As aranhas fazem parte do Filo Artrópoda, Subfilo Chelicerata, Classe Arachnida e ordem Araneae (do grego “arachne”, aranha).
De maneira geral, os pertencentes a Classe Arachnida possuem corpo dividido em cefalotóraz (prossomo) e abdômen (opistossomo), possuem 4 pares de pernas e apêndices na parte da frente do corpo especializados em manipular o alimento (pedipalpos).
As aranhas possuem o cefalotórax ligado ao abdômen por uma final cintura, chamada de pedúnculo. Possuem entre cinco e oito olhos simples, um par de quelíceras afiadas para injetar veneno para paralisar a presa. Além disso, na parte final de seus corpos possuem as fiandeiras ou espinaretas que são estruturas por onde saem a teia produzida pelas glândulas sericígena.
Armadeira (gênero Phoneutria) – Podem atingir 17 cm com as pernas estendidas. Seu corpo é cinza ou castanho escuro, com cerdas avermelhadas junto dos ferrões. Vivem próximo de casas, sob cascas de árvores, folhagens e cachos de banana. Quando estão se sentindo ameaçadas assumem uma postura de ataque. A sua picada causa muita dor local e em crianças pode causar choque neurogênico. O tratamento é com anestesia e soro antiaracnídico;
Aranha-marrom (gênero Loxosceles) – Podem atingir até 4 cm com as pernas estendidas. Seu corpo é marrom-amarelado e tem o abdômen em formato de carocho de azeitona. Vivem em telhados, atrás de móveis. Elas não são agressivas e geralmente só picam quando comprimidas contra a roupa. A picada embora seja rara, é grave. Pode causar sensação de queimadura, bolhas e escurecimento do local. Cerca de 14 a 24 horas surgem sintomas de quebra de proteínas e hemáceas: febre, mal-estar, icterícia, necrose e escurecimento da urina, gerando falência renal. O tratamento é com soro antiloxoscélico;
Aranha-de-jardim ou tarântula (gênero Lycosa) – Podem atingir até 5 cm com as pernas estendidas. Seu corpo é acinzentado ou marrom, com cerdas avermelhadas junto dos ferrões. Elas não são agressivas, os acidentes são frequentes e sem gravidade. O tratamento é com curativo local, sem necessidade de soro;
Viúva-negra (gênero Latrodectus) – Os machos podem atingir até 1 cm e fêmeas até 3 cm com as pernas estentidas. Também são chamadas de aranha-ampulheta ou flamenguinha. Vivem em teias sob vegetação rasteira. A picada causa dor intensa e contrações musculares. Os acidentes são raros e com pequena e média gravidade. O tratamento é com anestesia local e soro antilatrodéctico;
Curiosidades sobre as aranhas
As aranhas caranguejeiras (gêneros Theraphosa e Avicularia, entre outros), apesar de seu porte avantajado, que podem atingir até 25 cm com as pernas extendidas, causa poucos acidentes. Em geral, elas provocam uma irritação da pele devido a ação irritante das cerdas que o animal desprende do abdômen, ao se sentir ameaçada.
As teias são proteínas em estado líquido que em contato com o ar se torna uma seda. São os pêlos nas fiandeiras que ajustam a espessura do fio. As teias podem ter as seguintes funções: captura de presas, interceptar o caminho de uma presa, imobilizar a presa sem causar danos físicos, ser um ninho para a cópula, ou o refúgio da aranha. As aranhas podem reciclar partes danificadas de teia, se alimentando delas. As teias são cinco vezes mais resistentes que o aço. A morfologia das teias pode ser indicativo do tipo de aranha que a construiu.
Aracnofobia é o nome dado ao medo de aranhas.
Algumas espécies de aranha realizam o canibalismo sexual, onde o macho é devorado pela fêmea após a cópula.
As fiandeiras do destino
As moiras (em grego: Μοῖραι), na mitologia grega, eram as três irmãs que determinavam o destino, tanto dos deuses, quanto dos seres humanos. Também chamadas de parcas.
Eram três mulheres lúgubres, responsáveis por fabricar, tecer e cortar aquilo que seria o fio da vida de todos os indivíduos. Durante o trabalho, as moiras fazem uso da Roda da Fortuna, que é o tear utilizado para se tecer os fios. As voltas da roda posicionam o fio do indivíduo em sua parte mais privilegiada (o topo) ou em sua parte menos desejável (o fundo), explicando-se assim os períodos de boa ou má sorte de todos. As três deusas decidiam o destino individual dos antigos gregos, e criaram Têmis, Nêmesis e as erínias. Pertenciam à primeira geração divina (os deuses primordiais), e assim como Nix, eram domadoras de deusas e homens.
