Bestiário

Sapos

Introdução

  • Sapos, pererecas e rãs pertencem a Classe Amphibia (do grego “amphi”, duas; e “bios”, vida), na ordem Anura (grego “an”, prefixo de negação; “uros”, cauda).
  • Entenda a diferença entre eles:
    • Sapo – Pele seca e rugosa, com verrugas e pequenos tubérculos. Geralmente tem pernas e braços curtos. Grande parte das espécies vivem em folhas caídas no chão das florestas. Algumas espécies, porém são de clima seco e podem ser encontradas até mesmo em regiões praticamente desérticas.
    • Perereca – Pele lisa e úmida, arborícolas, saltadoras e possuem ventosas nas pontas dos dedos. Geralmente vivem em brejos, mas também podem ser encontradas em casas.
    • Rã – Pele lisa e úmida, pernas grandes e grossas. Alguns grupos de rãs possuem membranas interdigitais, tornando-as excelentes nadadoras. Geralmente vivem em lagoas, poças, brejos e folhiços.
  • Os anuros se alimentam de insetos e alguns podem predar outros sapos e aves.
  • Os anuros possuem fêmea e macho. Na maioria dos anuros a fecundação é externa, com a cópula entre o macho e a fêmea, através do abraço nupcial (amplexo). Esse abraço estimula a fêmea a liberar os óvulos e o macho libera os espermatozóides sobre eles. Em geral, são ovíparos, liberando os ovos envoltos em uma massa gelatinosa. 
  • Os anfíbios possuem desenvolvimento indireto, sofrendo uma metamorfose da fase larval para a fase adulta. Possuem duas fases de vida: A primeira fase é a larval e, na maiorida das vezes, ocorre na água. Durante a fase aquática os anuros respiram através de brânquias e não possuem braços e pernas. Com o desenvolvimento dos girinos, surgem as pernas e os braços, e sua cauda se reduz até desaparecer. Nesse momento os anuram são chamados de imagos e já respiram fora da água.


Curiosidades sobre os sapos

  • Os sapos não produzem um leite que cega. A produção de leite é uma característica dos mamíferos, e os sapos não são mamíferos. Alguns deles produzem uma secreção branca como mecanismo de defesa contra predadores pelas glândulas paratóides quando são pressionadas. O sapo-cururu (Rhaebo guttatus) é uma das poucas espécies que tem a capacidade de lançar por cerca de 2 metros de distância essa secreção, mesmo sem a compressão da glândula.
  • A respiração dos sapos é pulmonar e cutânea. Por conta disso, colocar sal neles pode levar a morte do animal por hemorragia, desequilíbrio hídrico e infecções. Não estimule essa prática, é extremamente cruel.
  • A cor dos anuros normalmente é um indicativo de serem venenosos. Quanto mais coloridos, mais venenosos costumam ser. No entanto, esse veneno só é prejudicial em contato com uma mucosa. Evite o contato com o animal que você está livre desse risco.
  • O veneno de alguns anuros também é utilizado como veneno por alguns grupos indígenas, colocando-o na ponta de flexas para auxiliar na caça.
  • Os anuros podem ser indicativos de boas condições ambientais devido a sua respiração cutânea, eles só sobrevivem em regiões com pouca poluição. 
Anuros venenosos da Amazônia. 


Os sapos (Aristófanes, 405 AEC)

  • Os sapos (grego: Βάτραχοι, transliteração Bátrakhoi , lit. “Rãs”; latim: Ranae , muitas vezes abreviado Ran. ou Ra.) é uma comédia escrita pelo dramaturgo grego antigo Aristófanes . 
  • Foi apresentada pela primeira vez no Lenaea, um dos Festivais de Dionísio em Atenas , em 405 AEC e recebeu o primeiro lugar. 
  • Essa história foi inspirada na morte de Eurípides (406 AEC), um dos três grandes dramaturgos atenienses.
  • Na história, o deus Dionísio e o seu desrespeitoso escravo Xântias vão ao Submundo para buscar Eurípides de volta dos mortos porque a cidade e a tragédia ateniense estavam em péssimas condições.
  • Ao chegar ao barqueiro Caronte, Dionísio precisa ajudá-lo a remar. Com isso, começa o primeiro coro de sapos coaxantes em um canto onomatopeico irritante: Brekekekèx-koàx-koáx (grego: Βρεκεκεκὲξ κοὰξ κοάξ ). Dionísio e o servo são chicoteados por Aeacus, um dos juízes do Submundo. 
  • Ao chegar até Eurípides, ele encontra também Ésquilo, outro brilhante dramaturgo. Ele faz os dois competirem para ver quem iria retornar com ele para o mundo dos vivos. Com um empate, ele acaba por escolher Ésquilo, deixando Eurípides furioso.


