Bestiário

Fungos

Introdução

  • Os fungos são os integrantes do reino Fungi. No entanto, a classicação dos organismos mudou e agora os organismos não são mais classificados nos cinco reinos (Animalia, Fungi, Plantae, Monera e Protista)  e passou a serem classificados em três domínios (Bacteria, Archaea e Eukaria). Eles já foram considerados membros do reino Plantae e também do Protista, até receber o próprio reino.
  • Os fungos incluem os organismos microscópicos (leveduras e bolores) e aqueles macroscópicos que são visíveis a olho nu (cogumelos). Podendo ter uma só célula (unicelulares) ou ser formado por várias células (multicelulares). As paredes das células do fungo possuem quitina e glucanos, diferente das plantas que possui celulose na parede celular.
  • Os fungos multicelulares são formados por filamentos ramificados denominados de hifas. O conjunto de hifas forma o micélio. Quando o fungo vai se reproduzir, forma hifas especiais agrupadas chamadas de corpos de frutificação onde os cogumelos e orelhas-de-pau são os exemplos mais conhecidos.
  • Eles são encontrados no solo, na água, no ar e no corpo de outros organismos.
  • Estudos recentes descrevem que os fungos são o grupo de organismos mais próximos dos animais, onde os humanos se encontram. 
Árvore simplificada com os filos de fungos e a proximidade dele dos animais (Wilis et al., 2018).
  • Juntamente das bactérias, os fungos sapróbios são os maiores recicladores de matéria orgânica da natureza sendo agentes de compositores. Isso significa que quando um organismo morre, eles auxiliam no processo de decomposição para que os compostos químicos do cadáver, volte a ser assimilado por outros organismos.
Cadeia alimentar e a participação dos decompositores.

Curiosidades sobre fungos

  • Os fungos podem criar relações com as raízes das plantas, ajudando elas a conseguirem nitrogênio, um composto importante para o crescimento. A estrutura formada entre as hifas dos fungos e as raízes de plantas é chamada de micorrizas (do grego “myketos”, fungo; “rhiza”, raiz).
Esquema de micorrizas.
  • Os fungos também podem criar relações com algas ou cianobactérias formando os liquens.
Esquema de líquens.

O anel das fadas

  • Após uma chuva é comum ver em florestas ou campos a formação de círculos de cogumelos, que é a parte visível do micélio do fungo. 
  • Segundo a ciência, essas estruturas são vistas porque o cogumelo se forma nas partes mais jovens do micélio que são as extremidades, por isso as formas circulares. Existe uma vasta gama de hifas que não estão sendo vistas na parte subterrânea desses círculos. Os fungos envolvidos nesses círculos normalmente são saprófitos, ou seja, se alimentam de matéria em decomposição ou que apodreceu por conta da humidade.
  • No entanto, existem muitas histórias fantásticas associadas a esses lugares. Na Grã-Bretanha acreditam que as fadas dançam e brincam dentro desses círculos após tempestades. Na Holanda, a crença é que os círculos são uma marca deixada pelo Diabo quando ele pousa. Na França e na Áustria esses círculos são considerados sinais de feitiçaria maligna e são evitados. Na Alemanha, esses anéis eram chamados de Hexenringe (Anéis das Bruxas) porque era o local onde elas dançavam para celebrar a noite de Walpurgis, um festival de primavera. 
  • Na obra “Sonho de uma noite de verão” de Shakespeare, Ato II, Cena I, as fadas dizem “E eu sirvo a rainha das fadas, para orvalhar seus orves sobre o verde (…)” em menção aos círculos de fadas.

