Conceitos básicos,  História

Fonte primária, secundária e terciária

Introdução

  • Fonte primária e fonte secundária são conceitos utilizados em estudos da historiografia, biblioteconomia e outras áreas de pesquisa para classificar os dados básicos ou variáveis a serem analisados na interpretação de uma história ou evento.
  • É importante que você que estuda história para entender os cultos de deuses antigos saibam se estão com uma fonte primária ou fonte secundária para basear os seus estudos.
  • No texto de hoje, espero que consigam dominar esses conceitos para poder reconhecer como se encaixam os textos que chegam até você, até mesmo para ter critério de como deve interpretar aquele texto. Um texto só por ser antigo, não quer dizer que ele seja uma fonte de estudo, o mesmo vale para textos novos.
  • Cuidado com as definições de fonte primária, secundária ou terciária, elas podem variar dependendo da área de estudo. O foco aqui é nas ciências humanas.
  • Verifique o link abaixo de como fazer uma busca por fontes confiáveis para te ajudar nessa busca.

Fonte primária

  • A fonte primária ou fonte original é uma expressão para um documento, gravação ou outra fonte de informação, como um documento escrito, uma figura, escultura ou item que tenha sido criado no tempo que se estuda, por uma fonte com autoridade, geralmente com conhecimento pessoal direto dos eventos descritos.
  • Em jornalismo, por exemplo, a fonte primária é a pessoa com conhecimento direto da situação, ou que escreveu um documento escrito por essa pessoa que vivenciou a situação a ser descritas.
  • As fontes primárias também podem ser chamadas de dados básicos ou matéria-prima para uma investigação histórica.
  • Uma fonte primária pode ser uma fonte em primeira mão sobre o passado, como um diário ou um artefato. Fontes primárias são descritas como fontes mais próximas à origem da informação ou ideia em estudo, porque ela foi registrada ou criada no período ou no evento que será estudado.
  • Fontes primárias proporcionam, aos pesquisadores, informação direta, sem mediação sobre o objeto em estudo. Podem conter pesquisa inédita ou informações não publicadas em nenhum outro lugar. Servem como fonte original da informação ou de novas ideias sobre o tópico.
  • Perceba que uma fonte primária não precisa ser antiga para ser classificada assim, já que descobertas e invenções científicas por serem inovações podem ser consideradas fontes primárias.
  • Exemplos de fontes primárias:
    • Trabalhos publicados ou não-publicados;
    • Textos científicos ou textos não-científicos;
    • Cartas pessoais ou diários de pessoas que viveram durante um período ou evento que é alvo do estudo;
    • Comunicações pessoais, autobiografias, entrevistas, gravações em vídeo ou áudio;
    • Fotografias, esculturas, pinturas, itens de arte;
    • Documentos públicos e jornais criados na época de um acontecimento;
    • Textos literários ou narrativas que descrevem comportamentos e perspectivas de uma situação;
    • Relato de um devoto sobre a sua prática devocional.

