Bruxaria devocional,  Chá com a bruxa

Uso de estátuas na prática devocional

Introdução

  • Venho falar nesse texto sobre a necessidade de ter representações físicas de deuses nos altares e como isso afeta a nossa relação com as divindades. Uma escolha simples pode ter efeitos psicológicos profundos na nossa prática devocional e também mágica.
  • Não pretendo esgotar o assunto nesse texto, mas apresentar o debate para vocês refletirem sobre o assunto.

Experiência dos ícones para estátuas

  • Existem alguns critérios que costumam nortear a representação de uma divindade, entre eles:
    • Historicamente como a divindade era representada em textos, pinturas e estátuas?
    • Como era o povo que cultuava essa divindade?
    • Quais são os elementos que se relacionam com essa divindade?
    • Qual é o meu poder aquisitivo para investir em uma estátua?
    • Como você sente ou vê que essa divindade?
  • A maior questão é, uma vez escolhida uma estátua, ela influenciará diretamente a forma que você enxerga essa divindade seja em viagens astrais, meditações ou na sua prática devocional perante a estátua. Como eu tive criação cristã, uma das primeiras incoerências que percebi era o debate sobre ter estátuas ou não. Os cristãos protestantes/evangélicos sempre criticavam os cristãos católicos por eles terem representações de Jesus, santos e anjos e eu nunca entendia o motivo.

Não terás outros deuses além de mim. Não farás para ti nenhum ídolo, ne­nhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto, porque eu, o Senhor, o teu Deus, sou Deus zelo­so, que castigo os filhos pelos pecados de seus pais até a terceira e quarta geração daqueles que me desprezam, mas trato com bondade até mil gerações aos que me amam e obedecem aos meus man­damentos.

Bíblia Cristã, Êxodo 20:3-6.
  • Depois de adulta, quando retornei a bruxaria, eu comecei a pensar se eu deveria ter ou não imagens. Percebi que a crítica bíblica tinha muita relação com o costume pagão de ter representações físicas das divindades e era mais uma tentativa de demonização do paganismo, tentando afastar o máximo possível os dogmas cristãos dos pagãos.
  • Eu me questionei muito sobre como seriam as divindades para mim até que cheguei a conclusão que não era possível resumir em imagens uma divindade. Na minha opinião, os deuses são energias da natureza, eles se manifestam em situações do dia-a-dia. Como transformar isso em imagem?
  • Os meus primeiros altares não tinham imagens de deuses, apenas elementos naturais como grãos, velas e figuras de paisagens. Entendi que a natureza era formada pelos quatro elementos, e representando-os, eu estaria representando os deuses.
Os quatro elementos: terra, ar, fogo e água.
  • Quando eu comecei uma prática devocional para divindades, eu tinha uma representação do feminino como a lua e do masculino como o sol, ainda representado com elementos naturais, bem próximo do que é representado pelos wiccanos.
  • Tudo mudou bastante quando comecei a cultuar deuses helênicos, Afrodite, Hécate, Perséfone e Deméter foram as deusas que eu mais tinha contato nos anos de 2021 e 2022. O povo helênico tinha muitas estátuas para suas divindades. Eu voltei com a questão da personificação dos deuses com formatos humanos.
  • Para mim, Afrodite era representada com imagens de oceano e animais marinhos. Ela se manifestava quando eu me amava, quando eu fazia sexo, quando eu sentia prazer. Já Hécate era representada por cães negros, chaves e encruzilhadas. Ela se manifestava quando eu tinha que tomar decisões difíceis e quando eu saía de casa e pedia que ela guardasse o meu lar. Perséfone era representada por romãs, flores, animais polinizadores, perfumes, ervas aromáticas e ela se manifestava quando eu tinha que seguir a minha opinião mesmo que isso fosse desagradar alguém. Deméter era a chefe da minha cozinha, tudo que eu comia era abençoado por ela, todos os frutos da terra eram representações dela. Ela se manifestava quando eu tinha que defender alguém que eu amava.
  • Eu passei um bom tempo sem sentir nenhuma necessidade de ter estátuas. Outro ponto que reforçava isso era que o mercado de estátuas é extremamente elitizado. Peças artesanais são realmente caras e nem estou falando que deveriam ser baratas, mas realmente limita o acesso. Eu não sentia falta e nem se sentisse, teria o dinheiro para obtê-las.
  • No entanto, com o aprofundamento dos estudos do paganismo helênico, eu comecei a sentir que as representações clássicas sejam em estátuas ou pinturas influenciavam nos meus processos de visualização dos deuses. De uma maneira gradual, eu não conseguia mais ver os deuses apenas em situações, criaturas e objetos. Eles começaram a surgir em sonhos e visualizações com corpos. Desde de que começou essa processo, ele se tornou cada vez mais frequente. Cada divindade adotava corpos diferentes, mas sempre de humanos. Algumas vezes com túnicas tampando boa parte do corpo e rosto, mas ainda assim humanos e com vozes.
  • A partir desse momento, comecei a sentir necessidade de ter representações mais humanas nos meus altares e assim vai sendo até o momento da criação desse texto.

