser rigorosamente controlados, tanto do ponto de vista de tempo e temperatura quanto de assepsia, e devem acontecer de forma natural. A semente é separada da polpa branca e começa a fermentação, onde elas ficam por sete dias: assim como vinho, é quando se potencializam sabores e aromas do cacau. Depois vai a secagem secar ao sol para evitar o surgimento de fungos e bactérias.
  • As sementes de cacau estão no ponto para serem ensacadas e viajarem de seus locais de origem (regiões próximas à linha do Equador na África, Ásia e América do Sul) para fábricas de chocolate em diversas partes do planeta.
  • Na fábrica começa a torrefação, onde é feito o aquecimento, é quando se elimina qualquer resto de umidade, para desenvolver a cor, o aroma e o sabor do cacau.
  • O descascamento é o processo que, além de triturar as sementes do cacau, retiram-se elementos indesejáveis: a casca é o gérmen. As cascas podem ser aproveitadas depois como adubo.
  • A semente tem um teor de gordura superior a 50%. Então, quando passa pelo processo de moagem, ela é moída, resultando numa massa pastosa, que passamos a chamar de “liquor de cacau”. 
  • Durante a prensagem, existe muita manteiga de cacau nesse liquor, que e ela é removida pela força de uma prensa hidráulica.
  • Na etapa da mistura, liquor de cacau, manteiga e açúcar são misturados para formar uma pasta homogênea. Aqui já é de chocolate que estamos tratando. De acordo com a soma e a porção dos ingredientes, o produtor vai estabelecer que tipo de chocolate ele quer fazer.
  • No refino, é feita mais trituração: os cristais de açúcar são quebrados em partículas minúsculas, e o chocolate ganha consistência mais suave e cremosa.
  • Na conchagem, é misturada a massa com aquecimento, mantendo-a em movimento, ajuda a desenvolver o sabor do chocolate, além de retirar a acidez. O que sai daí já tem cheiro e gosto de chocolate.
  • Na temperagem, é feita uma troca térmica que cristaliza a manteiga de cacau, dando estabilidade e aquela aparência polida e brilhante dos bons chocolates.
  • Na moldagem o chocolate ainda líquido é distribuído em moldes e passa por um túnel de resfriamento para ganhar a forma de tabletes e outros tipos. Agora está pronto para o consumo.

III) Tipos de chocolate

  • Quando apresentado na forma sólida possui algumas versões que diferenciam-se em função do acréscimo em partes diferentes de seus componentes individuais.
    • Chocolate amargo – Feito com os grãos de cacau torrados sem adição de leite. É também chamado de “chocolate puro”, pois além do cacau leva apenas açúcar. Neste caso existem as variações extra amargo (75 a 85% de cacau), amargo (50 a 75%) e meio amargo (35 a 50%). É mais usado em confeitaria, com algumas versões permitem a sua utilização como base para sobremesas, bolos e biscoitos. Caracteriza-se pela cor escura e paladar amargo.
    • Chocolate ao leite – Leva na sua confecção leite em pó ou leite condensado. A maior parte dos fabricantes europeus usam leite condensado, conforme escolha original de Peter e Nestlé, enquanto os produtores britânicos e americanos usam o leite em pó. Neste tipo os teores de cacau estão entre 30 e 40%.
    • Chocolate branco – Feito com manteiga de cacau, leite, açúcar e lecitina, podendo ser acrescentados aromas como o de baunilha. Foi criado apenas no século XX. É o mais doce e de textura bem cremosa.
    • Couverture – Termo em francês que define o chocolate rico em manteiga de cacau, utilizados pelos profissionais chocolateiros.
    • Diet – Composto por massa e manteiga de cacau, leite em pó, sorbitol e sacarina (usados em substituição do açúcar) e vanilina. O chocolate diet é sempre nobre já que não pode ser misturado com óleos e gorduras. Apesar de não ter açúcar em sua composição, eles são altamente calóricos. O chocolate dietético, em geral, é vendido em barras. Podem-se criar produtos banhados e recheados destinados aos apreciadores de chocolate dietético ou para os diabéticos.
Tipos de chocolate.
A química do chocolate.
  • Os chocolates podem ser classificado também em função dos diferentes tipos gordura usados em sua produção, podendo ser classificado em:
    • Nobre – Contém alto percentual de manteiga de cacau e é o único “chocolate verdadeiro”. Para garantir a facilidade de manuseio, o brilho e uma textura que derreta na boca, deve passar pela temperagem antes de ser usado. Pode ser encontrado nas versões ao leite, meio amargo, amargo, extra-amargo, blend (mistura de ao leite com meio amargo) e branco.
    • Hidrogenado – A manteiga de cacau é substituída por óleo vegetal hidrogenado. É mais barato e mais fácil de trabalhar, pois dispensa a temperagem. Geralmente é empregado em produções de grande escala, diminuindo os custos. Sua qualidade final, porém, fica comprometida quando comparada ao nobre, pois é inferior em sabor e textura. É encontrado em barra ou pastilhas nas versões ao leite, meio amargo, branco e colorido, sendo ideal para a decoração e coberturas de doces ou pães, não sendo adequado para fazer trufas, bombons ou ovos de páscoa, pois tem sabor e aroma de gordura vegetal. Esse tipo de chocolate leva na embalagem o título de cobertura.
    • Fracionado – De brilho acentuado, dispensa a temperagem. Também é identificado como cobertura. É feito com a gordura vegetal de palma. Tem mais sabor de leite e textura mais aveludada que o hidrogenado. Seca mais rápido e concede mais economia nas preparações banhadas com chocolate devido a sua textura mais fluida, permitindo coberturas mais finas. É indicado em recheios, para banhar pão de mel, fazer casquinhas de bombons trufados e para decoração tipo arabescos, ou seja, seu uso deve ser em pequenas porções pois seu sabor não é igual ao do chocolate nobre. Não é indicado para o preparo de massa de trufa, cobertura de bombons ou dos ovos de Páscoa.
Chocolate.

