No momento da criação dessa publicação, a comunidade mágica está discutindo muito a representação de Hécate e Pombagira. Uma pessoa umbandista iria consagrar uma estátua de Hécate para um culto de Pombagira porque segundo ela, não teriam muitas opções de estátuas de Pombagira no mercado e Hécate seria uma mulher empoderada com um raio de atuação semelhante a Pombagira.
Essa discussão me fez pensar em como também tenho dificuldades de encontrar estátuas de Perséfone. Pelo menos, quando procuro em lojas religiosas existe uma infinidades de outros deuses sendo melhor representados e com grande variedade de opções.
Será que eu só poderia pegar uma imagem que tivesse escrito embaixo que é Perséfone? A resposta mais simples é depende. Se você sabe que aquela estátua está envolvida com a egrégora de outra religião, não é aconselhável. No entanto, se você teve conexão com essa imagem e ela representa o que você sente da divindade, não tem nada que te impeça de usar. Isso leva a uma discussão que não tem como ser esgotada aqui. Não tem como ninguém determinar como um deus é com toda a certeza e querer impor essa imagem a todos os devotos. Os deuses podem aparecer como um sopro do vento, um animal ou até com uma imagem humanizada, mas isso vai depender de como a divindade quer se apresentar.
Eu também fico pensando em como os seres humanos possuem a necessidade de materializar ou humanizar suas divindades para entrar em contato com as energias transcendentais deles. Na minha opinião, os deuses existem independente de como vemos eles. No entanto, quando a divindade é atrelada a um povo, ela tende a ser representada com traços físicos do povo que a cultuava para gerar maior proximidade e facilitar o contato.
Na minha opinião, um povo predominantemente negro vai ter divindades predominantemente negras porque essa é forma que a divindade entendeu que se aproximaria melhor desse povo e favoreceria as conexões. Imagino que algo semelhante ocorreu com Perséfone, muitas pessoas brancas se conectam com a Perséfone branca, mas isso não quer dizer que ela de fato seja branca ou que sempre vai se apresentar como uma mulher branca. Apenas uma relação íntima com a divindade vai fazer você entender como ela se apresenta para você.
Respeite a forma que os outros também encaram suas próprias divindades. As visões clássicas da divindade não invalidam as visões modernas. Existem muitas imagens modernas que podem favorecer a sua conexão muito mais que as clássicas. O culto é vivo. Ele muda de acordo com o grupo que o pratica.
Respeite a origem da divindade. Colocar a representação de uma mulher branca em uma divindade de um povo negro é racismo religioso e apagamento cultural. Estude, entenda como o povo de onde a sua divindade foi cultuada construiu a imagem dela no imaginário coletivo. Se você construiu uma prática de maneira diferente do que é o clássico, não imponha ela aos demais, deixe claro que é a sua opinião e a sua prática e explique como era classicamente para cada um poder ter a liberdade de escolher o que fazer.
Outro fator importante: A divindade ser negra não impede uma pessoa branca de cultuá-la como negra ou de uma divinade branca ser cultuada por uma pessoa negra. A cor da pele da divindade e devoto não precisam ser iguais! Novamente caíamos em racismo religioso.
Essa publicação é uma compilação de algumas representações que já foram atribuídas a Perséfone, Proserpina ou Koré para vocês entenderem como elas já foram representadas. Lembrando que Koré é um termo muito genérico, que significa “menina” ou “donzela”, então muitas deusas ou mulheres já foram representadas com sob esse nome sem terem haver com Perséfone. Muitas estátuas perderam a cor por conta da deteriorização. Existem representações de diferentes formas, encontradas em diferentes regiões e que encaram Perséfone de formas variadas.
Neste momento, na minha prática, utilizo imagens de mulheres tanto clássicas quanto modernas que possuam elementos que representam Perséfone, sendo negras ou brancas. Eu quero trabalhar com o epíteto Cornígera, eu busco uma imagem de uma mulher com chifres. Quero trabalhar com a face Koré, busco uma imagem de uma mulher cercada de flores. A cor da pele pouco influencia a minha conexão.