As dez pragas do Egito

  • Na mitologia judaico-cristã existe o relato das 10 pragas do Egito (Êxodo 7-11). Elas consistem em 10 calamidades que o Deus de Israel infligiu sobre o Egito para convencer o faraó a libertar os hebreus que estavam sendo escravizados. 
  • A segunda praga diz respeito a rãs cobrindo a terra: Esta praga surgiu após Aarão (irmão de Moisés, que o acompanhou durante todo o processo) estender a mão sobre o Egito e, sob intercessão do Deus dos hebreus, fez surgir rãs de todos os lugares.
  • Essa praga pode ter sido uma forma de humilhar a deusa-rã, Heket (Heqat, Hekit, Heket, Hegit ou Heget). A rã é o símbolo da fertilidade, parto, morte e da ressurreição no conceito egípcio (Êxodo 8:5-14). Durante as cheias do rio Nilo, muitos sapos surgiam, por isso são associados a fertilidade trazida com as cheias.
  • As parteiras egípcias também eram chamadas de servas de Heket. Ela também aparecia como guia das almas que morreram recentemente. Heket é quem coloca a alma no corpo que é criado pelo seu consorte Khnum. Quando a morte chega, Heket corta os vínculos entre a vida e a alma e prepara o corpo para a próxima vida.
  • Os sapos representavam abundância e, portanto, tornaram-se um símbolo para o número hufnu, que significava 100.000. Muitas culturas nativas colocam pequenas moedas de sapo em suas bolsas porque acreditam que isso evita a perda de dinheiro.
Deusa Heket.


O Príncipe Sapo

  • O conto de fadas alemão “O Príncipe Sapo” (alemão Der Froschkönig oder der eiserne Heinrich , literalmente “The Frog King or the Iron Henry”) foi coletado pelos Irmãos Grimm e publicado em 1812 em “Grimm’s Fairy Tales”.
  • Na história, uma princesa fez amizade com o Príncipe Sapo após ele devolver uma bola de ouro que ela tinha jogado em um lago. O príncipe estava sob feitiço de uma fada malvada. 
  • Na versão dos irmãos Grimm, ele retorna a ser um belo príncipe quando o sapo é jogado pela princesa contra uma parede. Em outras versões mais recentes, ele volta a ser um príncipe após receber um beijo da princesa ou após dormir a noite no travesseiro da princesa.
  • Na história, quando o príncipe é amaldiçoado, o seu servo Henry (ou Harry) fica com três faixas de ferro em torno do seu coração para evitar que o coração dele se quebrasse de tristeza. Quando o príncipe volta a sua forma original, Henry fica muito feliz e tem as amarras de ferro liberadas do seu coração.
O Príncipe Sapo de Paul Friedrich Meyerheim (1889).


A lenda do Muiraquitã

  • Muiraquitã ou muyrakytãs vendo do tupi e são amuletos da sorte que é um pequeno sapo feito de pedra ou argila, na cor verde confeccionado em jade ou amazonita.
  • Eram usados por indígenas como os Tapajós e Konduri que habitavam o Baixo Amazonas.
  • Segundo a lenda esses amuletos eram feitos por belas mulheres indígenas que habitavam as margens do rio Amazonas. Essas mulheres nas noites de lua cheia se dirigiam a um lago próximo e mergulhavam em busca de belas pedras para fazer os amuletos para seus amados levarem na caça. Elas acreditavam que o amuleto traz poder, sorte e felicidade.
  • Segundo as índias Icamiabas, ou Amazonas de Orellana, eram mulheres guerreiras, sem maridos, que habitavam o Baixo Amazonas. Uma vez ao ano, nas fontes do rio Nhamundá, na serra Yacy-taperê (serra da lua), onde havia um lago, Yacy-uaruá (espelho da lua), faziam uma festa em nome de Iacinará ou Iaci, a lua. Após dormirem com os Guacaris, homens de outra tribo especialmente convidados para a festividade, as índias mergulhavam no lago e traziam um barro esverdeado com o qual modelavam muiraquitãs, que eram oferecidos como amuletos aos guacaris.
  • Segundo os índios Uaupés, no rio Uaupés, havia um lago onde morava uma anciã, a mãe do muiraquitã. Certa manhã, ela se transformou numa serpente, e foi morta por um homem. O rio imediatamente inundou, afogando toda a tribo, restando apenas a marca da anciã, o muiraquitã.
  • Esse amuleto também pode ser feito em formato de jacaré, tartaruga, onça, mas o sapo é o formato original da lenda.
Amuleto muiraquitã.


