Bestiário

Cigarras

Introdução

  • Cigarras são insetos da família Hemiptera, subordem Homoptera, existem mais de 1500 espécies de cigarras.
  • O ciclo de vida das cigarras consiste na morte da fêmea após colocar os ovos. Os jovens quando saem dos ovos vão para debaixo da terra por cerca de 1 a 17 anos e se alimentam da seiva das raízes das plantas. Após esse período, elas fazem a muda (ecdise), se tornando adultas e passam a se alimentar da seiva dos caules e das folhas.  Agora estão aptas para o acasalamento que ocorre em períodos quentes do ano. Os machos cantam para atrair as fêmeas. As fêmeas fazem um som mais baixo.
  • Elas são consideradas pragas para diferentes culturas de plantas e são alimento para diferentes espécies de pássaros.
Ciclo de vida das cigarras.


Curiosidades sobre cigarras

  • Algumas cigarras fazem um canto que atinge notas tão agudas que não é percebido pelos humanos.
  • As cigarras não cantam até estourar. Esse mito é contado por pessoas que encontraram suas cascas após a ecdise.
Muda (ecdise) da cigarra Tibicen sp.


Mitologia grega

  • A Deusa Eos era a personificação do amanhecer, filha de Hipérion e Thea. Ela era irmã de Hélios (o Sol) e Selene (a Lua). Ela era apaixonada por homens bonitos, provavelmente por maldição de Afrodite. Ela tinha como amantes: Órion, Phaethon, Kephalos e Tithonos. O princípe troiano Tithonos se tornou o cônjuge oficial. Segundo o mito, a deusa pediu a Zeus a imortalidade de seu consorte, mas não pediu juventude eterna. Isso fez com que o amado murchasse pela velhice e se transformasse em uma cigarra ou gafanhoto.
Deusa Eos pintado por Evelyn De Morgan.
  • Para os gregos antigos, desde Homero, o canto das cigarras é um dom das Musas. 
  • As cigarras também são protegidas por Apolo, como demonstra as moedas de Camarina, Caulonia e de Atenas, nas quais ela figura ao lado do deus. Já que elas cantam mais alto no ápice do calor do sol.
  • No texto “Historia Animalium” de Aristóteles, ele descreve o ciclo de vida das cigarras de ficarem embaixo da terra em boa parte de suas vidas, a progressão para a forma alada e seu canto. Com isso, ele se torna responsável por disseminar a simbologia de que as cigarras são ligadas a ressurreição e a imortalidade. Além disso, ele é um grande degustador de cigarras, preferindo a fase de ninfa.

“Outrota, as cigarras eram homens, homens que viveram antes do nascimento das musas. Quando estas vieram ao mundo, e trouxeram a revelação do canto, alguns homens desse tempo deixaram-se sugestionar de tal maneira por esse canto que, assim embrevecidos, se esqueciam de comer e ber, tendo morrido sem dar por isso! É justamente desses homens que provém a espécie das cigarras, que recebeu das musas o privilégio de, uma vez surgida, não ter qualquer necessidade de se alimentar, podendo por isso, com o estômago vazio e o papo seco, cantar sempre, desde que nasce té que morre, até o momento de voltar para junto das mussas a dar conta dos homens que, aqui na terra, rende culto às musas!”

O mito da cigarra (Fedro, de Platão)

“No inverno, arrastando o grão do fundo da casa, 
a formiga secava o que no verão ajuntara. 
E a cigarra, faminta, 
suplicou-lhe um pouco de comida para viver.
‘O que então fazias’, disse, ‘nesse verão?’ 
‘Não tive folga, passei o tempo cantando.’ 
E, rindo, a formiga trancou o grão. 
‘Dança no inverno’, respondeu, ‘se flauteaste no verão’. 
[É melhor pensar nas necessidades do que ter a mente voltada para prazeres e folias.]” 

A fábula da formiga e a cigarra, de Aristófanes

“Abençoamos-te, cigarra, 
quando, no alto das árvores, 
com pouco orvalho já saciada, 
cantas como um rei. 
Pois tuas são todas as coisas 
que vês nos campos
e que produzem as matas. 
Tu poupas os lavradores, 
em nada lhes prejudicando, 
tu és honrada pelos mortais, 
doce profeta do verão. 
Amam-te as Musas, 
ama-te o próprio Febo, 
e claro canto concedeu-te. 
A velhice não te consome, 
ó sábia, nascida da terra, 
amante da canção, 
sem-dores, sem-sangue, 
és quase símil aos deuses.”

Poema de Anacreôntea


Cigarra em outras culturas

  • As cigarras também estariam associadas ao deus asiático Baal ou Beelzebub que preside sobre as criaturas e doenças (febres, pragas) do calor do verão.


Referências

  1. Filho Azevedo,  D. S. A. O mito das cigarras (um canto de Ironia). Contexto: Revista do Departamento de Línguas e Letras e do Mestrado em Letras: Literatura Brasileira, n. 5, 1998.
  2. Aristófanes. Nuvens, 1360.
  3. Corrêa, P. C. O Canto da Cigarra. KLÉOS N .11/12: 23-32, 2007/8
  4. Eos. Disponível em <https://www.theoi.com/Titan/Eos.html> Acessado em 20/04/2022.

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