Vassoura-de-bruxa

  • No início dos anos 1990, na Bahia, muitos fazendeiros devem ter pensado até se não estavam sendo alvo de algum feitiço. É que uma praga, chamada vassoura-de-bruxa, destruiu plantações inteiras de cacau – fruto que dá origem ao chocolate -, levando à falência os antes ricos coronéis, como eram conhecidos os donos dessas fazendas.
  • Até meados da década de 1920, o Brasil era o maior produtor de cacau do mundo. No final dos anos 80, ainda ocupava o segundo lugar, perdendo apenas para a Costa do Marfim, na África. Hoje, o Brasil contribui apenas com 4% da produção mundial, ficando em quinto lugar em produção e em consumo.
  • Causada pelo fungo Moniliophtera perniciosa (antes chamado de Crinipellis Perniciosa), a vassoura-de-bruxa tem esse nome porque deixa os ramos do cacaueiro secos como uma vassoura velha. A doença foi descoberta em 1895, no Suriname, e já tinha demonstrado o seu poder devastador ao atingir, em 1920, as lavouras de cacau do Equador.
Moniliophthora perniciosa (biótipo S) em Solanum gemellum (Solanaceae): um pequeno arbusto relativamente incomum nas bordas da Mata Atlântica em regiões de terras altas. Vassoura terminal verde; b. Vassoura terminal necótica; cd. Basidiomas, grupos produzidos em vassoura necrótica, apresentando coloração carmesim profunda, forma umbonada proeminente e lamelas largas; e. Basidioma, close mostrando os densos pêlos centrais; f. Basidiósporos, relativamente curtos e largos, apresentando baixo índice Q (1,67) e formato elíptico amplo. Barra de escala: f ¼ 10 mm.
  • Quando chegou à Bahia, em 1989, provavelmente vinda da região Amazônica, a praga foi o fim para os produtores baianos, que enfrentavam ainda uma crise com a imensa queda do preço do cacau no mercado internacional. Só para se ter uma ideia dos estragos, a produção, que foi de 390 mil toneladas em 1988, caiu para 123 mil em 2000.
  • A queda da produção e o aumento do consumo fizeram com que o Brasil, a partir de 1998, já não fosse capaz nem mesmo de produzir cacau em quantidade suficiente para atender o seu mercado interno. O país então deixou de ser exportador, ou seja, fornecedor de cacau, e se tornou importador, tendo que comprar o produto de outros países. Atualmente, o maior produtor de cacau é a Costa do Marfim, seguido de Gana, Indonésia e Nigéria.
  • A vassoura-de-bruxa continua sendo um sério problema para agricultores e pesquisadores, que têm buscado um meio de combater a praga. Uma das formas de controle é enxertar mudas de plantas resistentes à vassoura-de-bruxa em plantas sensíveis à doença. Para isso, aproveita-se a raiz da planta doente, que é unida por uma fita ao caule da planta resistente, formando, assim, uma nova planta sadia.
  • Essa e outras técnicas, no entanto, têm um custo elevado e nem sempre apresentam bons resultados. Por isso, é muito importante controlar a vassoura-de-bruxa enquanto ela está no início, já que a praga se espalha rapidamente através do vento e da água.
  • A contaminação se dá quando os esporos, fase reprodutiva do fungo, se fixam na superfície dos ramos ou frutos em crescimento. Em seguida, eles lançam filamentos chamados hifas que penetram as células do vegetal. Inicialmente, os fungos vivem uma fase em que ficam como se estivessem dormentes e quase não se multiplicam.
  • Enquanto isso, na tentativa de salvar o ramo infectado, a planta começa a enviar mais nutrientes e hormônios de crescimento para essa região. Isso provoca um crescimento anormal das folhas e, um mês depois da infecção, forma-se a chamada vassoura verde, como é conhecida a etapa inicial da doença.
  • Num determinado momento, a planta parece se dar conta de que o ramo está perdido e tenta recuperar para as suas partes sadias os nutrientes acumulados na parte doente. Mas é tarde demais. O fungo realiza o contra-ataque, acelerando a morte da vassoura verde. Com o ressecamento do ramo, agora transformado em vassoura-de-bruxa, a planta não consegue resgatar os nutrientes a tempo.
  • O fungo tem, então, tudo o que precisa para crescer e se multiplicar: um ramo morto e cheio de substâncias nutritivas. Mas ainda prefere esperar a ocasião certa para desabrochar na forma de cogumelos cor-de-rosa: uma sucessão alternada de dias chuvosos e ensolarados, época em que também estão crescendo novos pés de cacau. Afinal, os esporos, depois que deixam os cogumelos, têm pouco tempo de vida até encontrarem novos ramos, cerca de apenas três a quatro horas.

