Herbário

Sempre-viva

A flor imortal

  • Sempre-viva é o nome popular dado a várias espécies de plantas que após colhidas e secas conseguem resistir consideravelmente ao tempo sem se estragar ou perder sua cor, daí a origem do nome “sempre viva”. 
  • As sempre-vivas são um grupo de plantas conhecidas por sua incrível capacidade de manter a forma e a coloração das flores mesmo após a secagem. Esse nome popular engloba diversas espécies pertencentes a diferentes famílias botânicas, sendo a mais representativa a família Asteraceae (Compostas), que inclui gêneros como Helichrysum, Gomphrena, Xeranthemum e Syngonanthus.
  • É ainda o nome dado em Portugal ao Limonium sinuatum também conhecido como estátice, statice, lavanda-do-mar ou sempre-viva-azul, por ser esta a cor que ocorre na planta que cresce espontaneamente na sua região de origem (região mediterrânica e médio-oriente). Esta flor é muito cultivada com fins ornamentais, sendo ainda encontrada nas cores vermelha, amarela, branca, azul, rosa, roxa e lilás.
  • Graças a essas características, algumas espécies mais adequadas são utilizadas na elaboração de buquês de flores, decoração, bijuterias e artesanatos dos mais variados, como bolsas e chapéus. Dependendo da espécie, as partes utilizadas podem ser suas flores, caules, folhas ou até a planta inteira.
Sempre-vivas.

Apanhadores de sempre-vivas

  • São comunidades tradicionais que desempenham um papel essencial na conservação da biodiversidade da Serra do Espinhaço, uma das áreas mais ricas em flora endêmica no Brasil.
  • Eles coletam espécies de sempre-vivas (principalmente das famílias Eriocaulaceae e Xyridaceae), utilizadas para artesanato e comércio, de forma sustentável e respeitando os ciclos naturais.
  • A tradição dos Apanhadores de Sempre-Vivas remonta ao século XIX, quando comunidades quilombolas, indígenas e sertanejas começaram a desenvolver essa atividade como forma de subsistência.
  • Durante gerações, essas comunidades criaram um sistema de manejo das flores, garantindo a regeneração das espécies e a manutenção do bioma campos rupestres. Entretanto, a intensificação da exploração comercial e restrições ambientais têm gerado desafios para esses povos, que buscam reconhecimento legal e apoio para continuar suas práticas sustentáveis.
  • Atualmente, os Apanhadores de Sempre-Vivas são reconhecidos como um patrimônio cultural imaterial do Brasil, e sua relação com a Serra do Espinhaço destaca a importância do conhecimento tradicional na conservação da biodiversidade.

A prática de cultivo das flores é repassada de geração a geração. Foto: Codecex.

1) SAT de Apanhadoras(res) de Flores Sempre-Vivas

  • O Sistema Agrícola Tradicional (SAT) de Apanhadoras e Apanhadores de Flores Sempre-Vivas é desenvolvido por comunidades tradicionais que vivem na porção Meridional da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, cujo modo de vida diferenciado está fundado em estruturas produtivas e de manejo que envolvem agricultura, criação de animais e manejo do cerrado.
  • Nesta estrutura que conforma o SAT, a coleta das flores e dos botões de sempre-vivas torna-se central, uma vez que é de grande importância, dentre outros, para a reprodução social e a constituição da identidade coletiva desses grupos.
  • O mecanismo de proteção permitirá a salvaguarda do sistema agrícola, que é compreendido pelo conjunto de saberes e das celebrações, rituais e expressões culturais das comunidades da porção meridional da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais.
  • A decisão, além de ressaltar a importância cultural de práticas transmitidas por gerações, vai beneficiar cerca de 20 comunidades localizadas nos municípios de Diamantina, Couto Magalhães, Olhos D´Água, Presidente Kubitscheck, Buenópolis, Serro e Bocaiúva.
Apanhador de sempre-vivas.

2) Método de coleta tradicional

  • Os Apanhadores e Apanhadoras de Flores Sempre-Vivas utilizam um método de coleta tradicional e sustentável, transmitido por gerações. Esse método é essencial para a conservação das sempre-vivas, equilibrando a economia local com a proteção ambiental. Esse processo respeita os ciclos naturais das plantas e busca garantir sua regeneração.
  • Os grupos de apanhadoras e apanhadores para fazerem a coleta das sempre-vivas ficam em lapas que são pequenas cavernas ou abrigos naturais formados em afloramentos rochosos da Serra do Espinhaço. Historicamente, essas estruturas serviram como moradia temporária e abrigo para os apanhadores durante a colheita das flores. Além disso, as lapas possuem importância arqueológica, pois evidências indicam que populações indígenas e quilombolas já utilizavam esses locais há séculos.
  • O método inclui:
    • Seleção das flores – Apenas espécies maduras e em plena floração são colhidas, evitando retirar plantas jovens ou em processo de crescimento.
    • Coleta manual – As flores são colhidas à mão ou com pequenas ferramentas para minimizar impactos no solo e na vegetação.
    • Respeito ao ciclo natural – Muitas espécies são cortadas sem arrancar a raiz, permitindo a regeneração. Algumas áreas são deixadas em descanso para a recuperação das populações.
    • Secagem e beneficiamento – Após a coleta, as flores são secas ao sol ou à sombra para manter sua coloração e durabilidade antes da comercialização.
    • Rotação de áreas – Os apanhadores alternam os locais de coleta para evitar o esgotamento das plantas e preservar a biodiversidade dos campos rupestres.
Lapas que são as casas de pedra dos apanhadores de sempre-vivas. Foto: Globo Rural.
Famílias chegam a permanecer até seis meses nas “lapas”. Foto: Maria Eugênia Trombini.