Fonte secundária

  • A fonte secundária é uma expressão para um documento, gravação ou outra fonte de informação que relaciona ou discute as informações apresentadas em fontes primárias.
  • As fontes secundárias envolvem análises, generalizações, sínteses, interpretações, ou avaliações da informação original e são focadas para um tema delimitado como época, lugares, indivíduos, controvérsias, publicações, conceitos e termos.
  • A fonte secundária é o material que existe sobre aquela história que foi vivenciada por outra pessoa.
  • Geralmente o autor da fonte secundária não vivenciou o que o autor da fonte primária vivenciou.
  • A fonte secundária compõe-se de elementos derivados das obras originais, refere-se a trabalhos escritos com o objetivo de analisar e interpretar fontes primárias e, normalmente, com o auxílio e consulta de outras obras consideradas, também, fontes secundárias.
  • A Historiografia considera fontes secundárias todos os escritos não contemporâneos aos fatos que narra. A maioria dos trabalhos acadêmicos hoje publicados é composta de fontes secundárias ou mesmo terciárias.
  • Uma fonte secundária ideal geralmente é caracterizada por reportar dados oriundos de fontes primárias, bem como por analisar, interpretar e avaliar os eventos que são objeto de estudo.
  • Como boa parte das fontes secundárias são produtos científicos, ou seja, artigos de revistas científicas confiáveis ou trabalhos de conclusão de curso de nível superior ou pós graduação, a maior parte das fontes secundárias são pesquisadores formados.
  • Neste caso, as fontes secundárias que são trabalhos científicos, incluem metodologia utilizada na pesquisa histórica, provê informações sobre as fontes primárias, até então desconhecidas na área pesquisada, e é fonte de conhecimento crítico para outras pessoas interessadas nesse assunto.
  • Também é importante deixar claro, que um trabalho que já foi secundário em um momento histórico pode se tornar fonte primária em outro período. Se o estudo científico busca entender a visão dos cristãos sobre um ritual que eles não participaram, apesar do seu relato ser secundário, ele se torna a fonte primária para o pesquisador contemporâneo porque já existe um distanciamento histórico entre o pesquisador e a fonte.
  • Exemplos:
    • Interpretações e análises de cristãos sobre práticas pagãs;
    • Pinturas e itens de arte feitos em período muito posterior ou em local distinto a origem do seu tema;
    • Livros, artigos de opinião, trabalhos acadêmicos contemporâneos (monografias, dissertações e teses).
Fonte secundária como trabalho acadêmico sobre Hécate e Perséfone que analisa fontes primárias e traz outras fontes secundárias par a discussão. Veja referência completa no final ou clique aqui para acessar o arquivo completo.

Fonte terciária

  • Em alguns casos, ainda podemos falar de fonte terciária, que é quando se faz análises de fontes primárias e secundárias para falar de uma maneira geral sobre um tópico, assunto ou situação para torná-lo mais acessível a leitores leigos.
  • Eles são textos introdutórios sobre o tema, são manuais e buscam divulgar para pessoas que não são pesquisadoras formais sobre a existência daquele assunto.
  • De maneira geral, as fontes terciárias não são utilizadas pelos cientistas para fazer suas pesquisas porque a fonte terciária não visa gerar novidades sobre o tema e sim apresentar o que já se tem consolidado sobre o tema. Muitas vezes não entra em discussões sobre controvérsias que a ciência ainda possui sobre o assunto para não gerar confusões em pessoas que não estão com um conhecimento aprofundado sobre o tema.
  • Portanto, as fontes terciárias não vão dar o estado atual de um campo científico por focar apenas no que já está estabelecido.
  • Algumas características das fontes terciárias: usam informações incompletas, objetivos são pouco definidos e textos podem ser escritos sem revisão de especialistas ou por pessoas sem estudo profundo e/ou formal sobre o assunto abordado.
  • Outra questão importante da fonte terciária, é que ela se torna mais confiável se ela foi produzida por alguém que é especialista no assunto que está sendo abordado, para garantir que as partes importantes selecionadas para serem descritas são de fato as mais importantes e se estão sendo interpretadas de forma correta. Infelizmente não é o que acontece, os pesquisadores e criadores de fontes secundárias acabam não se preocupando em gerar fontes terciárias sobre suas pesquisas, por falta de tempo ou interesse, gerando a necessidade de outras pessoas produzirem a fonte terciária, levando a mais chances de terem erros.
  • A fonte terciária pode vir a se tornar fonte primária em investigações de como o conhecimento acadêmico tem chegado para a sociedade.
  • Exemplos:
    • Livros de ensino fundamental e médio;
    • Trabalhos de divulgação científica;
    • Aulas e cursos sobre um tópico já estudado;
    • Blogs de divulgação de fontes primárias e fontes secundárias;

