Necromancia

Doula da Morte

Introdução

  • A doula é uma profissional que auxilia um paciente dando conforto, acolhimento e apoio físico e emocional. 
  • Não precisa ser um profissional com formação na área da saúde como enfermeiras, técnicos ou médicos. No entanto, existem cursos profissionalizantes que oferecem o treinamento necessário para essa função.
  • É muito popularizado o papel da doula no auxílio de gestantes durante o pré-natal até os primeiros meses após o parto. 
  • A fase no nascimento não é o único momento da vida que precisamos desse serviço de assistência, durante o processo de morte e luto também estamos frágeis e contar com uma doula também facilita o processo.
  • A doula da morte, ou do fim da vida, é uma profissional que auxilia o paciente que está em tratamentos paleativos, sejam doentes em estado terminal ou idosos. Elas ajudam a família a lidar com o processo do luto.
  • As doulas não substituem ou dispensam a presença de um profissional da saúde. Enquanto eles se concentram nas necessidades físicas, a doula se concentra nas necessidades afetivas, emocionais e espirituais. Elas podem ou não ter filiação religiosa. 
  • Infelizmente no Brasil esse trabalho não é tão popular porque não se fala sobre a morte. Esse assunto virou um tabu, por conta disso, as pessoas não se preparam para ela.
Conforto emocional.

O ofício

  • Embora a presença da família nesses momentos finais seja fundamental, nem sempre é possível devido a rotinas de trabalho, distância de onde moram e/ou cuidado com outros membros da família, por isso, o trabalho da doula da morte é incentivado.
  • As suas atividades incluem:
    • Confortar a família sobre o luto;
    • Realizar as últimas vontades do paciente;
    • Garantir que os desejos do paciente sejam realizado após o falecimento;
    • Fazer companhia e confortar o paciente;
    • Segurar a mão do paciente nos momentos finais;
    • Auxílio na burocracia em torno do enterro e planejamento dos ritos funerários;
  • No Brasil, o primeiro curso para doulas da morte foi ministrado em 2019. O curso foi criado pelas gaúchas Tatiana Santana e Ana Portillo no curso amortser (tecendo amor pelo ser. até o fim). Antes disso, era preciso buscar orientação fora do país. Em março de 2020, começaram as aulas da terceira turma que foi online por conta do distanciamento social. 

Cuidados paliativos

  • Existem alguns termos clínicos que estão relacionados a morte que precisam ter suas diferenças claras:
    • Eutanásia – Define a morte que ocorre antes do previsto pela evolução natural da doença, por interrupção de um tratamento ou desligamento de aparelhos. A eutanásia só pode ser opção para um paciente com forte sofrimento, doença incurável ou em estado terminal, sendo motivada por piedade ou compaixão. Se a doença não for incurável, é considerado homicídio (código penal brasileiro art. 121).
    • Distanásia – Define a morte com sofrimento, uma vez que é feito prolongamento artificial da vida. A agonia do paciente é mantida por desejo dos familiares, impedindo a morte natural. Nesses casos pode se optar pela eutanásia.
    • Ortotanásia – Define a morte em processo natural, quando o paciente está em  estágio avançado de alguma doença ou sem possibilidade de cura pela ciência. Apenas um médico pode indicar ortotanásia e não pode prolongar a vida ou apaziguar a dor contra vontade do paciente.
  • Os cuidados paliativos ou paliativismo é um conjunto de práticas de assistência ao paciente em estado terminal em ortotanásia. O objetivo é oferecer dignidade e diminuir o sofrimento do paciente.
  • Segundo a Organização Mundial de Saúde (2002): “Cuidados paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, por meio de identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais.”
  • Essa equipe multidisciplinar inclui médicos, enfermeiros, psicólogos, sacerdotes e as doulas de morte. Os cuidados paleativos devem ser entendidos como uma política pública e o direito de recebê-los deve ser garantido pelo Estado.

