Energia dos elementos

O ar helênico

Introdução

  • A minha intenção é esse texto ser um repositório dos meus estudos sobre o elemento ar na perspectiva helênica. Por isso, será um texto em constante construção. Volte aqui sempre em busca da versão mais atual. Assim como qualquer outro texto deste blog, não pretendo esgotar esse assunto aqui, apenas compartilhar o que já estudei para ajudar vocês.
  • Diferente do que normalmente vemos no neopaganismo onde os elementais estão separados didaticamente por elementos, ao estudar a perspectiva grega, percebemos que os espíritos da natureza estão por toda a parte e muitos deles habitam em locais onde mais de um elemento predomina ao mesmo tempo.
  • Na nossa realidade existem elementos naturais mais complexos que apenas as divisões entre fogo, terra, água e ar. Isso fica claro quando pensamos em ninfas das nuvens, ninfas das estrelas, ninfas da luz, ninfas de vulcões, entre outras, que podem ser compreendidas como elementais de mais de uma categoria.
  • Os textos sobre elementos buscam apenas uma reflexão de onde os elementos estão se manifestando e levam destaque na mitologia grega. Apesar da divisão didática, é importante pensar que pode haver predomínio de um elemento, mas dificilmente estarão isolados. Compreender os elementais gregos é ter contato com a natureza, ultrapassando os limites dessas categorias.

Ar: Construção e Destruição

  • Assim como tudo na natureza, o ar tem seus aspectos construtivos e destrutivos. Por isso, buscamos o equilíbrio dessa força em nós.
  • Ele é um elemento mental e refrescante, a sua ação gera clareza e pensamentos racionais. A sua falta gera confusões e dúvidas.
  • Momentos de construção do ar:
    • Trocas gasosas: respiração e transpiração;
    • Fenômenos celestes: chuva, raios, estrelas;
    • Dispersão de sementes.
  • Momentos de destruição do ar:
    • Tufão, ciclones, tornados;
    • Doenças pulmonares;
    • Asfixia.
Céu.

Manifestações do ar

  • O ar provavelmente é o elemento mais relacionado aos demais. A fogueira é um símbolo do fogo, mas o seu aroma é domínio do elemento ar. A água em estado gasoso tem suas relações com o ar. A terra e seus produtos quando queimados ou decompostos geram aromas. Sem oxigênio, morremos rapidamente.