As moiras eram filhas de Nix a deusa da noite. Moira, no singular, era inicialmente o destino. Na Ilíada, representava uma lei que pairava sobre deuses e homens, pois nem Zeus estava autorizado a transgredi-la sem interferir na harmonia cósmica. Na Odisseia aparecem as fiandeiras.
O mito grego predominou entre os romanos a tal ponto que os nomes das divindades caíram em desuso. Entre eles eram conhecidas por Parcas chamadas Nona, Décima e Morta, que tinham respectivamente as funções de presidir a gestação e o nascimento, o crescimento e desenvolvimento, e o final da vida; a morte; notar entretanto, que essa regência era apenas “sobre os humanos”.
Os poetas da antiguidade descreviam as moiras como donzelas de aspecto sinistro, de grandes dentes e longas unhas. Nas artes plásticas, ao contrário, aparecem representadas como lindas donzelas. As Moiras eram:
Cloto (Κλωθώ; klothó) em grego significa “fiar”, segurava o fuso e tecia o fio da vida. Junto de Ilícia, Ártemis e Hécate, Cloto atuava como deusa dos nascimentos e partos;
Láquesis (Λάχεσις; láchesis) em grego significa “sortear” puxava e enrolava o fio tecido, Láquesis atuava junto com Tique, Pluto, Moros e outros, sorteando o quinhão de atribuições que se ganhava em vida;
Átropos (Ἄτροπος; átropos) em grego significa “afastar”, ela cortava o fio da vida. Átropos, juntamente a Tânatos, Moros e as queres, determinava o fim da vida.
As moiras.
A deusa egipcia Neite (em grego clássico: Νηΐθ; romaniz.: Neith) é a deusa da guerra e da caça, criadora de Deuses e homens, divindade funerária e deusa inventora. Em seu aspecto funerário, é a Deusa protetora dos mortos: quem inventou o tecido (se converte em patrona dos tecedores) que oferece tanto às vendas, quanto o sudário aos mortos. Ela também é considerada a fiandeira do destino, associada a aranhas.
Na mitologia grega, no texto Metamorfoses de Ovídio, Aracne era filha de Idmon de Colophon em Lydia.
Ela era uma tecelã que desafiou a deusa Atena, se achando mais talentosa que a deusa. Em resposta, Atena teceu uma tapeçaria representando os deuses em majestade e Aracne teceu os deuses em aventuras amorosas. Enfurecida pela rival talentosa, Atena rasgou a tapeçaria de Aracne. Aracne desesperada, se enforca. A deusa por piedade, afrouxa a corda, que se tornou sua teia e transforma Aracne em uma aranha.
Em outra versão do mito, após Atena ver que a tapeçaria de Aracne era impecável, a deusa espanca a Aracne e ela se mata em vergonha. Sendo um exemplo de que os mortais não podem se igualar aos deuses.
O mito de Aracne também pode ser visto como uma tentativa de mostrar a relação entre arte e poder tirânico no tempo de Ovídio. Ele escreveu sobre o imperador Augusto e foi exilado por ele. Na época, a tecelagem era uma metáfora comum para a poesia, portanto, a arte de Aracne e a censura de Atena a ela podem oferecer uma alegoria provocativa do papel do escritor sob um regime autocrático.
Minerva e Arachne (1706). Artista: René-Antoine Houasse.
A deusa suméria Uttu era associada a tecelagem, sendo imaginada como uma aranha tecendo uma teia.
De acordo com o mito, os pais de Uttu eram Enki e Ninkurra. Em uma tradição tardia, Ninkurra era uma divindade masculina e o marido de Uttu. Uma variante de Enki e Ninhursag faz a avó de Ninkurra Uttu e Ninimma sua mãe. Enki também é tratado como o pai de Uttu em um encantamento neo-assírio. No entanto, outro texto tardio documenta uma tradição em que seu pai era Anu. Ao contrário das outras deusas, Uttu recebe conselhos de Ninhursag, e provavelmente tenta enganar Enki com uma falsa promessa de casamento sob a condição de que ele lhe forneça produtos frescos. Enquanto ela é inicialmente bem sucedida, Enki consegue obter os pepinos, maçãs e uvas solicitados de um agricultor. Ele se aproxima dela pela segunda vez disfarçado de jardineiro e desta vez Uttu fica grávida. Ninhursag intervém e consegue remover a semente de Enki do corpo de Uttu, o que quebra o ciclo de relacionamentos incestuosos. A cena é mais detalhada que os encontros anteriores entre Enki e suas filhas no mesmo mito. Curiosamente, a narrativa não faz referência à associação de Uttu com a tecelagem.
