Filosofia grega

Filosofia grega

Introdução

  • A filosofia grega é um conjunto de reflexões e sistemas de pensamento desenvolvidos na Grécia Antiga, que se tornou a base do pensamento filosófico ocidental. Surgiu por volta do século VI AEC, inicialmente na Jônia, com pensadores que buscavam explicações racionais para o mundo e para a existência, rompendo com as explicações mitológicas predominantes.
  • A filosofia grega é caracterizada pelo uso do raciocínio lógico, da observação e do debate para abordar questões fundamentais sobre a realidade, a ética, o conhecimento, a política e a natureza. Seu impacto é duradouro, moldando disciplinas como ciência, política, teologia e ética.

Nascimento da filosofia grega

  • O nosso estudo começa compreendendo como surgiu a filosofia. As origens da filosofia remontam ao século VII AEC, nascida na Grécia Antiga, ela surge como um contraponto ao pensamento mitológico vigente e transmissão de conhecimentos de forma oral.
  • O termo filosofia, atribuído a Pitágoras, deriva da junção de duas palavras gregas philo (“amizade”, “amor”) e sophia (“sabedoria”). O filósofo seria, portanto, um “amigo da sabedoria”.
  • Mito, do grego mýthos, é uma narrativa de origem, isto é, um relato que busca explicar, geralmente recorrendo ao sobrenatural, a origem dos fenômenos naturais e das coisas que nos cercam. Essas narrativas eram construídas coletivamente e, portanto, não tinham uma autoria definida. Uma vez que, na antiguidade, pouquíssimas pessoas tinham acesso à leitura e à escrita, as narrativas míticas eram difundidas, principalmente, por meio da oralidade. 
  • Embora associemos imediatamente a mitologia à religião dos povos antigos, num contexto mais amplo, o pensamento mitológico vai muito além da nossa concepção atual de religião. Os mitos estavam na base da educação do povo grego, sobretudo aqueles narrados por poetas-rapsodos como Homero e Hesíodo. Através deles eram transmitidos os costumes, os conhecimentos, a cultura e os valores populares. Cada narrativa, permeada por esses elementos, contribuía para a formação moral e intelectual do indivíduo.
  • Em um dado momento, as explicações mitológicas se tornaram insuficientes e o homem sentiu a necessidade de buscar respostas mais racionais para as questões que o afligiam, surgindo então a narrativa lógica. Diversas transformações no âmbito da cultura grega contribuíram para o surgimento do pensamento filosófico, tais como:
    • A redescoberta da escrita;
    • O surgimento da moeda;
    • A formulação da lei escrita;
    • A consolidação da democracia;
    • A escravidão, onde gerava ócio para quem não fosse escravo.
Escola de Atenas (1509–1511) retrata diversos filósofos do período grego. Ao centro: Platão e Aristóteles. Afresco pintado por Rafael no Palácio Apostólico no Vaticano.

Escolas filosóficas gregas

  • Algumas das escolas filosóficas gregas pareciam com escolas mesmo: professores, currículo e normas disciplinares. Algumas escolas possuíam um local regular de ensino, como o bosque da Academia de Platão, o jardim Liceu de Aristóteles, o pórtico (stoá) dos estoicos. No período helenista surgiram bibliotecas e locais de discussão e instrução das escolas.
  • Por muito tempo pensava-se que as escolas filosóficas eram quase cultos, instituições religiosas formais em busca da sabedoria das musas. Mas a coisa é mais complicada. A interação com cultos iniciáticos e envolvimento na vida cívica (que incluía também a religião) fazia das escolas filosóficas algo como seitas. Não é de se admirar que o hermetismo e o gnosticismo situavam-se entre religiões e escolas filosóficas. No entanto, não eram associações cúlticas. Apesar disso, a lendária separação do mito e do logos que supostamente a filosofia grega fez é isso mesmo: uma lenda.
  • Uma escola normalmente começava como um agrupamento informal de discípulos ao redor de um filósofo. Nesses estágios iniciais, as fronteiras de identidade e crenças eram porosas, especialmente na filosofia pré-socrática e na primeira geração após Sócrates. Era normal discordar sobre questões centrais. Mais tarde, a lealdade ao grupo passou a ser cobrada e a reinterpretação dos ensinos dos mestres era mais importante que inovar nas discussões. Nem sempre os filósofos conseguiam formar escolas.
Principais filósofos da Grécia Antiga.

Período pré-socrático (séculos VI – IV AEC)

  • É a filosofia em sua primeira fase, incluindo filósofos que antecederam Sócrates. Os filósofos pré-socráticos tinham como foco a cosmologia, na metafísica e na explicação racional da natureza.
  • Eles também eram chamados de filósofos da natureza (physis). Os temas centrais são a origem e constituição do cosmos, unidade e mudança, elementos fundamentais da realidade.
  • Principais escolas pré-socráticas:
    • Escola jônica (milésios): discutiam a natureza do cosmo. Expoentes: Tales de Mileto, Anaximandro, Anaxímenes de Mileto.
    • Escola jônica (efésios): consideravam o cosmo em fluxo e dinâmico. Expoentes: Heráclito, Crátilo.
    • Atomistas: tudo que existe é composto do rearranjo de partículas ínfimas. Também na região da Jônia, mas com outras perspectivas. Expoente: Demócrito.
    • Pitagóricos: proporção em tudo (matemática e música). Expoentes: Pitágoras, Ptolemaida de Cirene.
    • Eleáticos: dúvida dos sentidos (epistemologia) e concepção permanente e monista do cosmo. Expoente: Parmênides.
    • Pluralistas: reavaliação das questões cosmológicas dos jônios informado pelas críticas dos eleáticos. Expoentes: Anaxágoras, Empêndocles.
    • Sofistas: o homem é a medida das coisas. A verdade resume a discurso. Professores itinerantes que ensinavam retórica e argumentação prática, muitas vezes criticados por relativizar a verdade. Tinham como temas centrais a retórica, ética prática, relativismo cultural e político. Expoentes: Protágoras, Górgias, Hípias, Crítias, Aspásia.
Tales de Mileto, considerado o primeiro filósofo.