3) Parque Nacional das Sempre-Vivas

  • É uma unidade de conservação brasileira e está localizada na Serra do Espinhaço, abrangendo parte dos municípios de Diamantina, Buenópolis, Olhos D’Água e Bocaiúva em Minas Gerais. A sua sede no município de Diamantina. A região abriga mais de 50 comunidades rurais.
  • Ele está inserido no bioma cerrado, cheio de campos rupestres, na porção meridional da Serra do Espinhaço, que divide as bacias dos Rios Jequitinhonha e São Francisco.
  • Ele foi criado através do decreto s/nº de 13 de dezembro de 2002, e possui uma área de 124.555 hectares, sendo administrado pelo ICMBio. O nome do Parque é referência às variadas espécies de “sempre-vivas”, pequenas flores típicas da região.
  • A criação do parque surgiu de uma demanda por parte do poder público local. Existe um conflito entre aqueles que desejavam a preservação ambiental e atividades de caça, pesca, pecuária, fogo para renovação de pastagens e a extração de flores sempre-vivas.
  • Em 2007, o IBAMA, declarou que a coleta descontrolada de sempre-vivas é uma das principais causas do perigo de extinção dessas plantas. As espécies consideradas em extinção tiveram coleta e exportação proibidas.
  • Em 2009, pesquisadores da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) promoveram um encontro para debater a questão da proibição de coleta. A conclusão é que ainda precisavam de mais pesquisas para definir o melhor plano de manejo que atendessem a demanda rural de forma sustentável.
  • Diversas comunidades rurais lutaram pelo direito histórico de uso da área alegando que seu método de coleta também propicia a propagação e preservação das espécies de sempre-vivas.
Serra do Espinhaço, Diamantina, Minas Gerais, Brasil.

4) Patrimônio imaterial

  • O registro de patrimônio imaterial é mais uma conquista que se soma à entrega do selo de Sistema Agrícola Tradicional de Importância Mundial (Sipam), realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO).
  • A cerimônia aconteceu em Roma, no dia 22 de maio de 2023. O sistema agrícola dos apanhadores de sempre-vivas é o único do Brasil a receber esse reconhecimento da FAO/ONU. E a partir de agora a região de Minas Gerais, onde a prática agrícola acontece, está ao lado do corredor Cuzco-Puño, no Peru, e do arquipélago de Chiloé, no Chile, formando a lista dos três únicos da América Latina contemplados com o selo Sipam.
  • Além da coleta das flores, as comunidades realizam outras atividades produtivas que garantem a complementação de renda, segurança econômica e alimentar, como roças, criação de animais e coleta de produtos do agroextrativismo, a exemplo de frutos e plantas medicinais.
  • Outra característica do SAT dos Apanhadores de Flores Sempre-Vivas é a “transumância”, que envolve o deslocamento de grupos familiares da parte baixa da Serra do Espinhaço, onde se concentram as residências, as produções agrícolas e quintais agroflorestais e os espaços de criação, para a parte alta onde são desenvolvidas as atividades de manejo da flora nativa e a pastagem do gado, passando por um período de vivência nas lapas e ranchos das chapadas.
  • Esse deslocamento, feito em diferentes elevações, que vão de 600 a 1.400 metros de altitude, é realizado para o desenvolvimento das distintas atividades produtivas dentro do ciclo anual por toda a extensão dos territórios, o que configura um complexo sistema de conhecimentos dos diferentes ambientes naturais da cordilheira.

“Eu espero que essa força seja uma força para continuar na nossa caminhada e na nossa luta que nós estamos há bastante tempo. Mas nós cremos que essa luta continua, mas nós também continuamos de mãos dadas para que essa luta tenha um fim. É muito prazer que nós temos quando falam que nós representamos e quando falam quem eu sou, a Jovita lá da Mata dos Crioulos que é território dos quilombolas, sou guardiã das sementes, eu gosto muito quando vão me visitar lá no meu cantinho, no meu esconderijo, gosto muito de receber minhas visitas lá e gosto de trocar as ideias, as histórias da comunidade, o que foi, o que é, o que está sendo.”
Jovita Correia, uma das representantes da comunidade de apanhadoras de flores.

Apanhadora de sempre-viva.