I) Deuses celestiais

  • A atmosfera (do grego antigo: ἀτμός, vapor, ar, e σφαῖρα, esfera) é a camada gasosa que envolve o planeta Terra.
  • O céu ou a abóbada celeste é justamente o que vemos acima do horizonte, incluindo a atmosfera e tudo além dela.
  • O que chamamos de céu também é conhecido na ciência como atmosfera, que é a . Ela é formada por diferentes camadas:
    • Troposfera – É a camada de ar que está em contato com a crosta terrestre. Estamos em contato direto com ela. Ela possui cerca de 17 km de espessura, e é onde tem maior parcela de vapor de água. É nessa faixa que circulam os aviões.
    • Estratosfera – É a segunda camada, logo após a troposfera. Ela está localizada entre 17 e 50 km acima da superfície terrestre e é nela que está localizada a camada de ozônio, fundamental para filtração dos raios solares. Nesta camada a temperatura já aumenta.
    • Mesosfera – É a terceira camada, após a estratosfera. Ela está localizada entre 50 e 80 km acima da superfície terrestre. Nesta camada os meteoritos já entram em combustão. É a camada mais fria e pode atingir -90°C.
    • Termosfera ou Ionosfera – É a quarta camada, após a mesosfera. Ela está localizada entre 80 e 600 acima da superfície terrestre. O ar é extremamente rarefeito, possui predomínio de gás hidrogênio e pode atingir 1500°C. É a camada onde ocorre a aurora boreal e a circulação dos ônibus espaciais.
    • Exosfera – É a última camada, responsável pela transição entre a termosfera e o espaço sideral. Ela inicia a partir dos 600 km de altitude. Nessa camada já se tem perda do efeito da gravidade terrestre. É onde circulam as naves espaciais e estão expostas a temperaturas cima de 1000°C.
Camadas da atmosfera.
  • Assim como vimos que a terra tem uma forte relação com os deuses ctônicos, o elemento ar tem forte relação com os deuses celestiais. Não deixe de notar que falar de céu implica em uma dualidade do céu diurno que é dominado por deuses urânios e olimpianos e o céu noturno que é domínio de deuses ctônicos.
  • Deuses olimpianos: Afrodite, Apolo, Ares, Ártemis, Atena, Deméter, Dioniso, Hefesto, Hera, Hermes, Poseidon e Zeus.
  • Deuses do céu diurno: Uranos, Cronos, Zeus, Hélio, Apolo, Asclépio, Hera, Eos, Íris, Hemera;
  • Deuses do céu noturno: Uranos, Cronos, Nyx, Érebos, Astéria, Selene, Hécate, Eosphorus, Hesperus ;
  • Daemones celestes: Anemoi, Anemoi Thuellai e Harpias.
  • Ninfas: Astérias (estrelas no geral), Híades (estrelas da navegação), Hespérides (pôr-do-sol), Asteriai (estrelas), Plêiades (chuva), Nephelai ou Néfeles (nuvens de chuva), Aurai (brisas frescas) e Boréades (ventos).
Alcmena está sentada sobre uma pira de troncos emoldurada pelo arco de um arco-íris. Duas Nephelae (Ninfas das Nuvens) segurando jarros de água apagam o fogo com chuva. Amphitryon fica de lado com a espada desembainhada enquanto um atendente aplica marcas em chamas. Zeus e Hera, sentados entre as nuvens, testemunham a cena. De acordo com o mito, Anfitrião colocou sua esposa na pira para testar a veracidade de sua afirmação de que Zeus havia roubado sua virgindade disfarçado de seu novo marido. O deus apagou as chamas, salvando sua vida e confirmando suas afirmações. Museu Britânico de Londres (cerca de 360 – 320 AEC).
  • O ciclo do dia começa com Hélio trazendo o sol, Eos (ou Aurora) de dedos rosados trazendo a luz do amanhecer; Hemera traz a luz forte do dia, as Hespérides trazem o entardecer, Nix traz a noite, enfeitando o céu com a lua de Selene, estrelas de Astéria e o Érebo traz a escuridão.
  • Sendo o sol uma estrela que brilha durante o dia, as ninfas e deuses associados a estrelas seriam a sua oposição no céu noturno. Trazendo esses aspectos luminosos e oraculares.
  • Eosphorus (do grego Εωσφορος, do romano Lúcifer, Portador da Alvorada) e Hesperus (do grego Ἑσπερος, Crepúsculo, Noite) eram os deuses da estrela Vênus. Os dois deuses estelares foram posteriormente combinados.
  • Ninfas das estrelas – Astérias (estrelas no geral), Híades (estrelas da navegação), Hespérides (pôr-do-sol) e Asteriai (estrelas).
Hemera ou Dia (1881). Artista: William-Adolphe Bouguereau (1825-1905).
  • Os Anemoi são os quatro deuses-vento. Eles foram retratados como deuses alados em forma de homem que viviam junto de uma caverna no Monte Haimos na Trácia, ou como deuses em forma de cavalos.