Período clássico, socrático ou antropológico (séculos IV – III AEC)

  • A filosofia começou gradativamente a ter o foco das preocupações com a natureza sendo transformado para o foco no pensamento sobre as atividades humanas (anthropos) e na razão (lógos).
  • Influenciados por Sócrates, focaram na ética, na virtude e no conhecimento como caminhos para uma vida boa. Os filósofos socráticos tinham como temas centrais a busca pela verdade, definição da virtude, relação entre moralidade e racionalidade.
  • Sócrates não deixou escritos, ele utilizava o método dialético (diálogo) para questionar crenças e estimular o pensamento crítico.
  • Principais escolas socráticas:
    • Platônicos e a Academia: Fundada por Platão e seus seguidores. O conhecimento resulta de uma razão ideal. Eles tinha ênfase no dualismo entre o mundo sensível (físico) e o mundo inteligível (ideias). Os temas centrais eram a teoria das ideias, ética, política e epistemologia.
    • Aristotélicos ou peripatéticos: Fundada por Aristóteles, aluno de Platão, com abordagem empírica e sistemática sobre diversos campos do conhecimento. Os temas centrais eram a metafísica, lógica, ética, política, ciência e teoria das causas.
    • Outros socráticos: Xenofonte (pensamento político e didática). Fora ele, há Símias de Tebas e Cebes de Tebas, mas cujos pensamentos são praticamente desconhecidos.
    • Cirenaicos: hedonistas, acreditavam que o Bem residia em aproveitar os momentos prazerosos. Expoentes: Aristipo de Cirene (avô e neto).
    • Megários: desenvolveram a lógica. Expoente: Euclides de Megara.
    • Eretrianos: ou escola de Elis. Pouco se conhece dela. Aparentemente buscava compreender o Bem absoluto. Expoentes: Fedo de Elis e Menedemo de Eretria.
    • Cínicos: Valorizava a simplicidade ascética na vida e o desprezo pelos valores convencionais, liderado por Diógenes de Sinope. Expoentes: Diógenes, Hipárquia.
Estátua de Sócrates na Academia de Atenas.

Período helenística (século III AEC)

  • A filosofia helenística se desenvolve após a morte de Alexandre, o Grande, e o domínio do Império Romano. As cidades gregas deixam de ser a referência e passam a ter um pensamento mais cosmopolita, entendo os gregos como cidadãos do mundo.
  • Com isso, os filósofos desse período passam a ser grandes críticos da filosofia do período clássico. Eles também passam a focar mais na ética individual e na busca pela felicidade.
  • As principais escolas filosóficas helenísticas são:
    • Pirronismo: não dá para acreditar em nada. Suspensão do julgamento. Expoente: Pirro.
    • Céticos: Enfatizava a suspensão do juízo como forma de alcançar a tranquilidade. Valorizavam a dúvida acima do dogma. A Nova Academia dos platônicos questionava o dogmatismo. Expoente: Sexto Empírico.
    • Epicurismo: Fundado por Epicuro, propunha a busca do prazer moderado como chave para a felicidade e a ausência de sofrimento. Nega um propósito cósmico; portanto, o sumo Bem deriva-se de viver em busca do aprazível e de evitar o mal e a dor. Expoentes: Epicuro, Lucrécio.
    • Nova Sofística: renascimento da retórica, oratória e da dialética. Questionamento das certezas dogmáticas. Expoente: Luciano de Samósata.
    • Estoicismo: Fundado por Zenão de Cítio, defendia a aceitação do destino e a vida em harmonia com a razão. Expoentes: Zeno, Sêneca, Marco Aurélio.
    • Médio-platonismo e Neoplatonismo: o primeiro buscava unificar um princípio comum para o universo. Expoentes: Plutarco, judeus (Filo) e cristãos (Justino, Clemente de Alexandria). O segundo virou praticamente uma religião e enxergava uma só realidade mental (nous). Em comum, um raciocínio alegórico. Expoentes: Plotino, Hipátia.
    • Neopitagóricos: combinava matemática e práticas religiosas. Expoente: Apolônio de Tiana.
Busto dos filósofos: Sócrates, Antistenes, Crisipos, Epicuro.

Referências

  1. Hegel, G. W. F. (2023). Introdução à história da filosofia. Leya.
  2. Chauí, M. (2002). Introdução à história da filosofia – Escolas helenísticas. São Paulo: Companhia das Letras1.
  3. As escolas filosóficas gregas. Disponível em <https://ensaiosenotas.com/2022/10/15/as-escolas-filosoficas-gregas/> Acessado em 27/12/2024.
  4. Filosofia grega. Disponível em <https://www.todamateria.com.br/filosofia-grega/> Acessado em 19/01/2025.

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