Perséfone abre uma caixa contendo um bebê. Pinax de terracota de Lokroi Epizephyrioi, 470-450 AEC. Museo Archeologico Nazionale, Reggio Calabria. Scala/Recurso de Arte.A Fuga Perséfone: Uma das obras-primas e uma característica de Elêusis é a Filha, Perséfone, que escapa do Hades. Ela provavelmente estava segurando tochas nas mãos, saindo do submundo e olhando para ele horrorizada atrás dela… É uma escultura excelente, com uma renderização incrível das dobras do tecido, a perna. Atrás da cabeça há pequenos orifícios onde foi preso um tufo de cabelo de cobre, que foi na direção oposta ao movimento, o cabelo voou enquanto corria e parecia muito impressionante. Perséfone sentada. Cerca de 480-460 AEC. Criador: Jona Lendering. Museu Pergamon, Berlim.
Cabeça de Perséfone. Louça de barro. Sicília, Centuripae, cerca de 420 AEC. Coleção Burrell, Glasgow, Reino Unido.
Koré – Museu da Acrópole, Atenas.Koré com os olhos amendoados (cerca de 500 AEC). Coleção do Museu da Acrópolis.“Peplos Koré” devido a roupa que ela usa (cerca de 530 AEC), descrição completa aqui.A filha de Eutídico (cerca 480 AEC). Museu da Acrópolis com descrição completa aqui.
Koré da Acrópolis.
Antenor Koré.Campânula de terracota (cerca de 440 AEC). Perséfone sendo guiada por Hermes e Hécate para a superfície para encontrar Deméter.
Perséfone está ao lado do senhor entronizado Hades (cerca de 330-310 AEC, Staatliche Antikensammlungen, Munique) ). O deus carrega um cetro real com ponta de pássaro. Ela usa uma coroa e carrega uma tocha de Elêusis flamejante de quatro cabeças.
Perséfone no Parque dos Monstros na cidade de Bomarzo, comuna italiana.
Perséfone de Cirene (século II AEC). É considerada uma das mais raras de todas as estátuas funerárias cirenaicas. Fonte: Mugnai, Niccolò; Nikolaus, Julia; Mattingly, David; Walker, Susan (2017). Libyan Antiquities at Risk: protecting portable cultural heritage. Libyan Studies, 48(), 11–21. doi:10.1017/lis.2017.8
Perséfone. Império Romano Século II EC. Cópia romana de estátua grega; Dimensões: 1,96cm; Material: mármore.
Perséfone; Período Helenístico; Entre século IV a II a.C.; Dimensões: 1m e 51cm; Material: mármore.
“Perséfone-Ísis com a cabeça coberta traz seus símbolos na testa (a lua crescente, o disco solar e a cobra (uraeus). Ela é retratada segurando na mão direita o sistrum, instrumento musical egípcio. … No grupo define as duas divindades, apesar de seus símbolos egípcios, como Plutão e Perséfone, deuses do submundo.” Descoberta no Templo dos Deuses Egípcios em Gortys, Ilha em Creta. Século II EC. Museu Arqueológico de Heraklion. Fonte clique aqui.
Representações na arte moderna
In the garden of Proserpina – Artista: Henry Albert Payne.
“Proserpine”; 1874; Artista: Dante Gabriel Rossetti; Técnica: óleo sobre tela.
“Proserpina and the Sea Nymphs”; Art Nouveau; Artista: Maxfield Frederic Parrish; 1908; Técnica: óleo sobre tela
Proserpine (1885), Chantilly, Musée Condé.
Schlosspark Nymphenburg
Estátua de Armand Toussaint (cerca de 1840). A obra fica no centro de uma piscina em Holcomb Gardens, nos terrenos da Butler University, em Indianápolis, Indiana, Estados Unidos.