  • Os primeiros poetas, como Homero e Hesíodo, traçaram uma distinção clara entre os quatro ventos sazonais, relativamente benignos, (Anemoi) e os destrutivos ventos de tempestade (Anemoi Thuellai). Estes últimos, gerados pelo monstro Typhoeus, foram alojados nas cavernas de Aiolos ou guardados pelos Hecatônquiros nas profundezas do Tártaro. Autores posteriores confundiram a distinção entre os dois.
  • Os Anemoi eram:
    • Boreas – Deus de asas roxas do vento norte, forte e imprevisível;
    • Zéfiro – Deus do vento oeste de primavera, suave e agradável;
    • Notos – Deus do vento sul, úmido e tempestuoso do final do verão e início do outono;
    • Eurus – Deus do vento leste do outono.
  • As contrapartes femininas dos Anemoi eram as Aellai Harpyiai (as Harpias) que eram retratadas como mulheres aladas, às vezes com rostos feios ou com a parte inferior do corpo de pássaros.
  • Elas eram espíritos de rajadas de vento repentinas e fortes. Eram conhecidas como os cães de caça de Zeus e eram enviadas para arrebatar pessoas e coisas da terra. Desaparecimentos repentinos e misteriosos eram frequentemente atribuídos às Harpias.
  • Na Teogonia de Hesíodo, as harpias são Procela e Alígera, filhas de Thaumas e Elektra.
  • As Harpias já foram enviadas por Zeus para atormentar o rei Phineus da Trácia como punição por revelar os segredos dos deuses. Sempre que um prato de comida era colocado diante dele, as Harpias desciam e o arrebatavam, sujando quaisquer restos deixados para trás. Quando os Argonautas vieram visitá-los, os Boreades alados os perseguiram e perseguiram as Harpias até as Ilhas Strophades, onde a deusa Íris ordenou que voltassem e deixassem os espíritos da tempestade ilesos.
  • Em união com Zéfiro, geraram Xanthos e Balius, os cavalos velozes e imortais.
Uma harpia na História dos Monstros de Ulisse Aldrovandi, Bolonha, 1642.
  • Os deuses relacionados com as mudanças climáticas e as estações, se relacionam com a terra assim como se relacionam com o ar devido aos fenômenos atmosféricos de chuva.
  • Como foi dito, existe uma conexão com muitos deuses e titãs vivendo em locais altos, próximo aos céus. Entre eles estão:
    • Monte Olimpo (em grego: Όλυμπος; romanizado: Ólympos, ou όρος Όλυμπος, transliterado Óros Ólympos) é a mais alta montanha da Grécia, com 2917,727 metros de altitude. Mitologicamente é considerado o lar dos deuses olimpianos.
    • Monte Ótris (em grego: Όρος Όθρυς, transliterado Óros Óthrys) é uma montanha na Grécia Central, localizado na parte nordeste da Ftiótida, no sul da Magnésia. O topo da montanha situa-se a 1728 metros de altitude, na fronteira regional. Mitologicamente é considerado o lar dos titãs.
    • Monte Hélicon ou Helicão (em grego antigo: Ἑλικών ou Ηλικών, transliterado Helikồn, literalmente “[monte] tortuoso”, de ηλιξ, hélix, “espiral”; em grego moderno: Ελικώνας, Elikónas) é uma montanha na região de Téspias, na Beócia, Grécia, celebrada na mitologia grega. Com uma altitude de 1749 metros acima do nível do mar, localiza-se próximo ao Golfo de Corinto. Mitologicamente é considerado lar de Apolo e das musas, e possui associações com Atena, Poseidon
    • Monte Elbrus ou Cáucaso possui 5.462 metros de altitude, no sul da Rússia, perto da fronteira com a Geórgia. É o ponto mais alto do Cáucaso e da Europa. Possui um segundo pico, com 5.595 m. A região do Cáucaso situa-se na fronteira da Ásia com a Europa. Mitologicamente é onde Prometeu foi preso e amarrado a uma estaca para uma uma águia foi ordenada para se alimentar de seu fígado sempre regenerado.
    • Monte Parnaso ou Parnasso (em grego: ΄Ορος Παρνασσός, transliterado Óros Parnassós) é uma montanha de calcário situada no centro da Grécia, cujo cume está a 2457 metros de altitude, sobre a antiga cidade de Delfos (Δελφοί), a norte do golfo de Corinto. É um dos parques nacionais da Grécia. Mitologia grega, era uma das residências do deus Apolo e de suas nove musas.
    • Monte Ida, também chamado IdhaÍdhiIdi e atualmente conhecido por Psilorítis  (em grego:  Ψηλωρείτης), é a mais alta montanha da ilha de Creta, na Grécia. O seu cume, com altitude de 2454 metros, é chamado Timios Stavros. Mitologicamente é o local onde a titânide Rhéia deu a luz a Zeus.
    • Monte Nisa já foi situado pelos mitógrafos em diferentes locais como Etiópia por Heródoto, Arábia por Antímaco, mas também já foi associado a Líbia, Frígia, Índia, Beócia, Naxos e Eubea. Mitologicamente é o local onde Dioniso foi cuidado por ninfas e onde ele criou o vinho.