Ritual do Cacau Sagrado

  • A ancestralidade de povos da América Latina sobrevive através do cacau e seus subprodutos. Apesar de ser consumido de maneira profana e sem consciência do seu valor sagrado, o fruto tem raízes de mais de 4 mil anos em crenças sagradas dos povos maias e astecas.
Pintura Maia que mostra o uso do cacau na civilização.
  • Ainda hoje muitos povos possuem tradições espirituais que incluem o cacau como fruto sagrado. Pessoas como o geólogo norte-americano Keith Wilson quando visitou San Marcos, na Guatemala, em 2003, postou nas redes suas meditações embaladas por preparados de cacau. Logo depois, muita gente passou a usar o fruto em cerimônias ao redor do mundo. 
  • No Brasil, um dos maior produtores de cacau do mundo, grupos xamânicos, umbandistas, tântricos e holísticos incorporaram aos poucos o ritual do cacau sagrado, utilizando uma mistura de pasta do fruto e água morna.
  • Segundo as “guardiãs”, mulheres com habilitação pra “abrir rodas e servir o cacau”, o principal benefício do fruto é a expansão do chakra cardíaco. Localizado no meio do peito, ele é responsável pelos nossos sentimentos e emoções. Por isso, os rituais do cacau sagrado costumam desatar muito choro e demonstrações de afeto.
Keith Wilson, geólogo norte-americano que popularizou o ritual do cacau.

“Primeiramente, o cacau nos ajuda a entrar em contato com um lugar muito feminino, silencioso e acolhedor, o mais próximo de um amor incondicional que conseguimos chegar com todas as nossas limitações como seres humanos.”

Yasmin de Sá, terapeuta e guardiã que realiza uma roda por mês para servir o cacau só pra mulheres. 
  • Segundo a guardiã e terapeuta Yasmim de Sá, o cacau pode desencadear catarses, liberar memórias e colocar uma pessoa em contato com alguns traumas e visões. Por isso, é aconselhável que o primeiro contato seja feito com alguém que já tenha experiência. “O que estamos fazendo não é tomar um chocolate quente, mas sim resgatar um hábito ancestral”, explica.
  • Mas não é só espiritual. Segundo pesquisas, o cacau é rico em vitaminas e minerais que auxiliam na saúde cardiovascular, como o magnésio. Além disso, várias pesquisas também já mostraram que o fruto induz a liberação de serotonina e anandamida — neurotransmissor chamado popularmente de “molécula divina” por causar uma sensação de felicidade. 
Ritual do cacau sagrado. 
  • Atenção!
    • Eu, Héspera, teria muito cuidado com qualquer grupo que você deseja investir seu tempo, energia e dinheiro. Existe uma grande gourmetização de saberes ancestrais por conta de grupos elitizados com a promessa de acessar conhecimentos ancestrais quando na verdade são pessoas com mau caráter se aproveitando financeiramente de outras pessoas.
    • Assim como em outros caminhos espirituais, existem pessoas mau caráter que reúnem estudam minimamente e que não tem vivências reais apenas se aproveitando de oportunidades de ganhar dinheiro.
    • Infelizmente assim como a medicina do cacau, outros espíritos de ervas e povos seguem sendo desrespeitados por pessoas que não se importam verdadeiramente com a ancestralidade dessas práticas. Fique esperto. Investigue bem os antecedentes de quem você busca chamar de guia nessas jornadas. Não caia no conto do jovem místico.