Chan Chu

  • O Chan Chu (chinês tradicional: 蟾蜍; Pinyin: chánchú; Wade-Giles: ch’an-ch’u) significa “sapo” ou “rã”, especialmente o “Sapo da Sorte nas Finanças” (chinês tradicional: 招财蟾蜍; Pinyin: zhāocái chánchú; lit. sapo da prosperidade) ou Sapo de Três Pernas da Sorte, um símbolo popular de prosperidade da China. 
  • É normalmente retratado como um sapo-boi, com olhos vermelhos e narinas flamejantes, levando uma moeda na boca e sentando em uma pilha de moedas chinesas, barras de ouro ou em um bagua. Saindo dos cantos de sua boca, passando por seus ombros há também um cordão com moedas. Sua boca mantém-se aberta o suficiente para introdução e retirada de uma moeda, geralmente difere das demais por ser cunhada com imagens de dragões ou pássaros ao invés de símbolos escritos. No topo de sua cabeça é encontrado o símbolo do yin e yang. Nas suas costas geralmente encontram-se sete pedras conectadas por um linha representando a constelação de ursa minor. No final de suas costas encontra-se uma única perna virada para a esquerda.
  • Segundo a sabedoria do feng shui, acredita-se que ele tenha o poder de afastar o mal, proteger a riqueza e aumentar a renda. Segundo a tradição deve ser colocado encarando a porta comercial ou residencial expressando o desejo do dono em trazer dinheiro de fora.


Sapos em diferentes culturas

  • Em diferentes povos mesoamericanos pré-colombianos, os sapos são espíritos da chuva. Eles eram usados em rituais para atrair chuva.
  • Os primeiros astecas viam o sapo como a deusa mãe da terra, que governava o ciclo de morte e renascimento.
  • Os antigos chineses viam o sapo como uma força feminina e a lua era seu símbolo. Em alguns contos, os eclipses eram explicados como sendo os sapos que engoliam a lua.


Os sapos e a bruxaria

  • Durante a Inquisição, as bruxas eram associadas a espíritos familiares, e os sapos eram animais associados a elas. Com isso, surgiram superstições de que os sapos são um mal presságio.
  • Além de ser disseminado que as bruxas colocam o nome das pessoas que elas querem amaldiçoar dentro da boca de um sapo.
  • Os sapos são animais presente nos limiares entre a água e a terra. Isso nos ensina a termos equilíbrio entre as emoções (água) e a materialidade (terra).
  • Diferentes aspectos dos sapos podem ser evocados na bruxaria moderna, entre eles:
    • Associação do sapo com com alguma divindade;
    • Ciclo de vida na água e na terra;
    • A metamorfose;
    • Animal de poder;
    • Familiar;
    • Cantos do submundo;
    • A ligação com a noite por serem noturnos.


Referências

  1. Sapo, perereca ou rã. Disponível em <http://herpeto.org/blog/sapo-perereca-ou-ra/> Acessado em 07/05/2022.
  2. Dez pragas do Egito. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Dez_pragas_do_Egito> Acessado em 07/05/2022.
  3. Heket – A deusa sapo da fertilidade. Disponível em <https://dezmilnomes.wordpress.com/2019/12/11/heket-a-deusa-sapo-da-fertilidade/> Acessado em 07/05/2022.
  4. The Frog Prince. Disponível em <https://en.wikipedia.org/wiki/The_Frog_Prince> Acessado em 07/05/2022.
  5. The frogs. Disponível em <https://www.greekmythology.com/Plays/Aristophanes/The_Frogs/the_frogs.html> Acessado em 07/05/2022.
  6. Frog myths, folklore, proverbs and fairytales. Disponível em <https://savethefrogs.com/pt-br/frog-myths-folklore-proverbs-fairytales/> Acessado em 07/05/2022.
  7. Muiraquitã. Disponível em <https://www.sohistoria.com.br/lendasemitos/muiraquita/> Acessado em 07/05/2022.
  8. Muiraquitã. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Muiraquit%C3%A3]> Acessado em 07/05/2022.
  9. The witch and the toad. Disponível em <https://www.patheos.com/blogs/witchofthewoodwithravenwood/2019/06/the-witch-and-the-toad/> Acessado em 07/05/2022.
  10. Chan Chu. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Chan_Chu> Acessado em 07/05/2022.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

5 + 18 =

error: O conteúdo é protegido!