II) Trocas gasosas

  • De maneira geral, a principal forma de conexão com o ar é através das trocas gasosas entre o corpo e o meio. Existem diferentes formas de realizar trocas gasosas. A minha intenção é só apresentar alguns processos de maneira breve para vocês terem a consciência de suas existências.
  • Respiração celular é o processo de produção de energia de muitos organismos no interior de suas células. Para isso, dentro do cloroplasto das células vegetais, ocorre o processo de fotossíntese que capta energia solar e gás carbônico da atmosfera para produção de glicose. Essa glicose é quebrada com uso de gás oxigênio e então a energia é produzida nas membranas da mitocôndria. As plantas possuem cloroplastos e mitocôndrias em suas células, já os animais possuem apenas a mitocôndria e obtém a glicose a partir da alimentação.
Respiração celular nas plantas.
  • Os tipos de respiração nos animais são diretamente relacionados ao local onde ele vive:
    • Difusão simples – Trocas gasosas ocorrem por diferença de concentração, onde os gases vão de um local com maior concentração para um local de menor concentração. Ex.: Animais aquáticos como esponjas e corais;
    • Respiração branquial – Trocas gasosas ocorrem através de brânquias. Ex.: Animais aquáticos como axolote e peixes;
    • Respiração cutânea – Trocas gasosas ocorrem através da pele. Ex.: Anfíbios;
    • Respiração traqueal – Trocas gasosas ocorrem através de traquéias. Ex.: Animais terrestres como os insetos;
    • Respiração filotraqueal – Trocas gasosas ocorrem através de pulmões foliáceos ou filotraqueias. Ex.: Animais terrestres como os aracnídeos;
    • Respiração pulmonar – Trocas gasosas ocorrem através de pulmões. Ex.: Animais terrestres como os mamíferos.
Tipos de respiração.
  • Os seres humanos, assim como os demais mamíferos, realizam respiração celular e obtém glicose a partir da alimentação. A sua respiração acontece através dos pulmões. A entrada de gases no pulmão ocorre pelo movimento inspiração e a saída dos gases pelo movimento de expiração.
Movimentos respiratórios.
  • Ao chegar nos pulmões, que é formado por vários vasos sanguíneos (artérias e veias) e os alvéolos. onde o oxigênio é levado ao sangue que encaminha para os tecidos fazerem a respiração celular
Troca gasosa pulmonar.
  • A transpiração também é um processo que ocorre em animais e plantas para controle de temperatura onde se perde água pela superfície corporal em forma de vapor em resposta ao aumento da temperatura no ambiente ou no interior do corpo. É mais um processo biológico onde temos a união do controle do fogo através da água e do ar.
Transpiração em plantas.
Formação do suor. Ilustração: Sattu. Consultoria: Luiz Iria

III) Holocausto

  • O termo holocausto (em grego: ὁλόκαυστος, holókaustos: ὅλος, “todo” e καυστον, “queimado”) tem foco no contexto religioso da queima de oferendas para diferentes divindades na Grécia Antiga.
  • Os gregos antigos sacrificavam diferentes elementos além de animais como frutas, vegetais, grãos, flores, queijo, bolos e pães, e diferentes tipos de libações, como vinho, água, leite, óleo, mel e sangue. O sacrifício de animais seria, via de regra, acompanhado de oferendas não sangrentas e de libações. O animal escolhido para ser queimado poderia ter relação com o mito da divindade ou ser tradicionalmente ligado a divindade.
  • O animal sacrificado poderia ser inteiramente queimado ou ter uma porção queimada e outra porção compartilhada em um banquete para os participantes da cerimônia, dependendo da situação e do deus honrado.
  • Como já foi dito, toda oferenda era feita com primeira oferta a Héstia.
  • Perceba que o holocausto tem uma forte ligação com o fogo, mas também pelo ar que é o veículo que leva a oferenda aos deuses.

IV) Perfumes

  • Os aromas tem papel importante na Grécia Antiga. Inicialmente eram reservados para pessoas da elite e sacerdotes, no entanto, no período clássico e helenístico já era popularizado, apesar de continuar havendo perfumes mais raros e outros mais baratos dependendo da raridade de seus ingredientes e complexidade de preparação.
  • Os perfumes eram usados principalmente por mulheres, mas também poderiam ser usados por atletas durante seus treinos e sobre a cabeça de homens em simpósios alegando que evitaria a embriaguez.
  • Além disso, os perfumes eram utilizados em cerimônias sagradas, untando as estátuas de deuses ou em bebidas e comida. Eles também eram presentes comuns para noivas em casamentos.
  • Os perfumes também eram associados a sedução tendo relação com deusas como Hera, Perséfone, Deméter e Afrodite.
Vídeo: Assassin’s Creed Odisséia e a produção de perfumes na Grécia Antiga.

