Herbário

Arruda

Arruda purificadora

  • A arruda (Ruta graveolens) é uma planta da família Rutaceae, que inclui espécies como o limoeiro, a laranjeira, tangerineira e limeira.
  • O nome do gênero Ruta vem do grego rute, derivado de ruesthai, que significa salvador, referindo-se ao poder curativo da planta.
  • A arruda possui origem europeia e com muitos usos citados ao longo da história da humanidade, devido suas folhas intensamente aromáticas, sendo plantada nas entradas de casas e templos para limpeza de miasmas.
  • Na Antiga Grécia era empregada para afastar doenças contagiosas; entre os romanos era popular como tempero de carnes. O pastor luterano e botânico alemão Jérôme Bock em seus escritos de 1551 sugeria que monges e religiosos a ingerissem misturada aos alimentos e bebidas, para garantir a pureza e castidade, o que a tornou abundante em jardins de mosteiros. Na Idade Média acreditava-se que a arruda era uma defesa contra a peste negra.
  • Shakespeare cita a arruda em sua obra “Hamlet”, como a “erva sagrada dos domingos”, lembrando os rituais de exorcismo, onde se utilizava uma mistura da erva com vinho. Na mesma época a infusão da planta era popular como anticoncepcional e abortiva.
  • Os escravizados africanos usavam-na contra mau-olhado.
  • A Igreja Católica, no início da era cristã, fazia raminhos de arruda para espargir água-benta nos fiéis.
  • No Brasil, atribui-se à arruda o poder de combater o “mau-olhado” – isto é, as energias negativas produzidas pelo olhar de uma pessoa com inveja. 
  • Uma crença popular que remonta aos tempos coloniais e que se diz ter origens africanas manda que os homens usem um pequeno galho de folhas por cima de uma orelha, ou que um galho seja mantido no ambiente, para espantar maus espíritos.
Arruda e suas flores.

Benzimento

  • Benzer (do latim bene dicere, tem o significado de bem dizer, fazer o bem) é a prática de benzeção ou benzimento é uma prática tradicional de cura de doenças físicas ou espirituais a partir de orações e uso de ervas.
  • Essa prática se desenvolveu no Brasil a partir de uma mistura conhecimentos indígenas, africanos e dos europeus colonizadores. Houve muito a mescla também do catolicismo que estava sendo imposto pelos colonizadores.
  • Em um país tropical, muitas eram as doenças que acometiam o povo e poucos eram os médicos disponíveis, além disso, muitas eram as crenças religiosas de afirmavam que as doenças poderiam ter origens sobrenaturais e com isso, precisavam ser tratadas não apenas do ponto de vista físico.
  • A figura da Benzedeira ou Rezadeira era quem fazia o benzimento porque possuem o poder ou dom de realizar a comunicação entre o mundo espiritual e o físico para obter a cura de doenças. O estereótipo de benzedeira constrói a imagem de uma mulher idosa católica ou da umbanda com seu terço e ramo de ervas. No entanto, não existem restrições para essa prática de cura.
Benzendo a Alma, o corpo e o coração, 2020. Artista: Rosângela Politano, Socorro, SP.
  • As benzedeiras são como cientistas populares, porque através de seu conhecimento de medicina tradicional e práticas religiosas, emprega curas em seus consulentes. Elas atuam como uma ponte entre os mundos, uma vez que incômodos e enfermidades podem ter origem física, mas também ser influenciada por aspectos espirituais, oferecendo um tratamento nessas duas frentes.

Eu te benzo, Fulano, desse quebrante, desse mal olhado, desse olho gordo
Quem te botou, te botaria
Quem tirará é a Virgem Maria
Com dois te puseram
Com três eu te tiro;
Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo

Reza para tirar mau olhado/quebranto – MERFOP- R10OP – Cunha, C. G. (2018)
Sombras de afeto, 2020. Artista: Ge Guevara, DIvinópolis, MG.
  • O processo de benzimento inclui a reza que através dela você expulsa o mal através do poder divino. Essas rezas normalmente são transmitidas entre gerações de maneira oral e possui uma egrégora antiga que podem incluir vários sincretismos.
  • Além da reza, é comum passar um ramo de plantas pelo corpo do consulente. Com isso, as plantas iriam absorver os males que estão no consulente.

Padre, Filho, Espírito Santo, Credo
Aguamento que tiver nessa matéria
Que tirai dela pra fora
Com três eu ponho
Com dois eu tiro
Em louvor de Deus e da Virgem Maria
Com as correntes do preto velho
Que tirai ela pra fora
Padre, Filho, Espírito Santo, Credo

Reza para tirar o aguamento – EFIFMA- R2MA – Cunha, C. G. (2018)
Plantas comuns no benzimento.
  • Pessoas que empregavam ervas para a cura de doenças existem desde o início da humanidade e quem tinha esse tipo de conhecimento tinha posição de destaque em seus grupos. Infelizmente com o ceticismo, racismo e a perseguição de religiões não-cristãs, essas pessoas e práticas passaram a ser perseguidas.
  • Não houve por parte dessas mulheres a intenção de desafiar e equiparar-se às autoridades médicas e eclesiásticas da época, muito pelo contrário, percebe-se que a benzeção nada mais era do que um recurso imediato e eficaz para o combate de doenças cotidianas que foram crescendo graças à escassez e ineficácia da medicina tradicional da colônia.
  • Foi justamente a eficácia de suas práticas que despertou a fúria dos médicos e padres da época, que se sentiram ameaçados por essas mulheres que, mesmo sem terem conhecimentos eruditos sobre curas e doenças, eram capazes de curar várias mazelas do cotidiano e ganhavam cada vez mais a confiança do povo que sempre recorria às suas práticas para se livrar de diversas mazelas.