Festas com chococolate

  • o mundo todo, o chocolate aparece como tradição em festividades populares: Páscoa, Dia das Mães, dia dos Namorados, Chanucá, Natal, Dia das Bruxas, Dia dos Mortos, entre outros.
  • Na Páscoa, é presenteado em formato de ovos de Páscoa recheados com pequenos brinquedos ou com doces variados, sendo um dos símbolos da data. O uso desse símbolo na festa cristã aconteceu após o Primeiro Concílio de Niceia, em 325. Neste período, foi feita a adaptação de algumas antigas tradições e símbolos religiosos a outros eventos. Com isso, surgiram ovos com a pintura imagens de Jesus Cristo e Maria. Já no período medieval, nobres e reis costumavam comemorar a Páscoa presenteando os seus com o uso de ovos feitos de ouro e cravejados de pedras preciosas, tradição que foi modificada até o atual ovo de chocolate.
  • Por sua vez, a tradição de presentear namorados com chocolate deve ter surgido com a princesa Maria Teresa da Espanha, pois quando a mesma tornou-se a noiva do rei Luís XIV de França, enviou-lhe chocolate de presente em uma cesta em forma de coração. Assim surgiu o costume dos namorados se presentearem com chocolate.
  • Outros usos em festividades ao redor do mundo podem ser citados: os mexicanos usam chocolate uso hoje como oferenda, no Dia dos Mortos, na forma da Mole, que entre outros ingredientes, pode ser feito com pimenta e chocolate. Por sua vez, na comemoração do Chanucá, os judeus presenteiam as crianças com chocolate em forma de moedas embrulhados em papel. Nos Estados Unidos, o dia das bruxas ou Halloween (em inglês) é o segundo maior evento em faturamento do mercado de chocolates, perdendo somente para o Natal.
  • Na Bruxaria Moderna, os festivais equivalentes ao dia dos namorados seria o Beltane, o equivalente a Páscoa seria Ostara e equivalente ao Dia dos Mortos ou Halloween seria o Samhain. O chocolate pode ser utilizado em todas essas festas em honra aos povos pagãos e seus deuses.

Cacau (Theobroma cacao)

  • Origem: Nativa das florestas tropicais das Américas Central e do Sul, incluindo a Amazônia brasileira.
  • Outros nomes: cacaueiro, cacau, cacao, cacau-verdadeiro.
  • Árvores de pequeno porte, copa globosa e baixa.
  • As folhas são geralmente pêndulas, de 15-25cm de comprimento.
  • As flores surgem do tronco e nos ramos.
  • Os frutos são bagas geralmente angulosas, medindo até 25 cm de comprimento e até 300 g, de cor amarela ou vinácea, contendo 20-40 sementes ovoides, envolvidas numa polpa adocicada.

Usos medicinais

  • Há mais de 3.000 anos até o presente, o cacau tem sido usado para tratar anemia, fadiga mental, tuberculose, febre, gota, pedras nos rins e até falta de apetite sexual. Vários efeitos para a saúde, incluindo melhoria da função cardíaca, alívio da angina de peito, estimulação do sistema nervoso, digestão facilitada e melhoria da função renal e intestinal, foram considerados para o seu uso medicinal. 
  • O cacau é extraordinariamente rico em fitoquímicos. Nos grãos de cacau secos e não fermentados, as células pigmentares constituem cerca de 11 a 13% do tecido. Estas células são ricas em compostos polifenólicos – em particular, catequinas – embora a cor púrpura característica dos grãos do cacau se deva às antocianinas. 
  • Os fitoquímicos do cacau se enquadram em vários tipos. Os polifenólicos são quantitativamente o maior grupo, compreendendo cerca de 13,5% dos grãos secos de cacau não fermentados. Foi relatado que o consumo de chocolate aumenta a capacidade antioxidante total no plasma sanguíneo humano. Os polifenóis do cacau exibem forte atividade eliminadora de radicais livres. Dados de numerosos estudos sugerem que o cacau pode efetivamente modificar o processo inflamatório. 
  • As catequinas monoméricas do cacau e as procianidinas oligoméricas têm um efeito antiinflamatório significativo, inibem a explosão oxidativa dos neutrófilos e reduzem a expressão de moléculas de adesão. 
  • O cacau rico em flavanol aumenta o fluxo sanguíneo cerebral, o que sugere o cacau como um possível tratamento para a demência. 
  • O cacau tem propriedades hidratantes na pele, melhora a aparência e a textura da pele e confere fotoproteção substancial contra a luz UV. A manteiga extraída da prensagem da semente vira batom hidratante para os lábios, cosméticos, sabão e até componente de supositórios.
  • O cacau é rico em polifenóis, que nos protegem contra várias doenças, devido a suas propriedades anti-inflamatória, antimicrobiana, anticarcinogênica, analgésica e vasodilatadora.
Batom hidratante de manteiga de cacau.