V) Oráculos

  • O aspirar de vapores para alterar a consciência para geração de mensagens proféticas e oraculares era uma prática comum na Grécia Antiga.
  • Um ponto de vista comum a seu respeito do oráculo de Delfos era que a pítia apresentava seus oráculos durante um estado alterado de consciência causado por vapores que subiam de uma fenda no rochedo sobre o qual o templo havia sido construído, e que ela falava coisas aparentemente sem sentido que eram consideradas pelos sacerdotes do templo como enigmáticas profecias, preservadas na literatura grega.
  • Alguns pesquisadores sugeriram a possibilidade de que o gás etileno causasse o estado de “inspiração” da pítia. Outros argumentaram que o gás expelido poderia ser o metano, ou gás carbônico e sulfeto de hidrogênio, e que a fenda em si seria resultado de uma ruptura sísmica no solo.
Sacerdotisa de Delfos (1891). Artista: John Collier, mostrando a Pítia sentada em um tripé com vapor subindo de uma fenda na terra abaixo dela.
  • A observação do céu também tem forte ligação oracular entre os gregos antigos. Entre os oráculos estão:
    • Aeromancia era a advinhação por meio de fenômenos atmosféricos. Ela possui subtipos como:
      • Austromancia (divinação através do vento);
      • Ceraunoscopia (observação de trovões e relâmpagos);
      • Caomancia (visão aérea);
      • Meteormancia (divinação através de meteoros e estrelas cadentes);
      • Nefomancia (divinação através das nuvens).
    • Astrologia que era a observação dos movimentos de corpos celestes como planetas, estrelas e asteroides para fazer associações de comportamento e acontecimentos.
    • Ornitomancia que era a observação do voo dos pássaros, neste oráculo a cor do pássaro, assim como a espécie de pássaro, quantidade, altura, tipo de voo e direção eram avaliados na interpretação.

VI) Entradas do submundo

  • Locais que exalavam um cheiro desagradável como enxofre ou cheiros que se inalados por muito tempo levavam a morte, assim como fontes termais eram associados ao submundo. Assim como cheiros de matéria em decomposição eram associados a morte e ao submundo. Novamente, associando o ar e o fogo.
  • O Ploutonion de Hierápolis, na Turquia, foi descrito por vários escritores antigos, incluindo Estrabão, Cassius Dio e Damascius. É uma pequena caverna, grande o suficiente para uma pessoa entrar por uma entrada cercada, além da qual descem escadas e de onde emerge o gás carbônico sufocante causado pela atividade geológica subterrânea. Atrás da câmara coberta de 3 m² há uma fenda profunda na rocha, através da qual passa água quente que flui rapidamente, liberando um gás de cheiro forte. Como o gás era letal, pensou-se que o gás foi enviado por Plutão, deus do submundo.
  • Termópilas ou Thermopylae (do grego antigo e katharevousa Θερμοπύλαι romanizado Thermopylai, “portões quentes”) é o local onde ocorreu a Batalha das Termópilas (480 AEC), na Grécia onde existia uma passagem costeira estreita. Seu nome deriva de suas fontes termais de enxofre. Na mitologia grega, os Portões Quentes são uma das entradas para o Hades.

Ar: Elemento fundamental

  • Os primeiros filósofos, que ficaram conhecidos como filósofos pré-socráticos. Esses pensadores, buscavam explicar a natureza (physis) através da razão (logos), isto é, sem recorrer aos seres sobrenaturais, como deuses, titãs ou monstros mitológicos. Sua grande tarefa era encontrar, na natureza, o elemento primordial (arché), que teria dado origem a tudo que existe.
  • Anaxímenes de Mileto (do grego: Άναξιμένης), 588–524 AEC, foi um filósofo pré-socrático do Período Arcaico, ativo na segunda metade do século VI AEC. 
  • Anaxímenes, tal como outros na sua escola de pensamento, praticou o materialismo monista. Esta tendência para identificar uma específica realidade composta de um elemento material constitui o âmago das contribuições que deu fama a Anaxímenes.
  • Escreveu a obra “Sobre a natureza”, em prosa. Dedicou-se especialmente à meteorologia. Foi o primeiro a afirmar que a luz da Lua é proveniente do Sol.
Anaxímenes de Mileto.
  • Enquanto que os seus predecessores, Tales de Mileto e Anaximandro, propuseram que o arqué ou arkhé (princípio da vida), a substância primária, era a água e o ápeiron respectivamente, Anaxímenes afirmava ser o ar a sua substância primária, a partir da qual todas as outras coisas eram feitas.
  • Enquanto a escolha de ar possa parecer arbitrária, ele baseou as suas conclusões em fenômenos observáveis na natureza, como a ficção e a condensação. Quando o ar condensa, torna-se visível, como o nevoeiro e depois ar puro e outras formas de precipitação, e enquanto o ar arrefece, Anaxímenes supunha que se formaria terra e posteriormente pedra. Em contraste, a água evapora em ar, que posteriormente por ignição produz chamas quando mais rarefeito. 
  • Enquanto outros filósofos também reconheciam tais transições em estados da matéria, Anaxímenes foi o primeiro a associar os pares de qualidades quente/seco e frio/molhado com a densidade de um único material e a adicionar uma dimensão quantitativa ao sistema monista milésio.