“Curandeiras e benzedeiras, com suas palavras e ervas mágicas, suas orações e adivinhações para afastar entidades malévolas, substituíam a falta de médicos e cirurgiões.”

Del Priore, M. (2001).

Cimaruta

  • cimaruta (” chee -mah- roo -tah “; plural cimarute) é um amuleto ou talismã popular italiano, tradicionalmente usado ao redor do pescoço ou pendurado acima da cama de uma criança para afastar o mau-olhado (italiano: mal’occhio). 
  • Geralmente feito de prata, o próprio amuleto consiste em vários pequenos amuletos apotropaicos  (alguns dos quais inspirados no simbolismo cristão), com cada peça individual presa ao que supostamente representa um ramo de arruda – a erva medicinal florescente para a qual todo o talismã é nomeado, “cimaruta” sendo uma forma napolitana de cima di ruta: italiano para “raminho de arruda”.
  • As partes componentes do cimarute, que estão particularmente associadas ao sul da Itália, podem diferir consoante a região de origem. 
  • De um talo central de arruda que serve de base, irradiam múltiplos ramos que parecem florescer em vários desenhos; os ramos divergentes “brotam” em suas extremidades símbolos mágicos como: uma rosa; uma mão segurando uma varinha ou uma espada; um coração flamejante; um peixe; uma lua crescente; uma cobra; uma coruja; um capacete medieval emplumado; uma flor de verbena ; um golfinho; um galo; e uma águia. 
  • Uma cimaruta, por exemplo, pode conter a imagem coletiva de uma chave, uma adaga, uma flor e uma lua. A maioria tem dois lados e é bastante grande – alguns com quase dez centímetros de largura.


Arruda (Ruta graveolens)

  • Origem: Sul da Europa e Mediterrâneo.
  • Outros nomes: arruda-fedida, arruda-doméstica, arruda-dos-jardins, ruta-de-cheiro-forte, arruda-fedorenta, arruda-fêmea, arruda-macho, rue (em inglês).
  • A arruma é classificada como um subarbusto de folhagem densa e odor característico, que atinge até um 1,5 m de altura, apresentando haste lenhosa, ramificada desde a base.
  • As folhas são alternas, pecioladas, carnosas, glaucas, compostas, coloração verde-azulada com glândulas oleríferas, tendo até 15 cm de comprimento.
  • As flores são pequenas e amareladas-esverdeadas, hermafroditas com pétalas livres, lanceolada, com brácteas pequenas, ovário súpero com muitos óvulos.
  • O fruto é capsular, de quatro ou cinco lobos, salientes e rugosos, abrindo-se superior e inteiramente em quatro ou cinco valvas.
  • Sementes pardas e rugosas.
Desenho botânico da arruda.

Usos medicinais

  • Óleo essencial de 0,2 a 0,7% (metilnonilcetona; metilheptilcetonas 90%; de metilnonilcarbinol 10%; álcoois, ésteres, fenóis; compostos terpênicos); alcalóides de 0,4 a 1,4% (arborinina, graveolina (rutanina), alfa-fagarina; derivados furocumarínicos (bergapteno, xantoxina, psoraleno; compostos flavônicos (Rutina).
  • É indicada para nevralgias, afecções dos rins, bexiga e do fígado, reumatismo, gota, afecções cardíacas de natureza nervosa, vermicida, estimulante, emenagogo (provoca a menstruação), inflamação nos olhos, sarna, piolho, repelente, antiespasmódico, carminativo (contra gases intestinais), sudorífico (induz transpiração), analgésico.
  • Formas de uso: decocção, infusão, extrato, cataplasma, alcoolato e sumo das folhas misturado com outros sumos. Modo de usar:
    • Inflamação nos olhos – decocção: Ferver por alguns minutos, uma colher de sopa de folhas frescas moídas para uma xícara de água; lavar os olhos três vezes ao dia até desaparecerem os sintomas.
    • Piolho – infusão: Duas xícaras (de café) de folhas picadas com 500 ml de água fervente; coar, esfriar e lavar a cabeça por três dias.
    • Sarna – extrato: Folhas secas picadas (um copo) em um litro de álcool. Deixar em repouso por três dias e coar. Diluir 50%, e aplicar na área afetada.
    • Repelente: Queimar a parte aérea da planta, em forma de defumação.
    • Dores, gripes, reumatismo, em enagogo – infusão: Chá das folhas (uma pitada/xícara).
    • Abcessos – cataplasma: Aplicar cataplasma de folhas frescas sobre a parte afetada, cobrindo-o com gaze.
  • A ingestão excessiva de arruda pode ser perigosa, podendo causar hemorragias graves, dores epigástricas, cólicas, vômitos, convulsões e sonolência. Pelas suas propriedades emenagogas, durante a gravidez, pode provocar hemorragias e por sua vez o aborto.
  • Suas folhas são utilizadas como chá com fins calmantes. Na forma de infusão (20 g/L), ou empregando-se as folhas secas em pó, combate os piolhos.
  • Desde a antiga Grécia, era usada para afastar doenças contagiosas.
Folhas de arruda.

