Bestiário

Corujas

Introdução

  • As corujas são aves da ordem Strigiformes que também incluem aves de rapina como mochos e murucututu. 
  • As corujas são caçadoras com excelente visão e movimentos rápidos. Elas também possuem a habilidade de girar o pescoço e voar silenciosamente por conta das suas penas numerosas. 
  • Possuem hábito predominantemente noturno e são predadoras que se alimentam de mamíferos, como roedores e morcegos, insetos, aranhas, peixes e outras aves. 
  • As corujas possuem o que chamamos de dimorfismo sexual, tendo diferenças físicas e/ou comportamentais entre machos e fêmeas. A fêmea normalmente são maiores e possuem penas em tonalidades mais escuras que os machos. Essa característica é diferente nas corujas, já que a maioria das aves possuem os machos maiores devido a competição dentro da própria espécie. Não se tem certeza do que gera essa diferença, mas as hipóteses são que a fêmea sendo maior, incuba os ovos de forma mais eficiente e também teriam mais reservas para a prole em caso de escassez. Enquanto os machos sendo menores seriam mais ágeis na obtenção de alimento.
  • O Brasil é considerado um dos maiores abrigos do mundo para as aves, possuindo aproximadamente 1.832 espécies distribuídas por todos os seus ecossistemas.
Macho da subespécie Tyto alba  alba (esquerda) e fêmea T. alba guttata (direita). É possível observar o padrão de manchas na fêmea.

Curiosidades sobre corujas

  • Corujas engolem a presa inteira e depois regurgitam os restos que não foram digeridos.
  • Os olhos das corujas sendo localizados na frente do rosto favorece a percepção de profundidade, mas desfavorece a visão panorâmica. Isso é em grande parte resolvido com a sua capacidade de girar a cabeça em até 270°. Elas possuem 14 vértebras cervicais (enquanto os humanos possuem sete), além de conseguir fazer o movimento sem parar o fluxo sanguíneo para o cérebro.
  • Elas possuem em seus olhos uma estrutura chamada “tapetum lucidium” e uma grande pupila que aumenta a sua sensibilidade visual à noite.
  • Elas também possuem ouvidos em alturas diferentes de cada lado da cabeça, o que favorece a localização de presas.
  • O principal impacto das corujas é de origem humana, com a venda e comercialização ilegal e destruição de seus ambientes. Na Indonésia, no ano de 2001, a venda de corujas subiu em 13 mil por conta do lançamento do filme Harry Potter.

Roma e Grécia Antigas

  • Na Roma Clássica, ouvir o pio de uma coruja era sinal de morte eminente.
  • Em uma das versões do rapto de Perséfone, o daemon Askalaphos, que ficava no pomar de Hades, avisou Deméter que Perséfone havia provado da romã e com raiva, Deméter o aprisionou debaixo de uma pedra. Héracles o libertou mais tarde. Sabendo disso, Deméter o transforma em uma coruja (“screech-owl”, do gênero Megascops), askalaphos. A coruja-das-torres era um pássaro sagrado para os deuses do submundo, sendo um mau presságio do mau. 
Megascops asio subespécie mccalli.
  • A deusa Atenas que tem como símbolo uma coruja do gênero Athene: o mocho-galego, também consideradas símbolo da filosofia.
  • Se uma coruja sobrevoasse o exército antes da batalha, era um sinal de vitória.
Athene noctua
Óbolo ateniense cunhado cerca de 454−404 AEC. Nele há a efígie de Atena e a coruja.
Atena e a coruja (século 5 AEC, Museu Metropolitano de Arte).