“Anaxímenes de Mileto, filho de Eurístrates, companheiro de Anaximandro, afirma também que uma só é a natureza subjacente, e diz, como aquele, que é ilimitada, não porém indefinida, como aquele (diz), mas definida, dizendo que ela é ar. Diferencia-se nas substâncias, por rarefação e condensação. Rarefazendo-se, torna-se fogo; condensando-se, vento, depois, nuvem, e ainda mais, água, depois terra, depois pedras, e as demais coisas provêm destas. Também ele faz eterno o movimento pelo qual se dá a transformação.”

Simplício em seu livro Física.
  • Os temas desenvolvidos por eles estavam centrados na natureza. O intuito era desvendar os mistérios da existência, classificando um elemento como gerador do cosmo e da vida. Essa postura foi chamada de “materialismo monista”.
  • Para Tales de Mileto, o elemento essencial era a água (arché). Já para Anaximandro, mestre de Anaxímenes, a massa geradora de todos os seres era representada pela união dos quatro elementos (terra, fogo, ar e água) denominado de ápeiron. Já para Anaxímenes, o elemento primordial era o ar, o princípio de todas as coisas.
  • Anaxímenes foi discípulo de Anaximandro, no entanto, não concordava com seu mestre sobre o conceito do ápeiron, e nem com Tales e seu conceito de arché. Sua opinião era que o primeiro era muito abstrato (ápeiron), e o segundo muito palpável (água, o arché).
  • Para Anaxímenes, a substância primordial não poderia ser algo fora da observação e da realidade sensível. Segundo ele, todas as coisas existentes são resultado da condensação ou da rarefação do ar.
  • A maior parte de suas obras se perderam com o tempo, sendo a mais destacada Sobre a Natureza, a qual é possível encontrar alguns fragmentos. Em sua teoria cosmológica, defendeu que a Terra é plana e estaria flutuando no ar. Já a lua, para ele, refletia a luz do sol e os eclipses representavam uma obstrução planetária por outro corpo celeste.
  • Abaixo algumas frases que ilustram o pensamento do filósofo grego:
    • “Todas as coisas se originam devido ao grau de descondensação ou rarefação do ar, a mesma causa também do frio e do calor.”;
    • “A variação quantitativa de tensão da realidade originária dá origem a todas as coisas.”;
    • “A razão precisa da experiência; mas esta nada vale sem a razão.”.
Estados físicos da água entre sólido, líquido e gasoso.

Bruxaria e o ar

  • Existem alguns símbolos clássicos do ar na bruxaria que podem ser usados em rituais ou em feitiços como: incensos, óleos aromáticos, perfumes, incensários, defumadores, athame, boline, etc.
  • O uso de poções como perfumes e óleos aromáticos, assim como defumações de ervas ou incensos são formas de trabalhar com o ar, mas associado a outros elementos em simultâneo como água (vapor), terra (erva) e fogo (queima). Você pode ter o enfoque no ar, mas também pode associar os elementos de acordo com a sua intenção.
  • Aprender aromaterapia, perfumaria e herbalismo são ótimas formas de se conectar com a terra e o ar.
  • Abrir a janela de casa, realizar respirações profundas, sentir a brisa e o vento, observar as nuvens e estrelas, o nascer e o pôr-do-sol, fazer meditação e buscar o equilíbrio entre racionalidade e emoção são formas de se conectar com o ar.
Sentir a brisa.
  • O trabalho com magia de cozinha é excelente para entrar em contato com todos os elementos, inclusive o ar. O preparo de poções ou receitas pode ter um enfoque nos aromas gerados e nas ervas aromáticas utilizadas.
  • Na ritualística normalmente o ar pode ser utilizado para fazer o círculo mágico utilizando o athame para demarcar os limites ou uma vareta de incenso. Você também tem o ar na queima de oferendas. O uso de instrumentos cortantes como um todo são ótimos para se conectar com o ar, inclusive em banimentos e preparos mágicos.
  • Trabalhos com a dualidade consciência-inconsciência são favorecidos pelo elemento ar.
  • No tarot, você pode trabalhar com a energia do ar através do naipe de espadas e também arcanos ligados a questões mentais (Mago, Carro e Imperador) e sonhos (Estrelas).
Boline.