Sempre-viva

  • Flores resistentes: As sempre-vivas possuem pétalas coriáceas ou membranosas, que evitam a perda rápida de água e ajudam a preservar sua aparência por longos períodos.
  • Cores variadas: Podem ser brancas, amarelas, rosas, roxas ou até alaranjadas, dependendo da espécie.
  • Adaptação a ambientes secos: Muitas dessas plantas são nativas de campos rupestres e cerrados, onde enfrentam condições adversas de baixa umidade e solos pobres.
  • Uso ornamental: São amplamente utilizadas em arranjos florais secos e artesanato devido à sua durabilidade.
  • Espécies notáveis:
    • Actinocephalus polyanthus – Conhecida como sempre-viva-de-mil-flores é uma espécie de planta sempre-viva da família Eriocaulaceae, de beleza e importância ecológica singular, que ocorre apenas em alguns trechos do litoral e campos de altitude do sudeste e sul do Brasil.
    • Helichrysum italicum – Conhecida como sempre-viva-dourada, é famosa por suas flores amarelas e pelo óleo essencial aromático, utilizado na perfumaria e na medicina.
    • Gomphrena globosa – Também chamada de perpétua-roxa, é cultivada como ornamental e suas flores são usadas em chás medicinais.
    • Syngonanthus elegans – Nativa do Brasil, popularmente chamada de capim-dourado, é valorizada na confecção de biojoias e artesanato sustentável.
    • Syngonanthus nitens – O capim-dourado é uma espécie de sempre-viva da família Eriocaulaceae, ocorre em campos úmidos próximos a veredas em diversas regiões do Cerrado. Na região do Jalapão, localizado no estado do Tocantins, com a palha do qual se faz artesanatos.
    • Xeranthemum annuum – Uma das verdadeiras sempre-vivas europeias, com flores rosadas e roxas que mantêm a cor mesmo depois de secas.
Variedades de sempre-vivas.

Correspondências mágicas

  • Gênero: Feminino
  • Planeta: Vênus
  • Elemento: Terra
  • Tarot: Imperatriz e naipe de ouro.

Usos mágicos

  • Devido a sua capacidade de resistência e por preservar a sua beleza por bastante tempo, ela é uma planta excelente para trabalhar glamour e autoestima.
  • As suas cores também podem ser um fator de potencialização de intenções. As douradas, por exemplo, são ótimas para feitiços de prosperidade.
  • Aspectos solares e férteis como um todo são potencializados.
  • O principal uso é através da planta seca. Ela pode ser colocada em jarros, peças artesanais, guirlandas, buquês e amuletos.
  • Por serem flores colhidas em campinas, ela é uma excelente oferenda a Perséfone, especialmente em rituais de mudanças de estações. Sem falar que o hábito de ir para cavernas é algo bastante ctônico.
  • Outro ponto também é que as sempre-vivas tem uma história com a ancestralidade rural brasileira e podem ser utilizadas em ritos necromantes de honra aos ancestrais de local.
Sempre-vivas de diferentes cores.
Peças de artesanato com capim-dourado.

# As informações aqui não substituem uma consulta médica.

Edição especial de 45 anos do Globo Rural. Apanhadores de Sempre-vivas. Exibido 05/01/2025.

Referências

  1. Giulietti, N., Giulietti, A. M., Pirani, J. R., & Menezes, N. L. D. (1987). Estudos em sempre-vivas: importância econômica do extrativismo em Minas Gerais, Brasil. Acta botanica brasilica1, 179-193.
  2. Giulietti, A. M., Wanderley, M. D. G. L., Longhi-Wagner, H. M., Pirani, J. R., & Parra, L. R. (1996). Estudos em” sempre-vivas”: taxonomia com ênfase nas espécies de Minas Gerais, Brasil. Acta Botanica Brasilica10, 329-377.
  3. Monteiro, F. T. (2011). Os (as) apanhadores (as) de flores e o Parque Nacional das Sempre-Vivas (MG): travessias e contradições ambientais.
  4. Mourão, N. M. (2023). Artesanato, design e sempre-vivas em Diamantina/MG. REVES-Revista Relações Sociais6(3), 17132-01e.
  5. Parque Nacional das Sempre-Vivas. https://pt.wikipedia.org/wiki/Parque_Nacional_das_Sempre-Vivas
  6. Sistema Agrícola Tradicional de Apanhadores(as) de Flores Sempre-Vivas https://www.iepha.mg.gov.br/index.php/programas-e-acoes/patrimonio-cultural-protegido/bens-registrados/details/2/9/bens-registrados-sistema-agr%C3%ADcola-tradicional-de-apanhadoras-e-apanhadores-de-flores-sempre-vivas-em-minas-gerais
  7. Colhedores de flores de MG são reconhecidos como patrimônio agrícola mundial
    https://globorural.globo.com/Noticias/Agricultura/noticia/2020/03/colhedores-de-flores-de-mg-sao-reconhecidos-como-patrimonio-agricola-mundial.html

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