Cultivo

  • Ciclo de vida: Semi-Perene.
  • Tamanho: Subarbusto, 1,5 m de altura que forma touceira.
  • Luz: Sol pleno.
  • Substrato: Boa drenagem, ricos em matéria orgânica.
  • Clima ideal: não é tão exigente.
  • Água: Pouca rega.
  • Plantio: Espaçamento de 60 x 50 cm.
  • Propagação: sementes, por estaquia ou por divisão de plantas adultas.
  • Observações gerais:
    • A colheita das folhas é feita quatro meses após o plantio, logo no início da floração, quando ainda estão fechadas.
    • A secagem das folhas e flores deve ser em local ventilado ou em secador com temperatura máxima de 35° C (folhas) e 30° C (flores).
Arruda em jarro.

Correspondências mágicas

  • Gênero: Masculino.
  • Planeta: Marte.
  • Elemento: Fogo.
  • Tarot: Sol e A Morte.
  • Absorver negatividades, doenças e miasmas de pessoas e ambientes.
  • Pode ser trabalhada a arruda junto com divindades e seus epítetos ligados a proteção, purificação e cura.
Canto Emicida com ramo de arruda na orelha.

Usos mágicos

  • Rituais:
    • A arruda pode ser utilizada no khernips para purificação de miasmas.
    • É possível fazer contra-feitiços e proteções com o arruda.
    • Construção de círculo mágico com arruda.
    • Você pode usar a arruda em magias de cura vestindo uma vela verde ou amarela, em banhos mágicos, com amuletos e com benzimentos.
    • O uso da arruda em sprays mágicos pode ser utilizado para limpeza de portas, janelas e espelhos.
    • Poções com arruda são ótimas para limpeza de instrumentos mágicos recém comprados.
    • Você pode construir um desenho/sigilo como um cimaruta para ter em seu altar ou em locais que queira proteger.
    • Tatuagens ritualísticas com arruda também são ótimas pedidas.
    • Arruda também é muito potente em exorcismos.
    • Evite ao máximo o consumo interno em alimentos ou chás.
    • Ter a planta na entrada de casa é ótimo para a proteção e limpeza dos moradores.
Arruda e seus usos mágicos.
  • Cozinha mágica:
    • Na antiga Roma a arruda (ou alguma das espécies do gênero Ruta) era usada como tempero para diversos preparos. No entanto, o seu uso como tempero de carnes, sopas e saladas bem como no preparo de infusões, licores digestivos e aromatização de vinhos deve ser limitado e acompanhado, devido sua toxicidade.
    • A utilização mais segura da arruda é com a energização de pratos com ramos de arruda ou incenso em bastão ou em vareta, assim evita-se o consumo interno, mas a energia desejada esteja imantando o alimento.
    • Evite ao máximo o consumo interno em alimentos ou chás. Ela é totalmente proibida para gestantes.
Bastão para defumação com arruda.
  • Outros usos:
    • Ter a planta em natura no quintal ou em jarros;
    • Defumação com as folhas e flores;
    • Incensos com a erva;
    • Banho mágico com as folhas e flores;
    • Velas perfumadas com óleo essencial de arruda ou vestida com a folha triturada;
    • Sachê com as folhas secas como amuleto;
Chaveiro de arruda.

# As informações aqui não substituem a consulta médica.

Referências

  1. Eckel, A. J. (2020). A prática do benzimento e o uso de ervas medicinais na comunidade Rio da Areia de Baixo-Mafra SC. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
  2. Cunha, C. G. (2018). A prática da benzedeira: memória e tradição oral em terras mineiras. Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
  3. Del Priore, M. (2001). Magia e medicina na colônia: o corpo feminino. In História das mulheres no Brasil (pp. 78-114).
  4. Arruda. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Arruda> Acessado em 01/12/2023.
  5. Arruda. Disponível em <https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/100482/1/Folder-arruda.pdf> Acessado em 01/12/2023.
  6. Dijigow, P. Arruda: uma planta repleta de história. Disponível em <https://www.escoladebotanica.com.br/post/arruda> Acessado em 01/12/2023.
  7. Cimaruta. Disponível em <https://en.wikipedia.org/wiki/Cimaruta> Acessado em 01/12/2023.

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