Perséfone e o ar

  • A deusa Perséfone é deusa dos perfumes e ervas aromáticas. No Hino Homérico II a Deméter, a deusa Perséfone antes de ser raptada estava cercada por flores comumente utilizada em perfumes, mostrando a sua face sedutora. Você pode trabalhar os seus aspectos sedutores com auxílio de Perséfone.
  • Perséfone tem forte ligação com ninfas dríades relacionadas a flores, abelhas e ervas aromáticas. Você pode pedir seu auxílio ao trabalhar com perfumaria ou herbalismo. O ato de colher ervas, assim como cheirar seus perfumes podem ser atos devocionais a Perséfone.
  • O aspecto espiritual do elemento ar, por não ser palpável, também pode ser trabalhado com aromas e incenso em práticas de aumento de intuição e conexão com o mundo espiritual ou através da necromancia.
  • Perséfone juntamente com o elemento ar podem te ajudar a trazer para consciência aspectos das sombras e também em processos de curas psicológicas. Inclusive Perséfone, junto de Hades, é soberana sobre todos os deuses e espíritos que possuem domínios na inconsciência, podendo ser trabalhado oniromancia e ervas narcóticas com ela também.

“Brincávamos e flores amáveis colhíamos com as mãos,
misturadas, gentis crocos, violetas, írises e jacintos,
e também botões de rosa e lírios, maravilhas de se ver,
e o grande narciso saído da terra qual croco.
Eu o colhia alegremente e a terra por baixo
se abriu e dela saiu o poderoso rei que muitos recebe.”

Hino Homérico II a Deméter.
Rassemblez les boutons de rose pendant que vous pouvez.
Artista: John William Waterhouse (1909)
  • Perceba que Perséfone também tem regência nos outros elementos por meio de outras faces e epítetos. O mesmo vale para outras divindades. O devoto que se aprofunda nos mistérios da divindade consegue ver nuances e complexidades que tornam muito rica as práticas de conexão.
  • Você pode trabalhar com Perséfone e o ar com os epítetos celestes, luminosos e ligado a flores:
    • Anthesphoria (grego Ἀνθεσφόρια, ΑΝΘΕΣΦΟΡΙΑ. etimologia Ἄνθη “flores, flores”, florescente) Derivado de seu festival dela na Sicília de mesmo nome em homenagem ao seu sequestro ao colher flores.
    • Euphenges (grego εὐφεγγής, ΕΥΦΕΓΓΗΣ, brilhante).  Hino Órfico 29.11;
    • Koura ou Coura ou Core; Gr. κούρα, ΚΟΥΡΑ; uma forma de κόρη. donzela ou filha);
    • Lucífera (portadora da luz);
    • Melissa (abelha);
    • Melitôdês (doce como mel);
    • Thesmophoros (a que traz a luz). Hino Homérico 2 a Deméter, 2 e 77; Epinício 5 de Baquílides, 59;
Papoulas de Perséfone.

Referências

  1. Anemoi. Disponível em <https://www.theoi.com/Titan/Anemoi.html> Acessado em 28/08/2023.
  2. Harpyiai. Disponível em <https://www.theoi.com/Pontios/Harpyiai.html> Acessado em 28/08/2023.
  3. As camadas da atmosfera terrestre. Disponível em <https://infoenem.com.br/estudando-as-camadas-da-atmosfera-terrestre/> Acessado em 28/08/2023.
  4. Onitomancia. Disponível em <https://www.helenos.com.br/post/ornitomancia> Acessado em 28/08/2023.

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