Cultivo

  • Ciclo de vida: Perene.
  • Tamanho: Varia entre 4 e 8 m de altura.
  • Luz: O sombreamento adequado é fundamental para o sucesso do cultivo.
  • Substrato: Profundo (mínimo 80 cm), pH entre 5,5 e 6,5, fértil e com bom armazenamento de água. Solos totalmente arenosos são desfavoráveis devido a baixa capacidade e retenção de umidade e nutrientes. Espaçamento entre árvores de 2,5 m x 2,5 cm.
  • Clima ideal: Regiões de clima quente e úmido e temperatura média anula de 23°C.
  • Água: Consome grandes quantidade de água, sendo sensível a falta de umidade no solo.
  • Propagação: Mudas, verificar preparo no manual nas referências.
  • Observações gerais:
    • Recomenda-se o sombreamento provisório para gerar sombra na fase inicial do cultivo com espécies como bananeira, thefrosia, guandu, mamona e mandioca, sendo feito o cultivo no mínimo 6 meses antes do plantio do cacau. Elas prefere quando jovem se proteger à sombra de árvores mais altas, evitando o sol escaldante nessas regiões e a força do vento. Gostam de longas estações chuvosas e temperaturas mais altas. Quando completam 5 anos, já estão forte o suficiente para produzir cacau. É quando entram em ação suas flores, que podem ser polinizadas por insetos o ano todo.
    • O sombreamento definitivo é feito após os 20 anos da árvore, permanecendo na área enquanto existir a cultura do cacau, não ultrapassando 18 m de espaçamento, recomendando Eritrina e Palheteira.
    • Entre essa polinização e o amadurecimento do fruto, decorrem cerca de seis meses. E dá para notar: de esverdeado, o cacau maduro se torna amarelado, e chega a apesar, em média, 500 gramas. É chegada a hora da colheita.
    • No interior de cada cacau maduro encontra-se de 20 a 50 sementes, revestidas por uma polpa esbranquiçada e doce, levemente ácida – que não tem absolutamente nada a ver com o gosto do chocolate. Especialistas associam o sabor ao da lichia. Tente experimentar.
    • Para que esse conjunto de sementes – que os fabricantes também chamam de amêndoas – comece a pensar em ser chocolate um dia, deve passar por um processo que começa na fermentação, quando a polpa é eliminada, e as sementes, antes cinzas, ganham a cor marrom que vai perdurar até o ponto final.
    • Em seguida, as amêndoas secam ao sol para eliminar a umidade e evitar a contaminação. Bastam sete dias secando para que estejam aptas a ser ensacadas e viajar para as fábricas, onde acontecerá o processamento do cacau e da massa de chocolate, que você vai conferir mais à frente.

Correspondências mágicas

  • Gênero: Masculino.
  • Planeta: Marte.
  • Elemento: Fogo.
  • Tarot: Imperador e Sol.
  • O cacau e o chocolate auxiliam no despertar de energias de amor, paixão, desejos, alegria, prazer e prosperidade.