No mito Enki e a Ordem Mundial, ela é a última das divindades aguardando a atribuição de um domínio. Ela é chamada de “mulher conscienciosa” e “a silenciosa”. Tem sido apontado que tanto em Enki e Ninhursag quanto em Enki and the World Order , a aparição de Uttu marca uma mudança na narrativa: após seu encontro com Enki no antigo mito, o ciclo de tentativas de Enki de seduzir e tomar A vantagem das deusas termina, enquanto nesta última, depois que seu destino é declarado, Inanna e suas queixas por não receber uma parte adequada do universo assumem o centro do palco.
Uma referência a Uttu também é conhecida do poema de debate “The Debate between Grain and Sheep”, que descreve um tempo distante antes de ela começar a tecer, representando simbolicamente a era anterior ao advento da civilização e da tecnologia.
Apanhador de sonhos
Os indígenas Ojibwe e Lakota , assim como outras tribos, associam teias de aranha com seus sonhos. O popular “ Apanhador de Sonhos”, um artesanato feito à mão com uma teia de aranha destina-se a proteger os indivíduos, especialmente as crianças, de pesadelos. A teia no amuleto permite que bons sonhos sejam filtrados, enquanto captura sonhos ruins que logo desaparecem na luz da manhã.
Acredita-se que os apanhadores de sonhos se originaram com Asibaikaashi, que era conhecida como a Mulher Aranha. Ela era a guardiã de todas as crianças e adultos ojíbuas. No entanto, com o tempo, tornou-se uma tarefa difícil para ela cuidar de todo o povo Ojibwe, que começou a se espalhar por diferentes regiões da América do Norte.
Para ajudar, as mulheres Ojibwe começaram a tecer teias mágicas para as crianças. Eles usaram arcos de salgueiro e tendões para tecê-los, e eles os presentearam às crianças ojíbuas como meio de proteção. Esses amuletos pendiam acima das camas das crianças para capturar quaisquer pesadelos ou outros danos que pudessem estar presentes.
Tsuchigumo
Tsuchigumo (土蜘蛛, literalmente traduzido como “aranha de terra/terra”) é um termo depreciativo japonês histórico para clãs locais renegados, e também o nome de uma raça de yōkai semelhantes a aranhas no folclore japonês.
Nomes alternativos para o mitológico Tsuchigumo incluem yatsukahagi (八握脛, aproximadamente “oito pernas agarrando”) e ōgumo (大蜘蛛, “aranha gigante”). No Kojiki e no Nihon Shoki, o nome foi escrito foneticamente com os quatro kanji 都知久母 (para os quatro morae tsu-chi-gu-mo), e essas palavras eram frequentemente usadas no fudoki de Mutsu, Echigo, Hitachi, Settsu, Bungo e Hizen, entre outros.
O nome japonês para grandes tarântulas terrestres, ōtsuchigumo, é devido à sua semelhança percebida com a criatura do mito, em vez de o mito ser nomeado para a aranha. O Japão não tem espécies nativas de tarântula, e as semelhanças entre a criatura mítica e a real – enormes aranhas errantes com um rosto óbvio que gostam de se esconder em tocas – foram mera coincidência. O fato de que as iterações posteriores do mito se referem especificamente ao corpo sendo de um tigre, no entanto, implica que a descrição foi influenciada em algum grau pela aranha-pássaro chinesa, que é comumente referida como o “tigre da terra” em seu habitat nativo por seu corpo peludo, proeminentemente listrado e disposição agressiva.
Aranhas na bruxaria
O comportamento das aranhas podem nos ensinar a ter paciência e seremos caprichosos para alcançar nossos objetivos.
A astúcia e agressividade das aranhas para capturar sua presa também nos ensina sobre esforço e foco para enfrentarmos nossos inimigos.
A aranha mata deu companheiro para poder gerar vida. É uma forma de aprendermos que a morte faz parte do ciclo da vida.
Diferentes aspectos das aranhas que podem ser evocados na bruxaria moderna, entre eles:
Animal de poder;
Familiar;
Associada ao destino e tecelãs;
Protetora na magia onírica;
Confecção de filtros dos sonhos;
Vivem em cavernas e cemitérios, as entradas do submundo;
Referências
Amabis, J. M. & Martho, G. R. Biologia, Volume 2. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2004.