Etapas do luto

  • O luto é um processo de reparação de uma perda. A morte é uma das perdas que uma pessoa pode ter que enfrentar.
  • A morte pode desencadear diferentes emoções no paciente e nos familiares e a doula de morte também auxilia no processo de luto. Os estágios psicológicos que uma pessoa ultrapassa durante o luto varia de acordo com o pesquisador. Segundo Elizabeth Kübler- Ross (2005), os estágios da perda incluem:
  1. Negação e isolamento – Servem como um mecanismo de defesa temporário, um para-choque que alivia o impacto da notícia, uma recusa a confrontar-se com a situação. Ocorre em quem é informado abruptamente a respeito da morte; embora considerado o primeiro estágio, pode aparecer em outros momentos. 
  2. Raiva – É o momento em que as pessoas externalizam a revolta que estão sentindo. Neste caso, tornam-se por vezes agressivos. Há também a procura de culpados e questionamentos, tal como: “Por que ele?”, com o intuito de aliviar o imenso sofrimento e revolta pela perda. 
  3. Barganha – É uma tentativa, de negociar ou adiar os temores diante da situação; as pessoas buscam firmar acordos com figuras que segundo suas crenças teriam poder de intervenção sobre a situação de perda. Geralmente esses acordos e promessas são direcionados a Deus e mesmo aos profissionais de saúde que a acompanham. 
  4. Depressão – É divida em preparatória e reativa. A depressão reativa ocorre quando surgem outras perdas devido à perda por morte, por exemplo, a perda de um emprego e, consequentemente, um prejuízo financeiro, como também a perda de papéis do âmbito familiar. Já a depressão preparatória é o momento em que a aceitação está mais próxima, é quando as pessoas ficam quietas, repensando e processando o que a vida fez com elas e o que elas fizeram da vida delas.
  5. Aceitação – Quando se chega a esse estágio, as pessoas encontram-se mais serenas frente ao fato de morrer. É o momento em que conseguem expressar de forma mais clara sentimentos, emoções, frustrações e dificuldades que as circundam. Quanto mais negarem, mais dificilmente chegarão a este último estágio. Cabe ressaltar que, esses estágios não são um roteiro a ser seguido e que podem sofrer alterações de acordo com cada perspectiva pessoal.
Etapas do luto segundo Elizabeth Kübler- Ross (2005).
  • Segundo John Bowlby (1990) existem quatro fases do luto:
  1. Entorpecimento – Quando as pessoas são noticiadas a respeito da perda, passam por uma fase de choque e negação da realidade, ficam extremamente aflitas, características principais da primeira fase, que tem duração de horas a uma semana.
  2. Anseio – É marcada pelo desejo de recuperar o ente querido, de trazê-lo de volta. Há buscas frequentes e espera pela aparição do morto; o enlutado passa a ter sonhos com ela e muita inquietação.
  3. Desorganização e desespero – Logo, culpa e ansiedade são manifestadas após o enlutado compreender a morte, devido a isso entra na terceira fase – o desespero e desorganização, sentimentos de raiva e tristeza são comumente encontrados, pois a pessoa se sente abandonada pela pessoa que partiu e incapacitada de fazer algo. 
  4. Reorganização – Depois que a pessoa tiver passado por momentos de raiva, choque, tristeza, entorpecimento, é que vai conseguir se restabelecer. Embora com a saudade presente, e ainda se adaptando às modificações causadas pela perda, poderá retomar suas atividades, completando a última fase do luto – a reorganização.

A importância de se falar da morte

  • Todos vamos morrer, isso é um fato. Então, por que esse assunto é tratado como um tatu ou algo anti natural? 
  • É fundamental que essa visão da morte seja desconstruída. Existem questões fundamentais que precisam ser pensadas enquanto a pessoa está viva para que suas vontades e sua memória sejam honradas após a morte. 
  • Faça um documento com suas decisões e entregue aos seus familiares ou advogado de confiança. Você não precisa ser rico para ter um testamento. Existem itens importantes que você pode querer que tenham uma destinação específica. Reuni aqui algumas informações que são importantes de serem pensadas:
    • Eu sou favorável a eutanásia, caso eu tenha um diagnóstico incurável e que eu dependa de aparelhos para sobreviver?
    • Eu sou doador de órgãos?
    • Quero ser enterrado ou cremado? Se for cremado, onde quero que fiquem as minhas cinzas?
    • Quais ritos funerários que eu considero válidos? Crie um protocolo.
    • Eu quero deixar o meu grimório ou o meu computador com quem?
    • Quais as senhas das minhas contas sociais e bancárias e quem vai se responsabilizar por isso?

Referências

  1. Basso, L. A., & Wainer, R. (2011). Luto e perdas repentinas: contribuições da Terapia Cognitivo-Comportamental. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 7(1), 35-43.
  2. Arantes, A. C. (2018). A morte é um dia que vale a pena viver. Leya.
  3. Arantes, A. C. (2020). Histórias lindas de morrer. Leya.
  4. ‘Idosos morrem sozinhos há anos’: doulas da morte agora atuam a distância. Disponível em <https://sites.usp.br/psicousp/idosos-morrem-sozinhos-ha-anos-doulas-da-morte-agora-atuam-a-distancia/> Acessado em 30/04/2022.
  5. Como é o trabalho das doulas do fim da vida. Disponível em <https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/12/01/Como-%C3%A9-o-trabalho-das-doulas-do-fim-da-vida> Acessado em 30/04/2022.
  6. Amortser. Disponível em <https://www.amortser.com.br/> Acessado em 30/04/2022.
  7. Qual a diferença entre eutanásia, distanásia e ortotanasia. Disponível em <https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/87732/qual-a-diferenca-entre-eutanasia-distanasia-e-ortotanasia> Acessado em 30/04/2022.

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