Estudos de casos

  • Os critérios apresentados para definir essas fontes como primária, secundária ou terciária não são rígidos e podem até ser subjetivos. Por isso, é importante analisar o contexto da criação dessa fonte, qual é o objetivo do estudo e como a fonte está sendo utilizada.
  • Por exemplo, se um texto histórico discute antigos documentos para chegar a uma nova conclusão histórica, ele é considerado uma fonte primária para a nova conclusão, mas fonte secundária da informação descoberta nos antigos documentos. 
  • Outros exemplos no qual uma fonte pode ser tanto primária quanto secundária incluem um obituário ou uma pesquisa de vários volumes de um jornal contando a frequência de artigos sobre um certo tópico.
  • Perceba que para alguns pesquisadores, apenas a fonte lida no idioma original é considerado uma fonte primária, nesse caso o texto traduzido já é considerado uma fonte secundária porque passou pela interpretação do tradutor. Para o nosso foco aqui, traduções serão consideradas fontes primárias se feitas por um bom tradutor, mas sempre que possível, busque o idioma original.
  • Em alguns casos, a fonte secundária também pode ser considerada uma fonte primária sobre a perspectiva que uma pessoa ou grupo de pessoas tem sobre uma situação. Um exemplo é que relatos de pessoas que não participaram de algo pode se tornar objeto de análise em um estudo para entender como o ocorrido pode ter divergido do que foi relatado na fonte secundária.
  • Veja a seguir alguns exemplos dentro do nosso contexto de bruxaria e fé helênica.

Exemplo 1

  • Fonte primária: Texto em grego da Teogonia de Hesíodo;
  • Fonte secundária: Trabalho acadêmico contemporâneo que analisa a relação dos gregos antigos e suas divindades através da Teogonia de Hesíodo, citando a fonte primária e outras fontes secundárias feitas sobre essa fonte primária;
  • Fonte terciária: Post do blog Submundo Periférico expondo a fonte primária e algumas fontes secundárias de maneira acessível para quem tem dificuldades com o formato acadêmico, simplificando e usando ilustrações para facilitar a compreensão.
O conselho dos deuses. Artista: Raffaello Sanzio (Criação: 1517 a 1518).

Exemplo 2

  • Fonte primária: Jarro com imagem de um culto dionisíaco feito no ano e local onde eles ocorriam por alguém que participou de seus rituais;
  • Fonte secundária 1: Relato de um cristão do século II EC sobre o culto dionisíaco;
  • Fonte secundária 2: Estudo acadêmico contemporâneo sobre o culto dionisíaco que utiliza diferentes fontes primárias e apresenta fontes secundárias antigas e contemporâneas.
  • Fonte terciária: Curso introdutório sobre culto dionisíaco apresentando de forma simplificada o que já se tem de conhecimento sobre o assunto.

Seja crítico!

