Leitura clássica,  Oferendas para Koré & Perséfone,  Rainha & Donzela

Hino Órfico XXIX a Perséfone

Introdução

  • Os hinos órficos são um conjunto de 87 poemas hexamétricos escritos entre os séculos II e IV EC utilizados no culto órfico pré-clássicos compostos no final da era helenística ou início da era imperial romana, atribuídos ao poeta lendário Orfeu, mas provavelmente escrito por vários poetas.
  • O objetivo dos hinos órficos é entrar em contato com os deuses da forma que agradem eles, como preces. 
  • Eles são hinos cléticos porque funcionam como invocações às divindades, com instruções de oferendas vegetais e incensos com propostas de uma relação recíproca, onde você realiza um ato devocional em troca de um favor.
Coletânea dos hinos órficos.

Hino Órfico XXIX a Perséfone

Perséfone, abençoada filha do grande Zeus, filha única
de Deméter, venha e aceite este gracioso sacrifício.
Muito honrada esposa de Pluto, nobre e doadora da vida,
tu comandas os portões do Hades nas entranhas da terra,
Praxidikê (justiça exata) amavelmente trançada, pura flor de Deo,
mãe das Fúrias, rainha do mundo inferior,
a quem Zeus gerou em união clandestina.
Mãe do Eubouleus que tem várias formas e que ruge alto,
radiante e luminosa companheira de recreação das Estações,
augusta, toda-poderosa, rica donzela em frutos,
brilhante e de cornos, só tu és a amada dos mortais.

Na primavera tu rejubilaste nas brisas das campinas
e mostras tua figura sagrada nos brotos e frutos verdes.
Foste feita esposa de um raptor no outono,
e apenas tu és vida e morte para os mortais que labutam;
Ó Perséfone, pois tu sempre nutres tudo e matas tudo também.
Escutai, ó abençoada deusa, e enviai os frutos da terra.
Tu que floresces em paz, em saúde de mão suave,
e em uma vida de fartura transportas pelo ar a velha idade
em conforto até teu reino, ó rainha, e para o reino do poderoso Pluto.

Tradução: Alexandra Oliveira – Helenos BR

Análise

I) Exaltação dos domínios

  • A primeira parte do hino é uma exaltação às características de Perséfone e o sacrifício é feito, citando seus epítetos:
    • Filha do poderoso Zeus – (θυγάτηρ μεγάλου Διός, ΘΥΓΑΤΗΡ ΜΕΓΑΛΟΥ ΔΙΟΣ). Hino Órfico 29.1.
    • Filha única de Deméter – (μουνογένεια Θεά, ΜΟΥΝΟΓΕΝΕΙΑ ΘΕΑ) aceso. “só nascido da Deusa.” Hino Órfico 29.2.
    • Ploútonos polutime dámar (Πλούτωνος πολύτιμε δάμαρ, ΠΛΟΥΤΩΝΟΣ ΠΟΛΥΤΙΜΕ ΔΑΜΑΡ, esposa de Plutão, muito reverenciada) Hino Órfico 29.3.
    • Kedné ou Cedne (grego κεδνή, ΚΕΔΝΗ, nobre, confiável). Hino Órfico 29.3.
    • Biodotis ou Viodóhtis (grego βιοδῶτις, ΒΙΟΔΩΤΙΣ. Substantivo. Fem. de βιοδώτης e βιοδότης., doadora da vida, vivificante). Hino Órfico 29.3.
    • Praxidice, Praxidíki, Paraxidikê ou Praxidikê (grego πραξιδίκη, ΠΡΑΞΙΔΙΚΗ, ela que exige retribuição pela injustiça ou executora da justiça). Hino Órfico 29.5.
    • Eatoplocamus (grego ἐρατοπλόκαμος, ΕΡΑΤΟΠΛΟΚΑΜΟΣ, possui lindas mechas de cabelo ou amavelmente trançada) Hino Órfico 29.5.
    • Filha pura de Deméter ou Pura flor de Deo – (Δηοῦς θάλος ἁγνόν, ΔΗΟΥΣ ΘΑΛΟΣ ΑΓΝΟΝ) Hino Órfico 29.5.
    • Mãe de Eríneas, Fúrias ou Evmænídæs (Εὐμενίδες) – (grego Εὐμενίδων γενέτειρα, ΕΥΜΕΝΙΔΩΝ ΥΕΝΕΤΕΙΡΑ) Hino Órfico 29.6.
    • Katakhthonion basileia (grego καταχθονίων βασίλεια, ΚΑΤΑΧΘΟΝΙΩΝ, Rainha do Submundo) Hino Órfico 29.6.
    • Companheira de recreação das estações (Ὧραι [As Estações]) – (Ὡρῶν συμπαίκτειρα, ΟΡΩΝ ΣΥΜΠΑΙΚΤΕΡΙΑ) Hino Órfico 29.9.
    • Karpophoros (grego κόρη καρποῖσι βρύουσα, ΚΟΡΗ ΚΑΡΤΟΙΣΙ ΒΡΥΟΥΣΑ, rica donzela em frutos) Hino Órfico 29.10.
    • Semne (grego σεμνή, ΣΕΜΝΗ. σεμνός é masculino; σεμνή é feminino.) santo, reverenciado. Hino Órfico 29.10.
    • Pandokráteira ou Pantocrateira ou Pasikrateia (grego παντοκράτειρα, ΠΑΝΤΟΚΡΑΤΕΙΡΑ. Fem. de παντοκράτωρ.) toda-poderosa. Hino Órfico 29.10.
    • Euphenges (grego εὐφεγγής, ΕΥΦΕΓΓΗΣ, brilhante).  Hino Órfico 29.11.
    • Potheiní ou Potheine (grego ποθεινή, ΠΟΘΕΙΝΗ, amada). Hino Órfico 29.11.
    • Cornígera, ceroessa, coroessa ou keroessa (grego κερόεσσα, ΚΕΡΟΕΣΣΑ. Fem. de κερόεις., que possui chifres) Hino Órfico 29.11.
    • Ánassa – (grego ἄνασσα, ΑΝΑΣΣΑ, rainha). Hino Órfico 29.20.

II) Lembrança do mito

  • A segunda parte é a lembrança do seu mito, contando sobre o rapto.

Na primavera tu rejubilaste nas brisas das campinas
e mostras tua figura sagrada nos brotos e frutos verdes.
Foste feita esposa de um raptor no outono,
e apenas tu és vida e morte para os mortais que labutam;
Ó Perséfone, pois tu sempre nutres tudo e matas tudo também.

Tradução: Alexandra Oliveira – Helenos BR

III) Pedidos, oferendas e agradecimentos

  • A parte final do hino é o pedido de bênçãos de chegar até a velhice e ser levado ao submundo em conforto.

Escutai, ó abençoada deusa, e enviai os frutos da terra.
Tu que floresces em paz, em saúde de mão suave,
e em uma vida de fartura transportas pelo ar a velha idade
em conforto até teu reino, ó rainha, e para o reino do poderoso Pluto.

Tradução: Alexandra Oliveira – Helenos BR

Referências

  1. Antunes, P. B. (2018). Hinos órficos: edição, estudo geral e comentários filológicos (Doctoral dissertation, Universidade de São Paulo).
  2. Helenos. Disponível em <https://www.helenos.com.br/l-m-n-o-p> Acessado em 08/05/2022.
  3. Serra, Ordep. Hinos Órficos: Perfumes. Introdução, tradução, comentário e notas de Ordep Serra. São Paulo: Odysseus Editora, 2015. 768 p.

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