Bruxas Strix

  • O termo de “Strix” também foi correlacionado a bruxas ou feiticeiras, tendo a imagem de uma mulher-pássaro que voava a noite ou projetava a sua alma para penetrar casas e devorar, destruir e roubar bebês recém-nascidos.
  • Esse termo pode ter três significados principais dependendo da fonte:
    • Uma mulher, chamada Polifonte, devota de Ártemis que foi punida por ignorar Afrodite sendo transformada em strix (veja mito abaixo). Esse termo foi cunhado para praticantes de feitiçaria da região da Macedônia, Tessália e da Trácia;
    • Como ave, possui características marcantes de um morcego por ser noturno, ser um presságio do mal e ter um grito agudo e estridulo como morcego em voo, e ficar de cabeça para baixo como um morcego empuleirado.
    • Como mulher-pássaro, ela seria odiada pelos homens e deuses por possuir desejo de sangue e carne humanos, mas Boios transfere essa característica para o filho de Polifonte, o Agrios que seria um abutre.

Na obra᾿Ορνιθογονία de Boio foi contada a história de Polifonte que Antonino Liberalis preservou em seu Μεταμορφώ σεων συναγωγή. Isso pode ser resumido da seguinte forma: Polifonte, filha de Hipponoos e Traissa, rejeitou Afrodite e foi para as montanhas como companheira de Ártemis em seus
esportes. Irritada com o insulto, Afrodite menosprezada fez com que ela se apaixonasse loucamente por um urso. Ao descobrir sua situação, Ártemis, com ódio amargo, virou as feras contra ela. Então Polifonte fugiu com medo para a casa de seu pai e no devido tempo deu à luz dois filhos, Agrios e Oreios. Estes se tornaram homens de enorme tamanho e imensa força. Eles não demonstraram honra a Deus ou aos homens, mas foram desenfreadamente insolentes para com todos. Eles levaram todos os estranhos que encontraram e festejaram com sua carne. Assim, eles provocaram a ira de Zeus, que enviou Hermes para puni-los. Ele iria cortar suas mãos e pés, mas Ares, a quem Polifonte traçou sua linhagem, os salvou desse destino. Tanto a mãe como os filhos, porém, foram transformados em pássaros. Polifonte tornou-se “uma strix que chora a noite, sem comida ou bebida, com a cabeça abaixo e as pontas dos pés acima, um prenúncio de guerra e conflitos civis para os homens. Oreios se tornou um pássaro que não é visto como bom e Agrios se tornou um abutre que de todas as aves mais detestadas pelos deuses e pelos homens e possuidoras de um desejo constante por carne e sangue humanos.

Obra᾿Ορνιθογονία de Boio, dificilmente posterior ao século IV AEC (Oliphant, 1913).
  • Com um significado latino, é possível ver a primeira menção de strix em Pseudolus de Plautus, por volta de 191 AEC. No entanto, essa menção pode ser vinda do original grego visto na comédia Medeia, do século IV AEC, como menção a obra de Boio. Eles dão ênfase ao aspecto antropofágico da strix, que devota vísceras de suas vítimas ainda vivas.
  • A única outra referência latina está em Titínio, do século II AEC, preservado no Liber Medicinalis de Quintus Serenus Sammonicus, no capítulo de título “Infantibus dentibus vel strige inquietatis”. Nessa passagem, o Titínio fala da strix como um bicho-papão do berçário, sendo indicado o uso de um encanto de alho para afastá-las.
  • Existem também referências a strix em obras de Ovídio, Petrônio e João Damasceno que trouxe o imaginário da bruxa horrível na literatura latina, assim como o folclore europeu do vampiro e demônio devorador de crianças.
  • Strix também é um termo relacionado a uma variedade de coruja, sendo um gênero de corujas-sem-orelha ou coruja-da-floresta.
  • Existe um debate se a strix seria um morcego, coruja ou abutre. Existem inúmeras fontes, mitos e lendas que trabalham com a ideia da mulher-pássaro em diferentes culturas e tempos históricos. Fato é: a ideia das bruxas terem relação com mulheres-pássaro estava presente desde a Grécia Antiga até hoje. Veja também o texto sobre sereias, que também eram mulheres-pássaro em sua raíz helênica.
  • Conheça o trabalho do Tear das Feiticeiras que tem um foco em Bruxaria com Fé Helênica e se aprofunda na Strixcraft que busca honrar as bruxas da tessália e sua magia.
  • Na Idade Média na Europa, a Coruja tornou-se a associada das bruxas e a habitante de lugares escuros, solitários e profanos, um espectro tolo, mas temido. 
  • A aparição de uma coruja à noite, quando as pessoas estão indefesas e cegas, ligando-as ao desconhecido, seu chamado misterioso encheu as pessoas de pressentimento e apreensão: uma morte era iminente ou algum mal estava próximo. 
  • Durante o século XVIII os aspectos zoológicos das corujas foram detalhados através da observação atenta, diminuindo o mistério que cercava estas aves. Com a extinção das superstições no século XX – pelo menos no Ocidente – a Coruja voltou à sua posição de símbolo de sabedoria.
  • A coruja na umbanda é associada ao orixá Xango simbolizando saberdoria e força.
  • Na mitologia asteca, as corujas viam a terra para se alimentar das almas de quem estava prestes a morrer.