  • Agora que você entendeu esses três termos, é importante entender o que está por traz da informação de cada uma dessas fontes.
  • É como um telefone sem fio, basicamente. A fonte primária é quem criou ou vivenciou o que está sendo registrado e estudado. A fonte secundária vai trabalhar em cima de informações vivenciadas por outros. A fonte terciária vai tornar essas informações mais simplificadas. Ou seja, todos possuem um viés da sua ótica sobre o fato.
  • Se pensarmos em Mistérios Elêusis, por exemplo, vemos que uma pessoa que estava vivendo aquele festival na antiguidade e escreveu um diário descrevendo vai ser a fonte primária, mas o seu relato passa por sua visão pessoal do que era importante e tocou ele. Isso significa que outra pessoa que está vivenciando o mesmo festival, pode ter uma visão focada em outros aspectos. Não existe certo ou errado, mas visões diferentes sobre o mesmo fato. É muito difícil que uma fonte primária consiga esgotar todos os detalhes de um fato. Da mesma forma que hoje, duas pessoas vai um mesmo show e uma pode achar super interessantes a música 1 e 2 e a outra gostar mais das músicas 3 e 4 e só registrarem nos seus stories a parte do show que mais interessou.
  • Agora o cristão do Império Romano que pega a descrição dos Mistérios Elêusis sem nunca ter ido, ou até mesmo se ele fosse, pode ter uma impressão totalmente diferente, inclusive criando novos significados para símbolos que ele está vendo por não compreender seu real significado ou por estar imerso em preconceitos. Da mesma forma hoje, a sua tia conservadora que vê os seus stories de um show de rock pode achar aquilo uma barbárie.
  • Hoje o pesquisador que pega o relato do devoto que participou dos Mistérios Elêusis e do cristão do Império Romano precisa saber distinguir que essas pessoas tem visões diferentes sobre o mesmo festival e trazer a sua análise comparando com a análise de outros pesquisadores, além de reunir outras fontes primárias para tentar compreender de forma menos fragmentada o que aconteceu nesse festival e porque o cristão tem uma visão tão diferente do participante. Só que sabemos que a fonte secundária produzida pelo pesquisador não vai ser um retrato de tudo que aconteceu no festival e ainda tem o viés dele estar tão distante historicamente do ocorrido que ele não vai compreender os símbolos criados por completo.
  • Agora, a fonte terciária que vai pegar os relatos dos devotos, cristãos e pesquisadores e transmitir para pessoas que não são pesquisadoras, ou seja, não aprenderam todas as ferramentas daquela área de pesquisa, precisa simplificar e muitas vezes resumir todas as análises para que a sua audiência entenda ou conheça o mínimo necessário sobre aquele assunto sem ficar perdida.
  • Por isso, se você é essa fonte terciária porque tem um blog ou faz um curso, precisa disponibilizar as referências de onde buscou a sua informação e deixar claro quando está falando a sua opinião sobre o assunto. Com isso, você dá a oportunidade da sua audiência se aprofundar nas fontes secundárias e chegar até as fontes primárias para tirar suas próprias conclusões.
  • E se você é a audiência da fonte terciária ou qualquer uma dessas fontes, faça essas perguntas:
    • Essa pessoa vivenciou o que estou estudando?
      Provavelmente ela é uma fonte primária, logo, entenda o recorte social e histórico dela para entender quais influências podem ter levado ela a ter essa percepção. Ela era rica, branca, homem? Então busque por outras fontes primárias para ter outras perspectivas sobre o assunto e fontes secundárias e terciárias para entender com diferentes níveis de profundidade.
    • Essa pessoa é pesquisadora com formação superior e pós-graduação no assunto? Provavelmente ela é fonte secundária, logo, busque pelas fontes primárias para tirar suas conclusões com menos viés ou busque por uma fonte terciária para buscar o assunto mais simplificado se achou muito complexa a forma que está sendo escrita.
    • Essa pessoa é produtora de conteúdo na internet ou faz divulgação científica de outras formas?
      Provavelmente ela é uma fonte terciária, logo, ela não vai te dar o assunto por completo, mas vai querer despertar em você o interesse por se aprofundar, conhecendo o mínimo necessário para isso. Ela vai tirar informações complexas e vai te direcionar para o filé mignon do assunto. Só que fique atento sempre se essa fonte terciária teve a preocupação de realizar seu conteúdo com base de fontes secundárias confiáveis e fontes primárias bem analisadas.

Referências

  1. Cruz, R. N. (2006). História e historiografia da ciência: Considerações para pesquisa histórica em análise do comportamento. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva8(2), 161-178.
  2. Carvalho, T. R. (2019). Perséfone e Hécate: a representação das deusas na poesia grega arcaica (Doctoral dissertation, Universidade de São Paulo).
  3. Fonte primária. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Fonte_prim%C3%A1ria> Acessado em 15/03/2024.
  4. Fonte secundária. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Fonte_secund%C3%A1ria> Acessado em 15/03/2024.

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