Usos mágicos

  • Rituais:
    • Oferenda para deuses com domínios no amor, guerra e prazer.
    • Oferenda para ancestrais indígenas latino-americanos como maias e astecas.
    • O cacau pode ser utilizado como substituto simbólico do coração em rituais.
    • Fazer brigadeiro e comer junto de amigas para desabafo, com isso permitindo que sombras se manifestem e sejam trabalhadas.
    • Utilizar o chocolate líquido como uma tinta para fazer símbolos em seu corpo para manifestar em você seus ensinamentos.
    • O chocolate amargo pode ser usado para despertar paixões, aterramento ou mergulhar no nosso eu interior.
    • O chocolate branco é usado em magias de amizade ou que geram diversão e relaxamnto.
    • O chocolate ao leite é usado para magias de amizade e amor próprio, assim como diversão e relaxamento.
    • É possível combinar o poder mágico do chocolate na cozinha com outras ervas como canela (para fogo e atração), a noz moscada (para fidelidade), o gengibre (ara força), a pimenta (para desejo) e com frutas como o morango (afrodisíaco), uvas (prazer), etc.
    • Trabalhos de autoestima.
    • Feitiços de amarração para despertar sentimentos em outra pessoa encantando um prato feito com chocolate e oferendo a ela.
Ritualizando o cacau.
  • Cozinha mágica:
    • O cacau normalmente é utilizado na culinária como manteiga de cacau e chocolate que pode ser branco, amargo, meio amargo, ao leite ou branco.
    • Ele pode ser usado como base para sobremesas como coberturas e recheios, bebidas, bolo, pães, cremes, ganache, sorvete, tortas e biscoitos.
    • Apesar de ser famoso em receitas doces, o cacau também pode ser utilizado em receitas salgadas como molho para carnes, panquecas e massas.
    • Da polpa fresca do cacau também é possível preparar o suco e o sorvete.

# As informações aqui não substituem a consulta médica.

Referências

  1. Kim, J., Lee, K. W., & Lee, H. J. (2011). Cocoa (Theobroma cacao) seeds and phytochemicals in human health. In Nuts and seeds in health and disease prevention (pp. 351-360). Academic Press.
  2. Lisboa, D. O., Evans, H. C., Araujo, J. P., Elias, S. G., & Barreto, R. W. (2020). Moniliophthora perniciosa, the mushroom causing witches’ broom disease of cacao: insights into its taxonomy, ecology and host range in Brazil. Fungal Biology124(12), 983-1003.
  3. Theobroma cacao. Disponível em <https://www.museunacional.ufrj.br/hortobotanico/arvoresearbustos/theobromacacao.html#:~:text=Origem%3A%20Nativa%20das%20florestas%20tropicais,Sul%2C%20incluindo%20a%20Amaz%C3%B4nia%20brasileira.&text=Caracter%C3%ADsticas%20morfol%C3%B3gicas%3A%20%C3%81rvores%20de%20pequeno,do%20tronco%20e%20nos%20ramos.> Acessado em 28/12/2023.
  4. Chocolate. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Chocolate> Acessado em 28/12/2023.
  5. Antes de virar símbolo da Páscoa, chocolate era prescrito como remédio. Disponível em <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/04/antes-de-virar-simbolo-da-pascoa-chocolate-era-prescrito-como-remedio.html> Acessado em 28/12/2023.
  6. Dossiê Chocolate: Do xocolatl dos astecas às chocolatiers da Bélgica: a saga, a ciência e os segredos do alimento dos deuses. Disponível em <https://conhecimentocerebral1.blogspot.com/2018/12/dossie-chocolate-do-xocolatl-dos.html> Acessado em 28/12/2023.
  7. O ritual do cacau sagrado. Disponível em <https://thesummerhunter.com/ritual-do-cacau-sagrado/> Acessado em 28/12/2023.
  8. Cacau e Chocolate: Propriedades mágicas e usos na bruxaria. Disponível em <https://temperodebruxa.com.br/2020/06/08/cacau-e-chocolate-propriedades-magicas-e-usos-na-bruxaria/> Acessado em 28/12/2023.
  9. Cultura do cacau. Disponível em <https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/publicacao/375788/cultura-do-cacau> Acessado em 28/12/2023.
  10. Cacau cerimonial. Disponível em <https://www.almadocacau.com/pages/cerimonial-do-cacau> Acessado em 28/12/2023.
  11. Vassoura-de-bruxa. Disponível em <https://www.invivo.fiocruz.br/biodiversidade/vassoura-de-bruxa/> Acessado em 28/12/2023.
  12. Magias e feitiços usando Cacau e Chocolate. Disponível em <https://temperodebruxa.com.br/2020/06/09/magias-e-feiticos-usando-cacau-e-chocolate/> Acessado em 28/12/2023.
  13. (Cold) xocóatl… Disponível em <https://www.mexicolore.co.uk/maya/chocolate/cold-xocoatl> Acessado em 28/12/2023.

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