Fungo das fadas

  • O fungo da espécie Amanita muscaria, também conhecido como agário-das-moscas ou mata-moscas, rosalgar, mata-bois ou frades-de-sapo é comum em países do Hemisfério Norte. 
  • Ele possui propriedades psicoativas e alucinógenas em humanos. As substâncias ativas que podem gerar esse estado é o ácido ibotênico e muscimol. Elas reduzem o estímulo ao medo. O efeito começa cerca de 15 minutos após a ingestão. Segundo as descrições, quem consome sente desconforto, confusão mental, náusea, secura na boca e sensação de estar crescendo, depois sono leve e visões. 
O fungo da espécie Amanita muscaria.
  • Esse fungo é normalmente associado a elementais em contos de fadas, com gnomos ou fadas próximos deles. As cores do Papai Noel também pode ter relação com as cores desse fungo e a sua associação ao Yule.
  • A bebida ritualística “Soma” da religião hindu pode ter esse fungo em sua composição.
  • Na cultura popular, o fungo aparece em diferentes obras como no “Alice no País das Maravilhas” (Lewis Carol, 1865), no filme “Fantasia” da Disney (1940), no jogo do Super Mário Bros.

Deméter e o Kykeon

  • No sexto dia dos Grandes Mistérios de Elêusis, o jejum dos iniciados é quebrado tomando o kykeon (do grego “misturar”, “mexer”) para facilitar a compreensão da vida e morte.
  • É uma bebida citada no Hino Homérico II a Deméter, não se tem a composição totalmente conhecida, mas cita-se que é um fermentado de cevada e aromatizada com menta ou tomilho.
  • Na Ilíada (livro XI) é indicada como uma mistura de água, cevada, ervas e queijo de cabra moído.
  • Na Odisséia (livro X) é mencionada quando a feiticeira Circe utiliza a bebida com mel em uma poção.
  • Já no Império Romano, a bebida era comum e feita com água, vinho, mel e cevada.
  • É possível que tenha um fungo chamado ergot (ou esporão do centeio), da espécie Claviceps purpurea comum em grãos. Esse fungo produz alcalóides que levam a produção artificial da dietilamida do ácido lisérgico (LSD) que é uma droga alucinógena. Essa substância gera um efeito de supervirgilância e alucinações no cérebro por inibir a liberação de serotonina.
Ciclo de vida do fungo ergot (ou esporão do centeio), da espécie Claviceps purpurea comum em grãos.

Pedido de Metaneira para Deméter

Então, Metaneira deu a ela um cálice cheio de vinho doce como
mel, mas Deméter o recusou, pois disse que não lhe era lícito
beber vinho tinto, e pediu que cevada e água
lhe desse para que bebesse, misturados com leve hortelã.
Após preparar a mistura, ofereceu-a à deusa, como pediu.

Hino Homérico II a Deméter

Fungos na bruxaria

  • Os fungos são organismos agentes da morte e do apodrecimento. Eles são fundamentais nos ciclos de vida-morte-vida. Através da ação dos fungos e outros decompositores que a matéria física dos seres vivos voltem a ser disponíveis para outros seres vivos. 
  • Como agentes diretos da ciclicidade, eles podem ser associado a deuses como Perséfone e outros relacionados a morte e/ou vida.
  • Algumas espécies de fungos também são considerados alucinógenos, podendo ser usados para atingir o estado alterado de consciência durante rituais ou de maneira recreativa. No entanto, o preparo deve ser feito por alguém esperiente porque a dosagem errada ou escolha incorreta da espécie pode gerar problemas sérios de intoxicação.
  • Diferentes aspectos dos fungos podem ser evocados na bruxaria moderna, entre eles:
    • Associação com divindades ctônicas como Hades, Perséfone e Deméter;
    • Associação com magia elemental;
    • Rituais relacionados a morte, ancestralidade e ciclicidade;
    • Auxílio em rituais de desapego e resistência;

Referências

  1. Willis, K. J. et al. (2018). State of the world’s fungi 2018. Report. State of the world’s fungi 2018. Report.
  2. Amabis, J. M. & Martho, G. R. Biologia, Volume 2. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2004.
  3. Mushroom magic and folklore. Disponível em <https://www.learnreligions.com/mushroom-magic-and-folklore-2562496> 25/06/2022.
  4. Como é que surgem os anéis de fadas. Disponível em <https://www.wilder.pt/naturalistas/como-e-que-surgem-os-aneis-de-fadas/> 25/06/2022.
  5. Amanita muscaria. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Amanita_muscaria> 25/06/2022.
  6. Myth lore fairy ring. Disponível em <https://gardencollage.com/inspire/wild-earth/myth-lore-fairy-ring/> 25/06/2022.

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