Corujas e os povos indígenas americanos

  • Muitos povos indígenas de diferentes partes do mundo possuem simbolismos com a coruja e conexões com o submundo e o mundo espiritual. 
  • Os Cree acreditam que os sons de assobio da coruja boreal são um chamado para o mundo espiritual. Se um Apache sonha com uma coruja, afirma-se que a morte está a caminho. Os xamãs cherokee viam as corujas orientais como consultores sobre punição e doença. Até hoje, os praticantes das tradições espirituais nativas americanas sustentam que a coruja representa visão e percepção.
  • O Pawnee vê a coruja como um símbolo de proteção; o Ojibwa, um símbolo do mal e da morte, bem como um símbolo de status muito elevado dos líderes espirituais de sua religião. Os Pueblo associam a coruja ao Homem Esqueleto, o deus da morte e espírito da fertilidade.
  • Em algumas culturas nativas americanas, as corujas são associadas à magia, clarividência e viagens astrais. As corujas são pássaros da noite – eles têm o poder de ver o invisível na escuridão mais escura, caçar comida e voar silenciosamente durante a noite.
  • Alguns indígenas brasileiros consideram as corujas como aves sagradas, acreditavam que elas traziam sorte para a tribo. No norte do país, indígenas mais antigos consideravam a caburé (Glaucidium brasilianum) como ave de boa sorte, e usavam suas penas em amuletos e trariam boa sorte no jogo e no amor.

Corujas na bruxaria

  • É um animal ligado ao mundo espiritual e ao submundo. As corujas nos ensinam a enxergar aquilo que está escondido e a avaliar as situações com sabedoria. 
  • Alguns sugestões de como trabalhar com serpentes:
    • Faça tatuagens de corujas para evocar seus simbolismos ou honrar alguma divindade;
    • Medite com a imagem de corujas e com o som de seu canto;
    • Tenha estátuas ou representações de corujas;
    • Faça desenhos, sigilos e amuletos com corujas.

Referências

  1. dos Anjos Lima, J. M., Lima, M. L. N., da Silva, W. A., Costa, E. M. A., & de Moura, G. J. B. (2016). Representações socioculturais das corujas. Revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais, 7(1), 42-48.
  2. Strigiformes. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Strigiformes> Acessado em 08/04/2022.
  3. Owls in Mythology & Culture. Disponível em <https://www.owlpages.com/owls/articles.php?a=62> Acessado em 08/04/2022.
  4. Askalaphos. Disponível em <https://www.theoi.com/Khthonios/Askalaphos.html> Acessado em 08/04/2022.
  5. The owl, a nuanced symbol in native american cultures. Disponível em <https://www.palmstrading.com/the-owl-a-nuanced-symbol-in-native-american-cultures/> Acessado em 08/04/2022.

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