Vantagens e limitações das estátuas

  • As estátuas são instrumentos mágicos que auxiliam no trabalho devocional. A medida que você chega próximo dela para fazer orações ou a simples presença dela no seu altar, ela começa a atuar como um depósito energético. Toda a energia movimentada no local onde a estátua está acaba gerando impressões energéticas nos outros mundos.
  • Dito isso, sabe-se da importância de fazer limpezas energéticas e consagrações em estátuas recém adquiridas uma vez que ela esteja armazenada em um local que você desconhece.
  • Com o passar do tempo, a estátua acaba tendo um efeito de moldar o seu imaginário de maneira que o formato dela pode acabar restringindo a visão que você tem da divindade em suas visões. Pode-se chegar ao ponto que você não consiga mais entender a divindade com outras formas. Nesse ponto que mora o perigo.
  • A divindade pode se manifestar para você utilizando formas semelhantes a estátua que você possui porque cria uma familiaridade contigo. Algo como, eu imagino uma maçã de uma forma, então toda vez que eu ver essa forma, saberei que é uma maçã. Isso facilita as conexões, é por motivo similar que utilizamos outros instrumentos mágicos, para facilitar o fluxo energético.
  • No entanto, você pode acabar deixando a sua visão preguiçosa e você pode deixar de ver a divindade se manifestando em outras situações, criaturas, pessoas e por aí vai. A estátua pode acabar se tornando uma muleta, onde você não consegue mais ver a imensidão de possibilidades de manifestação da divindade.

Prática sem estátuas

  • Podemos aprender bastante com religiões devocionais que não utilizam estátuas. Não estou falando que deva banir as estátuas da sua prática, apenas faço um alerta para não se limitar ao uso delas.
  • Exercite a sua mente fazendo atos devocionais sem estátuas. Veja alguns exemplos de práticas:
    • Busque as correspondências naturais da divindade em que você se relaciona e reúna alguns desses elementos. Pode ser apenas as imagens deles. Toque ou imagine esses objetos por um período de tempo, pode ser uma semana ou mais. Comece a conversar com a divindade através desses elementos também. Sinta por si mesmo o motivo desses elementos serem relacionados a divindade.
    • Crie sozinho seus próprios símbolos, sigilos ou desenhos que não envolvam a energia da divindade. A ideia é ele que você se conecte com a divindade através desse desenho feito.
    • Faça orações em lugares naturais que se relacionam com a divindade. Sinta o vento, a água, o calor do sol, a luz da lua, os sons da natureza como manifestações das divindades.
    • Faça ou obtenha estátuas que não tenha formatos humanos para representar as divindades ou que tenham poucos traços humanos para permitir que a sua imaginação possa criar variações.
    • Monte um pote que representa a divindade colocando dentro deles símbolos e elementos que representam a divindade para você. Esse sozinho já vira um altar super discreto.
  • Seja criativo e faça conexões com e sem estátuas. A divindade não está viva naquela estátua. Se ela quebrar e deixar de ser produzida, você não conseguirá mais se conectar com os deuses? Cuidado para não ficar dependente demais desses instrumentos.

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